Com grandes mentiras vêm grandes responsabilidades…
Na última segunda-feira, dia 26/04, tive o prazer de participar da cabine de imprensa do filme O Auto da Boa Mentira, e de assistir ao filme antes de sua estreia, na data de hoje, 29/04, nos cinemas.
Aposto que o nome do filme não te soa estranho, não é mesmo? Pois é porque foi inspirado em causos contados pelo dramaturgo, escritor e poeta nordestino Ariano Suassuna, conhecido por sua obra-prima O Auto da Compadecida.
Dirigida por José Eduardo Belmonte e estrelada por grandes nomes do cinema nacional como Nanda Costa, Luís Miranda, Renato Goés, Leandro Hassum e Jackson Antunes, a mais nova comédia repleta de dramas da vida real tem como fio condutor a boa e velha mentira. Aquela que nos salva nas horas do aperto, e nos aperta se não for bem pensada.
Dividido em quatro histórias diferentes e sem conexão entre si, O Auto da Boa Mentira nos presenteia com momentos de leveza, risada e reflexão. Qual é o papel da “boa mentira” em nossas vidas? Contada sempre com a melhor das intenções, mas quase sempre garantindo aquele alvoroço que poderia ser evitado com a mais pura, por vezes dolorosa, verdade…
A primeira adaptação contemporânea das andanças, relatos e anedotas de Suassuna tem como personagem principal Helder Flores, um inofensivo e infeliz homem que passa despercebido por onde quer que vá.
Mas isso muda quando ele passa a ser confundido com Paulo Mendonça, comediante de sucesso que fará uma apresentação no mesmo hotel em que ele está hospedado como singelo participante de uma convenção sobre seguros, ou algo igualmente tedioso do tipo.
Eis o dilema de Paulo, quer dizer, Helder: insistir para corrigir o engano causado pela semelhança conveniente, uma vez que lhe eram oferecidas diversas regalias como Paulo Mendonça, ou deixar-se levar pelo inocente engano e assumir o personagem?!
Com a história de Elder, aprendemos que a mentira pode até ter pernas curtas, mas eita, como corre rápido… E chega longe!
Na segunda história, minha favorita, somos envolvidos, junto com Fabiano, na magia do Circo do Reino. Também acabamos envolvido na rede de mentiras que o cercam desde que era apenas um garotinho, e que o sufocam de dúvidas ao serem reveladas em sua vida adulta.
Pois tais mentiras nos levam a conhecer a história da família de Fabiano entre momentos de uma comédia deliciosa, que pode ser curtida tanto em momentos espalhafatosos quanto nos pequenos detalhes que compõem e enriquecem os dilemas, dúvidas e perrengues vividos pelo pobre coitado.
Quando a verdade é difícil e fica engasgada, a mentira nos seduz com suas saídas fáceis e esquivas. Quem nunca se aproveitou de uma mentira que parecia inofensiva para empurrar a sujeira para debaixo do tapete?
O difícil é lidar com as consequências, rapaz.
Well, a terceira história, como relata Suassuna, nos conta a história de um mentiroso com sotaque, o “gringo-carioca” Pierce. O gaiato se adaptou bem demais à nossa malemolência, ao jeitinho brasileiro, e aprendeu que uma mentirinha boa pode te livrar de desconfortos e de magoar algum amigo querido.
Mas… e quando, em vez de te livrar, a mentira te afoga ainda mais, feito areia-movediça? Dizem que o segredo do sucesso de um bom mentiroso é se comprometer com a mentira, “viver a mentira”, como disse Hassum na coletiva de imprensa. Mas e quando o comprometimento compromete coisas demais?
Qual é o limite de uma “boa mentira”, hein?
“Às vezes, é mais agradável dizer o que as pessoas querem ouvir do que a verdade.”
Essa é uma das frases que abrem a quarta e última história, que ilustra, com certa fidelidade afiada, o dia a dia tóxico de Lorena: uma jovem estagiária em uma renomada empresa de publicidade.
Em um mundo no qual manter as aparências é mais valorizado do que o bom e velho “seja você mesmo”, Lorena encontra dificuldades para domar sua natureza honesta e simples para conseguir se encaixar entre os leões e leoas prontos para dar o bote, mais conhecidos como seus “colegas” de trabalho.
Luís Miranda, que faz o papel do bem-sucedido chefão Norberto Cardelli, fez uma reflexão muito valiosa durante a cabine de imprensa, sobre tais ambientes tóxicos de trabalho e suas vaidades: “…É um ambiente no qual a mentira faz parte. Você tem que ter os anticorpos necessários para sobreviver a este ambiente“.
A sinceridade é sempre muito ovacionada, mas quantas pessoas estão preparadas para ser sinceras, e para aceitar sinceridades? Será que a verdade é sempre tão boa quanto dizem, ou é melhor nos resguardarmos com uma cerca quantidade desses tais anticorpos?
Durante a coletiva, o diretor e os atores contribuíram com diversos apontamentos curiosos e divertidos sobre as inspirações, desafios e prazeres de adaptar as falas e causos de Suassuna para as telas.
Também falaram sobre a retomada das filmagens do cinema brasileiro e sobre as expectativas em relação ao “novo cinema”, pensado para atender ao momento do instantâneo, da rapidez, dos streamings. Como o formado de O Auto da Boa Mentira, fragmentado em quatro histórias curtas e de muito bom-gosto, pode ser uma transformação necessária para adaptar-se à nova realidade do entretenimento.
Uma comédia deliciosa para toda a família, um respiro de alegria e risadas em meio a tantas dificuldades pelas quais temos passado ultimamente. Ainda não concordo com a reabertura de cinemas e nem me sinto confortável em incentivar a ida aos cinemas em nosso atual cenário de pandemia. Porém, se for ao cinema, se cuide, cuide dos outros, cuide da sua família. E, seja no cinema ou em casa, quando o filme ficar disponível em plataformas de streaming, assista O Auto da Boa Mentira.
Nada de mentira por aqui, tô falando a verdade! Eita filminho gostosinho de assistir, sô!
Leia também “Elas em jogo: as personagens da minha vida | Parte II“
Não esquece de seguir o Novo Nerd nas redes sociais: