Provavelmente o sonho de consumo de qualquer adolescente hoje é ganhar para ficar horas na frente do computador fazendo o que mais gosta: jogando!
Associe isso ao fator puberdade, onde os hormônios saltam, e morar fora de casa (longe dos pais pra ser mais precisa) é o segundo maior desejo de 1 em cada 10 adolescentes e você tem uma combinação explosiva que é o que todos imaginam: a vida de gamer profissional.
O Novo Nerd foi conhecer o Keyd Team, um dos principais, senão o principal time de League of Legends (o popular LoL) do pais e dá uma ideia como é a vida de quem largou sua cidade de origem, família, namorada, gato e até pais para entrar para o time e viver este sonho.
Como um time, o primeiro ponto é a união. Seguindo este raciocínio, morar junto foi o primeiro passo e melhor ainda: num espaçoso apartamento em São Paulo. Além dos jogadores, o coach e os donos do time, a ideia é ter um ambiente onde o foco é treinar e fortalecer o relacionamento para traçar as melhores estratégias. Com uma rigorosa rotina de treinamentos, o objetivo é levar a equipe para as finais do campeonato mundial em outubro. Afinal, além do desejo de ser o melhor time do mundo, pesa o fator que estamos falando de um campeonato onde no ano passado foram mais de 2 Milhões de dólares em prêmios.
Como são várias etapas até a final, é pensando na etapa Regional (dias 18, 19 e 20/07) no Espaço das Américas – SP, que todo o time embarcou na semana passada para um bootcamp em Lisboa, onde treinam até dia 13/07, enfrentando as melhores equipe europeias e adquirindo mais experiência para as etapas mundiais.
As vesperas da viagem, em meio a malas, fomos recebidos pelo Renan Phillip (Coach/Manager) e pelo Eduardo Kim (Proprietário), que contaram um pouco da história da Keyd e de como é a vida do gamer e os desafios de um time profissional:
NNerd Como surgiu o Keyd Team?
Eduardo Kim Há uns 3 anos, surgiu a ideia de formar um time para campeonatos e desde o ano passado, começamos a pensar na vinda de jogadores coreanos para deixar o time mais forte. Esta ideia de jogadores de outros países não é nova, mas escolher justamente jogadores coreanos, com a difícil barreira do idioma foi uma passo ousado e dai surgiu o KStars (nome do time da Keyd).
NNerd E como foi o processo de contratar jogadores coreanos? É como em outros esportes em que há um “olheiro” atrás dos melhores jogadores?
Eduardo Kim– Neste caso sim. Como havia a vontade de trazer jogadores de lá, “olhamos” as principais equipes e fomos atrás dos melhores. Neste caso, ponderamos as dificuldades de ter jogadores de lá em nosso time e previmos um período de adaptação (principalmente por conta do idioma) entre os membros da equipe.
NNerd Falando nisso, há uma grande curiosidade de como é a comunicação entre o time, pois diferente de outros games, em LoL sabemos que existe muita interação entre o time durante a partida.
Renan Phillip – No início foi mais difícil, mas trabalhamos muito nestes últimos 4 meses e os coreanos aprenderam o inglês essencial para que as partidas ocorram sem dificuldades, lógico que é mais difícil falarmos em coreano, mas assim como no amor a comunicação em campo flui. O Eduardo que é filho de coreanos acaba ajudando muito e faz toda a integração, mas na hora das partidas a gente acaba se entendendo e dá tudo certo!
NNerd E falando de viver como gamer profissional, a principal curiosidade é sobre quanto ganha um jogador. Como é esta conta? Existe um salário fixo como um jogador de futebol por exemplo?
Renan Philip – Existe um mix que compõe os rendimentos de um gamer. Em primeiro lugar ele é subsidiado pelo time, toda infraestrutura como casa, alimentação, viagens, assistência médica não gera nenhum custo para ele. O jogador ainda tem um salário fixo, quase que simbólico, pois o restante vem de patrocinadores que subsidiam o time. Por exemplo: quando você assiste um jogo pelo Twitch, você está contribuindo para a remuneração do gamer. No caso da Keyd, contamos também com patrocínios estratégicos para o time como rede, placas de vídeo e outros fatores fundamentais para o bom desempenho do time.
NNerd Como vocês enxergam o Brasil como uns país de eSports? Como é nossa posição neste ranking?
Renan Philip – Enquanto mercado estamos atrás dos EUA e Coreia apenas, talvez apenas por conta de infraestrutura (velocidade de conexão e conectividade com o restante do mundo). Hoje por exemplo é impossivel ter uma partida com um time nos EUA, devido ao delay de transferência de dados o que inviabiliza a partida.
NNerd É por isso que vocês estão indo treinar na Europa?
