“Meu amigo me telefona e pergunta “Dorival (Caymmi), o que você está fazendo?“, e eu digo “Nada“. E pergunto “E você, o que está fazendo?“, e ele diz “Nada“, sem nem dizer “também. É muito bom.”
Dorival Caymmi valorizava o ócio. Como todo bom gênio, sabia que o talento que tinha precisava de prática, de vivência e de espera, de descanso. O documentário “Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos“, de Daniela Broitman, mostra tudo isso através de histórias e memórias contadas pelo próprio artista e pessoas de sua convivência próxima.
Sem tomar um rumo didático e cronológico, o longa se desenvolve muito em volta de uma entrevista inédita encontrada pela produção, gravada em 1998 na casa de amigos do artista. O amigo com quem Dorival trocava telefonemas sobre o nada, e que o ajuda a relembrar episódios de vida que renderam composições famosas, como “A Mulher do Vizinho“.
Contar a história mais linear fica a cargo de seus filhos e amigos. Dori, Danilo e Nana Caymmi falam sobre a vida com o pai, dentro e fora de casa, e a relação íntima fortíssima com a mãe dos três, Stella. Caetano Veloso e Gilberto Gil, sempre muito dispostos e acessíveis, relatam sobre a carreira musical de Dorival, com a devoção que um ídolo e mentor merece.
Todos esses depoimentos, de Dorival e de sua gente, são o grande valor aqui. A diretora declarou em entrevistas que queria mostrar o lado humano do artista. Como era sua intimidade, seu dia a dia, sua convivência com as pessoas, suas inspirações, seus vícios, sua religiosidade.
Talvez para os não iniciados o documentário deixe algumas lacunas. Mas, por outro lado, traz uma riqueza de narrativas envolvendo Dorival e Carmen Miranda, Assis Chateaubriand, Vinícius de Moraes. Imagens de arquivo com Tom Jobim e Andy Williams. Participações em filmes, no teatro, no carnaval. Influência na bossa nova e na tropicália. Todo um legado inestimável para a cultura brasileira.
“Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos” foi lançado originalmente em festivais de cinema em 2019, chegando a ganhar prêmios e reconhecimento. A pandemia e problemas de investimento atrasaram o lançamento comercial da obra. Agora, no dia 25 de abril, o título ganha às telas do país inteiro, na semana em que Dorival completaria 110 anos.
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