Abigail é uma Agradável Surpresa como Comédia de Terror

Chega hoje aos cinemas Abigail, novo filme dirigido pela dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, conhecidos por revitalizar a franquia Pânico e pelo excelente Casamento Sangrento. E tenho que dizer, que grata surpresa. Se bem que confesso não esperar nada de filmes de terror, principalmente dos que envolvem comédia, há um bom tempo. Alguns entregam exatamente o que espero, ou seja, nada. Outros me surpreendem, de forma negativa ou positiva. Abigail se trata desse último caso.

Uma Narrativa Cativante, Mas Com Falhas

Em Abigail, um grupo de mercenários é contratado para sequestrar uma menina de 12 anos, filha de uma figura importante do submundo. Eles precisam vigiá-la por 24h, enquanto as negociações de um resgate de US$ 50 milhões acontecem. O cativeiro escolhido para tal missão é uma mansão que, no mínimo, deveriam desconfiar ser mal-assombrada. E, em certo momento, o roteiro parece que vai enveredar por esse lado, mas isso é completamente descartado logo em seguida. Dessa forma, acabamos supondo que esse é um dos poderes de Abigail, mas o longa nunca deixa isso claro.

O que o filme dá a entender é que, exceto por dois personagens, o grupo não se conhece. Mas essa familiaridade não é explicada ou explorada, não fazendo diferença para o desenrolar da trama. Foi algo tão jogado na tela e passou tão rápido que sequer nos deu tempo de teorizar sobre. Esse não é um caso isolado. O filme tem outras sequências que o deixa com sobras que, em muitos momentos, não levam lugar nenhum. Ainda assim, é divertidíssimo.

Entre Influências e Semelhanças

É impossível deixar de notar uma semelhança com o antigo A Casa da Colina, de 1999, onde desconhecidos são convidados para uma mansão sinistra, com a promessa de ganhar 1 milhão de dólares caso passassem uma noite inteira no lugar. Uma narrativa que também já foi vista em Casamento Sangrento, mas com circunstâncias diferentes. O ponto é que, mesmo sendo um enredo batido, ainda cativa. O público quer torcer para alguém, nem que seja o vilão.

Ouso ainda apontar que lembra, levemente, Um Drink no Inferno. Para os desavisados, o início pode indicar só mais um filme de assalto, com uma refém sequestrada. E, do nada, se torna um banho de sangue com vampiros. Claro, isso funciona se você não leu a sinopse ou viu o trailer. Ainda assim, é uma conversão bem interessante.

Algo que pode incomodar alguns é a motivação por trás de tudo. Posso até dizer que de início achei meio exagerado, mas não de todo inválido. Principalmente se pensarmos que, apesar de tudo, Abigail não passa de uma criança, ainda que uma criança com centenas de anos. Com isso em mente, é fácil aceitar e até entender as razões que levaram a toda a matança.

Elenco sem Grandes Atuações, Mas Carismático

O elenco não rende grandes atuações, mas é funcional e carismático. É liderado por Melissa Barrera, que foi demitida da franquia Pânico, como Joey, uma mulher com um passado misterioso, mas nem tanto. Na verdade, outro exagero da narrativa. O longa também conta com a presença de Angus Cloud (Euphoria) em seu último trabalho antes de seu falecimento.

Alisha Weir (Matilda), que faz a “vampirinha”, convence como o monstro da vez, apesar de não causar medo, propriamente dito. Abigail é uma criatura sádica, que faz questão de transparecer para nós, espectadores, que está apenas se divertindo, e que não acaba com todos de uma vez único e exclusivamente porque não quer. Uma desculpa conveniente quando se tem um ser com poderes sobrenaturais, praticamente invencível, contra pessoas comuns, e ainda com o agravante de uma parcela não se destacar por sua inteligência.

O filme ainda conta com Dan Stevens (A Bela e a Fera), Kevin Durand (Gigantes de Aço), Kathryn Newton (Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania), William Catlett (Raio Negro) e Giancarlo Esposito (Breaking Bad).

Competência e Originalidade que Afastam Abigail da Mediocridade

Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillet, também conhecidos como Radio Silence, realmente sabem fazer o bom e velho jogo de gato e rato. Assim como em Casamento Sangrento e Pânico, saber quem será a próxima vítima é o que prende a atenção do espectador. Principalmente quando se tem perfis tão estereotipadamente bem colocados. Seria fácil para um diretor mais prosaico dar ares mais genéricos a um roteiro bastante simples, como é o de Abigail. Mas o timing de comédia e as sacadas para as mortes, afastam o longa da mediocridade.

Os personagens, apesar de não serem autênticos, possuem carisma e geram um mix de curiosidade, desprezo, empatia e raiva. E o fato de não terem camadas de interpretação pouco importa aqui. Esse não é o foco do filme. De longe é sua intenção provocar profundas reflexões ou promover a busca de significados ocultos. Seu objetivo, simples e direto, é o de entreter. E isso ele faz com primor.

Abigail Explora Convenções de Gênero de Maneira Divertida

Um dos pontos altos de Abigail é a maneira como brinca com as convenções do gênero de vampiros, subvertendo as expectativas comuns. Criando uma mitologia própria, o filme toma a liberdade de jogar com o que conhecemos sobre os seres da noite. Algumas coisas são reutilizadas e outras descartadas. Gerando, assim, uma curiosidade genuína em saber quais características vampíricas se aplicam ao universo em questão.

No final das contas, Abigail pode não ser um filme revolucionário no gênero, mas é competente como uma comédia de terror. É divertido, consegue arrancar algumas gargalhadas e é uma boa opção para quem está aberto a novas experiências cinematográficas, desde que não sejam criadas expectativas muito altas.

Abigail está em cartaz somente nos cinemas

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Nerd: Tamyris Farias

Designer e produtora de conteúdo apaixonada por cinema e cultura pop. Amante de terror e ficção científica, seja em jogos, séries ou filmes. Mas também não recuso um dorama bem meloso.

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