Existem várias versões de Pinóquio por aí. Em setembro de 2022 saiu um live action, lançado direto para a Disney+, com Tom Hanks como Gepeto, mas de tão ruim, acabou sendo um fracasso de público e crítica. E isso aumentou os indagações sobre Pinóquio de Guillermo Del Toro.
Muitos dizem que falta criatividade em Hollywood, afinal, não basta um filme fazer sucesso que logo é encomendada uma continuação, pode virar franquia e depois de anos pode vir um remake. Há diversas histórias que já foram contadas inúmeras vezes, parte do público parece estar saturada das mesmas histórias e muito se discute se ainda há espaço para uma nova versão de uma trama já conhecida.
A boa notícia é que há espaço sim, mas desde que haja um bom roteiro por trás (e não apenas copiar o original) e trazer algo de novo. E é justamente aí que entra a animação Pinóquio, lançada pela Netflix e dirigida pelo grande Guillermo Del Toro.
Mas em dezembro de 2022, saiu a aguardada versão de Del Toro, que é uma verdadeira obra de arte, um primor de animação, dificilmente ficará datada e não é exagero dizer que está entre os melhores filmes do ano.
A história é conhecida: após a perda de seu filho, o Gepeto constrói um boneco de madeira par suprir esta falta, a fada azul o transforma em um menino que fala, o grilo é encarregado de cuidar do garoto, ele vai para a escola, mas é seduzido a ser um artista de circo e Gepeto vai resgatá-lo. Aqui nesta animação, essa trama está presente, mas com muitos diferenciais.
Esta versão é muito sombria, mais adulta e embora seja uma animação, é muito mais próxima do real do que o live action. Tem como pano de fundo a Primeira Guerra Mundial e a ascensão do fascismo na Itália, mas não é exagero chamar este filme de antifascista.
Sem contar que os personagens não são tão fofos como imaginamos: Pinóquio não é aquele garoto ingênuo, mas sim, um menino cheio de vontades e iniciativa; Gepeto não é um senhor totalmente bondoso, mas um homem amargurado, destruído e beberrão; a fada azul está longe de ser fofa e o grilo tem aspectos de um inseto real mesmo.
Mas apesar de tudo, engana-se quem acha não dá para se envolver com filme, muito pelo contrário: é um filme com muito comovente, tocante, humano e com muito mais alma do que muito drama por aí, pois Del Toro usa a metáfora do objeto de madeira que sonha em ser um menino normal junto com o pano de fundo do fascismo para criar uma trama sobre família, perda, vida, morte, sonhos e o pesadelo da realidade.
Nada que o Del Toro não esteja acostumado, pois quem já assistiu sua outra obra prima, O Labirinto do Fauno, sabe que ele usou a Guerra Civil Espanhola como pano de fundo para uma história de fantasia, sonhos, mas misturada com o horror da vida real.
Mas ao falar desta versão de Pinóquio é impossível não falar sobre sua maravilhosa técnica em stop motion, pois se já é difícil trabalhar com animação, com essa técnica então, é algo que envolve muita dedicação, paciência e, claro, amor no que faz.
Del Toro já está concebendo essa animação há cerca de uma década, pensou em cada detalhe, o resultado ficou incrível e de encher os olhos.
Sem contar que a fábula do Pinóquio sempre foi a favorita de Del Toro por motivos pessoais, já que ele tinha dificuldade de se socializar na infância, sofria bullying e não é exagero dizer que ele colocou todo o seu coração na obra. E conseguiu.
Pinóquio é uma animação que só poderia da mente de um apaixonado pela obra, que sabe o que está fazendo e um alento para quem passou o ano vendo as franquias enlatadas do cinema. Afinal, conceitos como sonho e fantasia também são a raiz da sétima arte.
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