Wish: o Poder Dos Desejos é a aposta da Disney para as férias de Janeiro. Aqui no Brasil, pelo menos. Lá fora o longa estreou ainda em 2023 e já vem colecionando um caminhão de críticas e polêmicas.
Sempre que me deparo com uma explosão de ataques a uma produção, sempre dou o benefício da dúvida. Se as críticas tiverem fundamento, não me abstenho de apontar quaisquer erros presentes na obra. Mas, na maior parte das vezes, a base para tais comentários reside em muitas camadas de preconceito. E não foi diferente com Wish: o Poder Dos Desejos.
Mas calma, isso não quer dizer que essa seja uma daquelas animações que te prendem ou, ainda, que vá marcar uma geração. Na verdade, Wish é um amálgama de vários outros acertos da Disney, e esse é o seu maior problema. Pois reduz a obra, que tinha potencial, a uma história genérica. E fica a sensação de que o estúdio fez um filme para si mesmo, inclusive em sua crítica. Aliás, se existe algo realmente interessante nesse filme, é seu subtexto e todas as mensagens, não tão subliminares, que ele passa. Mas vamos por partes.
A história por trás da fada madrinha está cheia de easter eggs
Dessa vez a Disney nos transporta para o reino mágico de Rosas. Lá, Asha, uma moça perspicaz, faz um desejo tão poderoso que é atendido por uma força cósmica: uma pequena esfera de energia ilimitada chamada Estrela. Juntas, Asha e Estrela encaram um adversário formidável, o regente supremo de Rosas, o Rei Magnífico.
Para quem ainda não ligou A com B, é basicamente a história de como surgiu a Fada Madrinha, a grande realizadora de desejos de tantos contos de fada. Uma ideia excelente para se homenagear 100 anos de história de um estúdio que chegou ao sucesso adaptando tantos desses contos de fadas.
E por se tratar de uma história “por trás” de todas as histórias, Wish faz dezenas de referências a esse legado. Desde Branca de Neve, passando por A Espada Era a Lei, Pinóquio, Cinderela e A Bela Adormecida, até Zootopia e Frozen. Isso para mencionar só alguns. Quando você menos espera, lá está um easter egg. Porém, a homenagem, por si só, não é o suficiente para sustentar quase 2h de longa e acaba se tornando mais uma muleta para furos de roteiro e personagens sem carisma.
A falta de profundidade nas relações e na trama
Wish tem como foco a construção da amizade e ideais de comunidade, deixando de lado o romance. Porém, esse desenvolvimento é raso. Muito por deixar essa criação de mundo a cargo das músicas. Um recurso que deveria ajudar no andar da narrativa, acaba sendo usado como uma base de construção de mitologia, o que acaba enfraquecendo a história e deixando tudo bem genérico. Tirando Asha, que tem uma personalidade mais definida, todos os outros personagens acabam caindo no lugar comum e, em consequência disso, sendo esquecidos.
Apesar de não me importar que uma animação dispense o escopo romântico do seu roteiro, assim como lançamentos mais recentes têm feito, aqui é um pouco diferente. A Disney chegou aonde chegou com histórias de princesas, príncipes encantados e romance. Me parece deslocado que um filme que a homenageia, não tenha um pingo de amor. Quer dizer, tem, mas só aquele altruísta.
Visualmente belo e nostálgico
Um aspecto que têm dividido opiniões é com relação ao estilo de animação usado em Wish. A Disney vem tentando sempre trazer algo novo em suas animações, desde estilos à conceitos diferentes. No fim acaba tudo meio que convergindo para o mesmo lugar. Com Wish não foi muito diferente.
Mas eu, particularmente, achei o estilo de animação usado em Wish lindo. Não só isso. Para os mais velhos e familiarizados com os livros de contos de fada infantis lá da década de 70 e 80, vai até ser um pouco nostálgico. Pois a animação lembra as ilustrações usadas nesses livros. Cada frame poderia ter saído diretamente das páginas de alguns desses exemplares.
A Receita Polêmica de Wish: O Poder Dos Desejos
Wish: O Poder Dos Desejos traz uma protagonista negra, sem adição de romance e ainda uma clara metáfora sobre Revolução Francesa. Ou, ainda, capitalismo e levante dos trabalhadores. A trilha “Não Dá Mais Pra Não Ver”, por exemplo, nem disfarça. Parece a receita perfeita para uma chuva de hate travestido de crítica.
O Rei Magnífico é o típico personagem com boas intenções, que enche uma população de promessas e cria a ilusão de lugar feliz e próspero. Mas que, na verdade, está aos poucos se corrompendo, e não pensa duas vezes em sacrificar o desejo de alguém para benefício próprio. De fato, ele se alimenta das ambições de seu povo, já que todos precisam, de bom grado, entregar seus desejos a ele ao completarem 18 anos.
Já a população de Rosas é alimentada constantemente com a esperança de ter um de seus desejos realizado. Diante de milhares de desejos, conseguir realizar o seu é como ganhar na loteria. Com isso, muitos acabam se contentando com o fato de que a possibilidade de realizar seus sonhos é quase nula. E, ainda que amem o Rei Magnífico por acreditarem que ele governa seu reinado com justiça, não possuem mais perspectiva. Ao se dar conta da ilusão, o povo se revolta e inicia uma revolução.
Uma metáfora super válida, perdida em uma história que não soube desenvolver uma linha narrativa que abraçasse a fantasia e a mensagem que ela queria passar. A metáfora, excelente. A fantasia, nem tanto. Foi justamente a segunda parte desse combo que foi usado como justificativa para uma enxurrada de comentários racistas e preconceituosos. Muitos condenando a “lacração”, a tão falada “cultura woke”, de forma velada ou aberta. Um show de horrores sob o véu fino da “crítica”.
Charmosa, ainda que sem brilho
Wish: O Poder Dos Desejos é uma animação visualmente linda, mas que ao não se aprofundar em seus personagens e sua mitologia, resulta em uma narrativa pouco envolvente. Enquanto o filme oferece aspectos dignos de elogio, a falta de coesão narrativa prejudica sua capacidade de se destacar de maneira marcante.
Por fim, esse é um daqueles projetos que é lindo no papel, mas que na execução acaba perdendo o brilho, ainda que mantenha o charme. É belo, mas não cativa. Falta tempero e, apesar de se tratar de uma história sobre magia, esta também lhe falta. Acho que o melhor adjetivo que posso dar para Wish é “simpático”, afinal.
Wish: O Poder Dos Desejos estreia dia 04 de Janeiro, somente nos cinemas.
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