O ano era 1954 e, pela primeira vez, uma plateia assustada se deparava com o que se tornaria o mais cultuado Kaiju da cultura pop. Usando o entretenimento para criar uma metáfora à armas nucleares. O que se seguiu depois disso, foram quase 70 anos de muitas produções responsáveis por influenciar gerações e entrar no imaginário popular. Afinal, se você nunca ouviu falar em Godzilla, provavelmente seu recinto é uma caverna.
Quase 70 anos mais tarde, Godzilla Minus One chega aos cinemas já aclamado pela crítica. E não é para menos. Dirigido e escrito por Takashi Yamazaki, o longa trás Godzilla de volta às origens, mostrando que ainda tem muito fôlego para ótimas histórias.
Godzilla Minus One e a metáfora atômica
O filme é ambientado logo após a segunda guerra mundial, e acompanha o protagonista Koichi, um piloto kamikaze que se retira de sua missão sob o pretexto de problemas mecânicos. Ele, então, acaba indo parar em uma ilha. Ilha essa que se torna palco de uma catástrofe ao sofrer um ataque do já conhecido Kaiju.
O roteiro acerta ao decidir ambientar a trama em um período de grande importância não só para a história do Japão, como também a do próprio Godzilla. Afinal, sua origem se deve justamente aos incidentes com armas nucleares, tanto o ocorrido com o barco de pesca Dragon No. 5, quanto as explosões em Hiroshima e Nagasaki. Esses últimos sendo responsáveis por uma das maiores catástrofes da humanidade.
E Koichi, como um soldado desertor, que paralisou diante da missão dada, expõe a realidade de uma Tóquio pós-guerra, onde a falta de ação governamental se traduz em desesperança e desolação. Com isso, o filme sugere que, em tempos de crise, é a iniciativa civil que se torna crucial para a sobrevivência e reconstrução de uma nação. A interação entre os personagens, como Koichi e Noriko, reflete a necessidade de solidariedade e colaboração em face da adversidade.
Essa escolha narrativa acaba adicionando camadas de complexidade à trama, explorando as consequências emocionais e sociais desse período histórico. Convém dizer que é a primeira vez que a franquia utiliza um momento histórico em uma produção. E isso deixa mais explícito para o espectador uma mensagem que veio sendo perdida diante das produções hollywoodianas do Godzilla: A de que sua origem, resultante de radiação, não é apenas uma informação displicente afim de suprir a curiosidade do público. Mas sim uma metáfora para toda e qualquer forma de poder capaz de nos reduzir a pó.
Godzilla Minus One transita entre a crítica e destruição épica
A inserção de Godzilla como uma ameaça nesse contexto ressoa com a origem do Kaiju. Essa conexão histórica e a metáfora para as armas nucleares fornecem uma base sólida para uma narrativa envolvente e carregada de significado. Porém, a escolha de inserir essa crítica ao governo japonês e sua política ao lidar com o período de guerra, faz com que as destruições épicas realizadas por Godzilla, tenham um espaço reduzido na trama.
Sim, eu queria ter visto mais Godzilla e menos gente, admito. Mas, de maneira alguma, isso vira um demérito da produção. Além de que, essa abordagem acaba adicionando uma camada de significado que enriquece a experiência do espectador e eleva o filme a um patamar muito mais reflexivo.
Koichi, Noriko e as Camadas Emocionais
Koichi, interpretado por Ryunosuke Kamiki, é um protagonista complexo, cujas escolhas refletem dilemas ideológicos e as cicatrizes de uma guerra recente. No entanto, essa densidade não o deixa enfadonho. E a dinâmica com Noriko, interpretada por Minami Hamabe, adiciona camadas emocionais à narrativa, especialmente quando eles se unem para enfrentar os dias sombrios. Porém, devo confessar que a garotinha, Akiko, não me conquistou tanto. Principalmente quando começa a chorar. Quem assistir legendado, vai saber do que estou falando.
Mas calma, não é porque possui uma abordagem menos “simplista” que deixa de ser divertido. Pelo contrário. Apesar de ter menos cenas de ação do que eu gostaria, quando o Godzilla aparece, ele realmente joga na mesa o significado de “se não é pra causar, nem saio de casa”. No caso, “nem venho à superfície”. Porque é impactante. Todas as cenas de confronto do Kaiju estão irretocáveis e carregadas de dinamismo, sempre acompanhadas à icônica trilha sonora.
Sendo assim, Godzilla Minus One é um ótimo acerto, oferecendo não apenas uma experiência cinematográfica empolgante, como uma reflexão sobre causa e efeito. Se olhado por apenas um prisma superficial, é sobre decisões do passado e suas consequências. Num escope mais amplo, Godzilla continua a representar não apenas uma ameaça física, mas também um símbolo das sombras do trauma coletivo.
Godzilla Minus One está em cartaz somente nos cinemas
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