Renan Philip – Sim, como hoje os treinos são apenas com os melhores do rank brasileiros precisamos desenvolver técnicas para lidar com times de todas as partes do mundo, assim não ficamos “viciados” apenas em jogadas locais. A ideia do time é sempre aprimorar e desta forma conseguimos buscar mais perfeição. Afinal, que graça teria o futebol se o jogo fosse sempre entre São Paulo e Corinthians?
NNerd Falando de uma maneira mais nerd… os heróis que vocês jogam em campeonatos modificam o gameplay e escolha de combos em rankeadas diversas. Iremos ver novos campeões como fonte de bans ? Assim como Le Blanc e Shyvana?
Renan Philip – Há 300% de certeza que a medida que os heróis são equalizados pela desenvolvedora do game. Afinal, se um herói começa a ir muito bem, outro irá piorar e desta forma é feita uma calibragem dos heróis para que melhore o ruim e piore o mais forte. É conhecido como Ecossistema do LoL, assim você sempre tem uma gama variada de heróis.
NNerd Aproveitando que estamos falando do game, como é para o gamer quando é feita uma mudança como a vinda do novo Summoner`s Rift (uma espécie de mapa/cenário do jogo) ?
Renan Philip – Como você é profissional, a própria desenvolvedora convida para testar o novo mapa, neste caso o que acontece é uma adaptação da “memória mecânica” que o gamer desenvolveu. Ele precisa readequar para o novo cenários, pois no final mudam os gráficos, porém a estratégia é a mesma.
NNerd Como é a rotina de vocês? Tem alguma preparação especial: exercícios, alimentação, algum tipo de exercício mental pra deixar o cérebro mais “afiado” pro jogo, discussão de estratégias, revisão de partidas?
Renan Philip – Perto dos campeonatos o foco é um só, treinar e treinar. Numa rotina diária que inclui horário para acordar e horários para refeições e trabalho. O que posso dizer que é são no mínimo 8 horas diárias, em blocos de 2hs. O ponto relacionado a estratégias e melhoria da técnica do time é ajustado nos intervalos, onde praticamos o que é feito em campeonatos. 5 minutos de avaliação do que funciona, o que não funciona e como podemos melhorar.
NNerd E no tempo livre? Qual a principal atividade?
Renan Philip – Pode parecer incrível, mas é jogar! (Risos) Ter seu momento fora do time, escolher partidas.
NNerd Falando de furuto, o que acontece daqui a alguns anos quando as pessoas pararem de jogar LoL?
Renan Philip – O LoL é um fenômeno, e um dia com certeza vai acabar, mas eu prevejo que há uma vida de 5 ou 10 anos ainda para ele, na verdade o que precisamos observar é que os esportes eletrônicos são uma realidade, é a nova geração de entretenimento. Se em 1800 tínhamos jogos medievais com cavalos e lanças hoje temos os games, onde todos podem assumir o personagem que quiser e fazer disso um e-esporte. Se há 10 anos o sonho profissional era ser um “testador de games” hoje ser jogador profissional de games é uma realidade.
E após este bate papo em que tivemos um pouco da história do time, informações sobre os jogadores e todo universo que envolve um gamer profissional, agradecemos a disponibilidade do time.
Ficou claro neste tempo que sim, existe a profissão de gamer, mas hoje ela ainda é tímida, uma vez que o Brasil ainda é um mercado emergente neste segmento. Fica claro que o Keyd é fruto do sonho de alguém que também acreditou que era possível construir uma empresa fazendo o que se gosta. Não há uma fórmula pronta, mas há um mercado enorme para ser explorado.
Nosso agradecimento especial ao KeyStars (nome da equipe do Keyd Team) que mesmo em seu momento de descanso (!?) permitiram as fotos que ilustram esta matéria.
Mylon (Top Laner) – figurinha carimbada pra quem acompanha o cenário brasileiro e o Keyd, suas mecânicas muito boas e grande conhecimento do top são motivo de medo para seus adversários.
Loop (Utility Carry) – capitão e suporte, dispensa apresentações e é o porto seguro do time, sabemos que podemos contar com ele o tempo todo.
BrTT (Ad Carry) – vem de longa passagem pelo time da paiN, para formar uma das botlanes mais temidas do Brasil e por que não do mundo.
SuNo (Mid Laner) – Ex-jogador da SK Telecom T1, Samsung Galaxy Blue e Quantic Gaming. Com uma noção invejável na midlane e mecânicas extremamente avançadas, é o ACE, peça fundamental no time.
Winged (Jungler) – Ex-jogador da Najin Black Sword com a sinergia com SuNo e visão diferenciada da jungle.
Quer saber mais sobre a Keyd:
Site: http://keyd.com.br/stars/
Facebook: http://www.facebook.com/keydteam
Twitter: @teamkstars
Fotos: Branca Galdino