Vida de Gamer Profissional | Pain Gaming LOL

Quarta feira, 20h30 da noite, a música corre solta no tranquilo bairro do Jardim Europa em SP. Meia hora antes a Pain Gaming venceu uma partida dentro da Brazil Gaming League. Aperto a campainha esperando uma festa em andamento e pensando como vai rolar uma entrevista no quartel general dos caras. Para minha surpresa ao passar pelos portões fica claro que a festa não era ali.

Encontramos o time num espaço amplo, meio casa meio office, estações ultra modernas com cadeiras super confortáveis e todo o time reunido nos aguardando. Todo mundo conhece os caras, são fan bases de mais de 200 mil seguidores nas redes sociais, mas nada te prepara para a cara marota do Kami (gatíssimo!), o jeito amigo do Thulio- SiRT, pro coreano Lactea todo sério e educado, o outro coreano (surpresa total) Olleh, sorridente e falante(!) e por fim o Jukaah, menino das tramoias e dos paranauês que fica analisando as partidas e orientando o time. O Leko, recém chegado ao time, faz sua entrada triunfal… De cabelos ao vento (ops) molhados, sensualizando no cheiro de sabonete. Todos sob o olhar atendo do Diretor Administrativo e de Marketing, Hugo Tristão, nada escapa aos olhos de águia do moço!

Como cheguei com a missão de conhecer mais a vida dos meninos, entro de sola na lição de casa.

Lactea_Olleh

1.Vimos que vocês mudaram o Lactea para a posição de AD Carry, onde irá se juntar ao Olleh e provavelmente terão uma laning phase com uma coordenação melhor. Quanto essa mudança de posição afeta a sinergia do time como um todo?

Kami: Afeta tudo. A mudança veio para resolver um problema de comunicação e fortalece a sinergia entre as frentes, facilitando a evolução do time dentro do jogo.

SirT: Curiosamente era algo que todo mundo falava, mas que não havia sido percebido de maneira pratica.

Hugo: Como tivemos primeiro uma experiência com um técnico coreano, acabamos primeiro trabalhando na adaptação dele e como o objetivo dele era voltar a se tornar jogador isso acabou atrapalhando.

2. Vocês usam o inglês durante as partidas ou alternam momentos em português e eles, em coreano? Durante as team fights e calls, como funciona a comunicação?

SirT: Usamos o inglês rápido, mas antes da mudança que fizemos tínhamos mais dificuldade uma vez que o nível do inglês do Lactea não é fluente como do Olleh.

Kami: Acaba tendo uma integração natural no jogo e conseguimos nos comunicar.

3.Como têm sido a adaptação do Lactea e Olleh ao Brasil?

Olleh: No começo fiquei apreensivo devido a segurança, mas hoje já consigo ir a lugares diferentes como Bom Retiro, andar de metrô e circular pela região. Antes de vir para o Brasil comprei um livro de como falar português e sempre que possível assisto alguns tutoriais no Youtube que ensinam o idioma.

4.Como você se tornou gamer, Olleh?

Olleh: Eu não passei no vestibular de medicina por 2 pontos na nota. Aí um dia um amigo convidou para irmos a uma Lan House, eu joguei LoL e gostei. No dia seguinte, avisei minha mãe que ia à biblioteca e novamente fui para a lan house. Buenas, é facil imaginar que o menino é bem inteligente, afinal não é só no Brasil que uma vaga para medicina é dificil!

SirT

5.Como a paiN avalia a participação e o impacto dos jogadores coreanos no cenário brasileiro? Vocês acham que essa tendência pode continuar, e outros times trazerem jogadores de outros países (inclusive europa, eua, etc)?

Kami: Eu acredito que é muito difícil que os times continuem trazendo jogadores coreanos, a diferença cultural é muito grande e o principal ponto é que você tem que trazer duplas, para minimizar os problemas de adaptação e convivência, o que são cruciais para o rendimento em equipe. Há também a questão de adaptar estilos de jogos, que é muito diferente do local.

SirT: jogar com times europeus é totalmente diferente, assim como coreanos e todos os mais, trazer jogadores de outros países acaba esbarrando nesta questão de adaptação.

Leko: com a dificuldade de jogar com times de outros países devido ao lag entre servidores o que causa travadas animais no jogo, cada país acaba tendo seu estilo próprio, bem diferente do estilo brasileiro.

6. Infelizmente ainda vemos que muitas das entrevistas que vocês dão normalmente aparecem como título de Cyber-Atletas ou até ‘Atletas’ entre aspas, que é totalmente o inverso de outros países. Vocês acham que o Brasil irá aceitar a nova modalidade de Atletas por meio de jogos On-line ?

SirT: Quando lemos as matérias que fazemos observamos certas mudanças da visão da mídia sobre o nosso trabalho, que felizmente são normalmente positivas.

Leko: Quem sabe um dia não chegamos ao nível em que faculdades e cursos técnicos também irão possuir bolsas para atletas de jogos virtuais assim como nos Estados Unidos e outros países.

7. É possível a ida de um de nossos jogadores profissionais do Brasil para que jogue em um time de fora assim como o Olleh e o Lactea ?

