Pedágio é um filme brasileiro, dirigido, escrito por Carolina Markowicz e sua trama se passa na periferia de Cubatão, no interior de São Paulo. Neste cenário vive Suellen (Maeve Jinkings, excelente no papel), uma mãe solteira, de baixa renda e trabalha na praça de pedágio em uma rodovia.
Ela cria seu filho Antônio, também conhecido como Tiquinho (Kauan Alvarenga, igualmente ótimo no papel), um jovem negro, LGBTQIAP+, que está no 3º ano do ensino médio, trabalha em uma lanchonete para sobreviver e, nas horas vagas, produz conteúdo para a internet para o público LGBT.
Mas a sua mãe é conservadora, fica horrorizada com o conteúdo do seu filho e conhece, através da colega de trabalho, Telma, a dita “cura gay”, onde Suellen financia através de seu namorado, Arauto (Thomas Aquino, da série Manhãs de Setembro), a ida de seu filho para lá.
Mas Arauto é um criminoso, pratica assaltos pela cidade e se de início, Suellen ficou horrorizada, com o tempo ela começa a tomar as rédeas do negócio, servindo de informante para Arauto no pedágio quando vê um cliente com maior poder aquisitivo, mas tudo isso vai causar consequências a todos à sua volta, em especial ao seu filho.
Pedágio é dos filmes brasileiros mais elogiados do ano e estava cotado para ser o representante do Brasil para uma vaga no Oscar 2024, mas o nosso país está bem representado com o excelente Retratos Fantasmas.
Embora Pedágio também tenha como pano de fundo temas universais como a LGBTfobia e a violência nas cidades, não é difícil para que muitos brasileiros se identifiquem com o que se vê em tela e o roteiro é feliz em não apontar o dedo, não entrar no falso moralismo e muito menos a fazer apologia à violência, ao contrário, o trabalho de Carolina e escancara a hipocrisia da sociedade como um todo, é uma denúncia corajosa aos problemas cotidianos, mas sempre mostrando as consequências de todos os atos.
Todos ficam horrorizados com o fato de Antônio ter atração por homens, mas ele é o mais franco dos personagens apresentados. Não por ser bonzinho, mas por ser verdadeiro.
Suellen, sua mãe, fica indignada com as escolhas do seu filho, mas não hesita em praticar uma atividade criminosa. Arauto já é um bandido por si só e Telma, amiga de Suellen, fala muito em Deus e religião, se orgulha de ter um casamento consolidado, mas não fica constrangida em trair o marido.
Pedágio é a sintonia perfeita entre grandes atuações, uma grande história e discussões que vão além da tela. É o retrato do cinema brasileiro de hoje em dia: com orçamento escasso, muito simples, com poucas locações, mas com uma qualidade absurda, roteiro poderoso, pungente e cinema de guerrilha.
Imagina se o nosso cinema fosse um pouco mais valorizado por todos nós, brasileiros com síndrome de vira lata?
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