Se tivesse que definir O Jogo da Invocação em uma única palavra, ela seria Tédio. Ora, o que não é o tédio se não “um sentimento enfadado resultante de alguma espera”? E que espera. Inacreditavelmente, os 75 min do longa concentraram tantas cenas enfadonhas e tentativas frustradas de susto, que mais pareceram 4h de filme.
Em o Jogo da Invocação, um grupo de adolescentes de Salem descobre uma faca amaldiçoada que libera um demônio, que os força a jogar versões horríveis e mortais de jogos infantis. Claro que não há vencedores, no máximo sobreviventes. Se o enredo parece bobo, é porque é mesmo. Exige muito da sua suspensão da descrença imaginar um demônio que tem por objetivo torturar suas vítimas com jogos infantis. Mas devo reconhecer o esforço de fazer algo minimamente diferente do convencional.
Temos então um demônio sádico, que se daria muito bem sendo um dos financiadores dos jogos daquela série coreana, onde os personagens enfrentam jogos infantis para ganhar bilhões, mas se perderem são executados. E, apesar de bobo, poderia ser surpreendente nas mãos certas. Afinal, já levamos “a sério” coisas bem mais estapafúrdias, como um fantasma que te liga depois que você assiste uma fita VHS.
Nem sempre menos é mais
Com uma construção de personagem nula, você apenas segue o desenrolar dos acontecimentos, sem se importar com ninguém. Sim, é difícil conseguir construir qualquer centelha de profundidade em 75 minutos, e creio que esse seja o maior erro do filme. Ele te apresenta diversos personagens com o único propósito de ter mais gente para matar no filme, mas narrativamente, nenhum deles faz muita diferença.
Asa Butterfield está irreconhecível como Marcus, e não de uma forma muito positiva. Conhecido, principalmente, por seu trabalho em Sex Education, sua atuação em O Jogo da Invocação se distancia, e muito, da que vimos na série da Netflix. Tanto em estilo, quanto em qualidade. Mas, nesse caso, a parcela de culpa do ator é ínfima, se nos basearmos no material que lhe foi dado.
Já Natalia Dyer, que dá vida a Billie, não se mostra tão versátil e mantem o mesmo padrão de atuação de Stranger Things, onde vive Nancy. Sem nuances e sem muito o que explorar, ela só seguiu o piloto automático.
Um problema generalizado
O fato é que O Jogo da Invocação se perde por ser mal escrito e mal executado. Os jogos, uma das raras coisas positivas do filme, não são explorados como poderiam ser. As personagens não são desenvolvidas como deveriam ser. Todo background de Salem, também não é aproveitado. O suspense, então, não deu as caras. E, para um filme que se vende como tal, é lamentável que essa sensação jamais seja sentida.
A dupla de diretores Ari Costa e Eren Celeboğlu falham em entregar o que o filme prometeu em toda sua divulgação: Um terror/suspense.
O terror de O Jogo da Invocação fica só na promessa
Para um filme de terror funcionar, sabemos que a ambientação é parte importante na construção da tensão. Mas é tudo tão telegrafado, que absolutamente nenhum jumpscare funciona. O uso de CGI para os fantasmas é tão ruim, que tira qualquer sentimento de medo que ainda reste. E vamos combinar, seu uso excessivo é um dos principais agentes de frustração em filmes de terror.
A maquiagem e efeitos práticos ainda são responsáveis por desenvolver uma relação mais genuína com o que está sendo apresentado em tela. E não estou dizendo que não existe computação gráfica em filmes com efeitos práticos. No entanto, eles são utilizados para realçar ou como suporte à maquiagem e quaisquer outros props da produção. Quando esse amálgama não existe, a ambientação e o peso de uma cena fica comprometido.
Fora a questão física do filme, o uso equivocado da trilha e a péssima mixagem de som, impedem qualquer pessoa de sentir o menor arrepio com qualquer cena. Junto a isso, o fato da construção precária de personagens minar a preocupação com o bem-estar de qualquer um dos envolvidos é um excelente antídoto para qualquer friozinho na barriga.
Uma questão pouco explorada, e que poderia ter uma maior importância narrativa, ao ponto de deixar a história mais rica, é a própria cidade e toda riqueza histórica que há nela. Afinal, para quê ambientar o longa em Salem, apenas para contar uma história genérica? Se o filme fosse ambientado em qualquer outro lugar, não faria a menor diferença.
O Jogo da Invocação é um filme sem muito a mostrar
Eu adoraria destacar os pontos positivos do longa, ao menos para equilibrar essa balança. Mas, por mais incrível que pareça, não encontrei nenhum. Desde as atuações aos jumpscares, nada em O Jogo da Invocação funciona. Uma pena, pois é um grande desperdício de talentos e de uma ideia simples e boba, mas que teria potencial, até mesmo, para virar uma franquia.
Se você vai assistir com expectativas, esse filme vai te desapontar. Se você esperar pouco, talvez goste pela matança, mas ainda assim achará enfadonho. No fim, o que resta ao espectador é o sentimento de tédio. Pela espera frustrante de um filme apressado demais em mostrar o que possui de menos: qualidade.
O Jogo da Invocação estreia 30 de Novembro, somente nos cinemas
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