Lupicínio Rodrigues – Confissões de um Sofredor é um documentário de 2022, já passou por diversos festivais, sessões especiais e pela Mostra de Cinema de São Paulo, mas está estreando nos cinemas brasileiros, oficialmente, em março de 2024.
É dirigido, escrito por Alfredo Manevy, foi também exibido em uma sessão para a imprensa na Cinemateca de São Paulo e conta a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, um dos maiores cantores, compositores e sambistas da música brasileira.
O documentário mostra sua importância na história, porque seu trabalho é respeitado e referenciado até hoje, com depoimentos atuais, mas, sobretudo, de depoimentos antigos, da década de 1950, 60, 70, até a sua infelizmente morte em 1974, usando materiais dos arquivos das emissoras de Tv da época e até mesmo da própria Cinemateca.
O material está muito rico e mesmo quem não sabe nada sobre Lupicínio Rodrigues, vai compreender o que se vê em tela, pois deixa claro que, mesmo tendo falecido há 50 anos, influenciou muita gente conhecida até hoje, como Gilberto Gil e Cazuza, mas que também a trajetória de Lupicínio também pode ser confundida com a música brasileira, sobretudo com o samba, já que o ritmo foi marginalizado pela mídia e pelas elites por décadas, até ser socialmente bem aceito com o passar dos anos. E a música de Lupicínio também.
E os principais motivos de muitos não aceitarem o samba no início era, sobretudo, pela origem nas comunidades e porque era um ritmo composto majoritariamente da população negra, escancarando o preconceito velado que existe no país há décadas.
Nem o futebol escapou desse racismo. Uma das obras mais conhecidas de Lupicínio é o hino do time do Grêmio, no Rio Grande do Sul, justamente na época em que o time, assim como outros pelo país, não aceitava jogadores negros e sua composição só foi aceita porque a qualidade era tão evidente que não havia como ficar de fora.
Mas uma coisa interessante do documentário em detrimento à muitas biografias atuais consideradas “chapa branca”, é que ele não esconde as polêmicas de Lupicínio, deixando claro que ele era mulherengo e por mais qualidade que suas músicas tinham, muitas delas faziam questão de falar mal das mulheres, sem contar que suas composições eram consideradas “músicas de corno”.
O próprio diretor admitiu que hoje em dia ele seria cancelado facilmente.
E outra informação que foi escondida por anos, mas que acabou sendo divulgada pelo documentário é que ele tem uma composição de um filme indicado ao Oscar na categoria de Trilha Sonora, chamado Dançarina Loura, de 1944, mas que, infelizmente, Lupicínio nunca foi creditado pela composição.
Lupicínio Rodrigues – Confissões de um Sofredor é tudo o que uma biografia deveria ser: simples, indo direto ao ponto, traçando paralelos com o contexto histórico, mostrando porque a pessoa é importante, mas sem esconder os escândalos.
Que venham outras biografias para que as novas e próximas gerações também descubram.
Quem sabe elas se interessam e corram atrás de outros materiais?
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