Kami: É realmente difícil, a maneira que eles jogam (Meta Game) é muito diferente da nossa e cada região tem a sua. Infelizmente ainda não se possui alguma boa notícia de oportunidades para jogadores brasileiros.

8. Quais foram os principais aprendizados para a paiN no Regional Brasileiro?

Kami: Ver e entender os problemas de comunicação do top-mid-jungle que pareciam tão óbvios para todos e que não tínhamos detectado, e promover uma mudança para resolver.

SirT: Todo mundo só pensou na integração dos coreanos com todos.

Leko_Kami

9. Com a chegada do Leko no time, todos sabíamos que os coreanos iriam acabar se juntando na Bot Lane (Rota Inferior), e que trouxe resultados ultra positivos logo na primeira partida oficial do time. Com os dois coreanos no Bot Lane modificou toda a forma de vocês se comunicarem ?

SirT: Como jungle, normalmente dou as chamadas para um possível Gank (Ataque furtivo) e com o Lactea no Top Lane (Rota Superior) seria difícil a comunicação pois mesmo estando com a gente faz um tempo o inglês dele ainda não é bom, portanto damos vóz de comando simples como Go (Vai) e Back (Volta) lembrando muito Counter-Strike entre outros jogos que se necessitem de comunicação.

Leko: Então me chamaram para que a comunicação entre o Top (Rota Superior), Mid (Rota do meio) e Jungle (Selva) pudessem se comunicar melhor com o português, deixando os dois coreanos meio que se virando enquanto conversam nas suas línguas nativas e só chamado-os com inglês ou quando ouvimos nosso nome no meio do coreano.

Kami: Ganhando vantagem e abrindo espaço para que o Top utilize teleporte no Bot, possível Gank do SirT no duo (relação entre duas pessoas) ou um roaming (ato de sair de sua rota para um Gank) com um simples sinal em inglês para que ambos saibam que estamos chegando.

Lactea: Enquanto eu e o Olleh se comunicamos em koreano, uma simples palavra em inglês é o suficiente para alertar-mos que reforços estão chegando.

10. Sem contar os top 4 times brasileiros, quais novos times brasileiros mais surpreenderam vocês e por quê?

Jukaah: INTZ surpreendeu, eles se destacaram pela criatividade e jogadas rapidas!

jukaah1

11. Vocês acham que o Mundial de 2014 mostrará uma predominância de times asiáticos como foi nos Mundiais das Seasons 2 e 3?

Todos: Sim!

12. Quanto de caminho existe para percorrer até que um time brasileiro de LoL chegue na final de um Mundial?

Kami: 3 a 4 anos no ritmo que temos hoje

SirT: 10 anos

Leko: Depende do investimento e criação de ligas que fomentem o mercado.

13. Quais são os próximos objetivos da paiN?

Kami: Fazer um final de ano bom, com grandes partidas.

14. Quais seus campeões favoritos ?

Leko: Rumble

SirT: Lee Sin

Kami: Xerath

Olleh: Nami

Lactea: Graves

15. Como foi o processo da seleção do Leko?

Leko: Nós jogamos na semifinal e a CNB ficou mais uma vez em segundo. Tinhamos muitos sonhos, mas vínhamos de uma estória de sempre estar em segundo. Desta vez, sentimos que era hora de se separar. Conversei com o Takeshi e no mesmo dia mandei uma mensagem para o Hugo que me retornou na manhã seguinte. Foi tudo muito rápido!

16. Quais são os principais pontos fortes do novo top-laner da paiN?

Kami: Além de um excelente jogador, o principal ponto forte é a convivência, ele veio para resolver o problema de comunicação. E como ele é muito falante, ele acaba contagiando os outros durante a partida aumentando a motivação geral do time.

SirT: A comunicação dentro e fora do jogo melhorou muito. Como ele chegou e como está motivado é um ganho para a equipe.

17. Há algum tempo, o Mylon declarou que “o top da paiN não oferece perigo algum”. O Lactea deu algumas respostas, in game, sobre isso. E agora, com a chegada do Leko no top da paiN, vocês têm algum recado para mandar? QUEM vai parar o Leko no top?

Leko: VALEU!

minos

Como a ultima pergunta está muito relacionada a rivalidade entre os times, eu fiquei com  cara de UÉ, enquanto os meninos riam entre si.

Fechei o note, parti pra câmera e fiz as fotos que aparecem aqui. Com uma rotina que começa por volta das 8h00, todos exibiam fisionomias cansadas, afinal, e-atleta também se cansa!

Agradeço a Pain Gaming por ter nos recebido e toda paciência dos meninos!

Um salve pra galera da Riot Games (Mazza e o Rica) que ajudaram com os contatos do time e pelo suporte do Novo Nerd Guilherme Goulart, que bolou as perguntas, por último um valeu para o Álvaro Viveiros que sondou o pessoal nos fóruns e acompanhou a entrevista para garantir que eu não desse “first blood”.  

Fotos: Branca Galdino

Nerd: Branca Galdino

Profissão: mãe de menino. Apelido: véia louca dos gatos. Adora tecnologia, tem vários games em casa, mas não passa da 1ª fase do Galaga. Trabalha como Mídia e ouve Kpop. Crê piamente que "de Nerd e louco, todo mundo tem um pouco"!

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