Com a internet cheia de Vingadores pra cá, Demolidor pra lá, notícias de Batman VS Superman e Esquadrão Suicida, vou fugir do mainstream e falar de duas séries que eu e minha esposa assistimos simultaneamente há dois meses.
Sherlock (BBC) e Elementary (CBS)
Quando eu for falar da série inglesa vou escrever Sherlock em itálico, pra não confundir a cabeça do leitor.
As duas séries têm o mesmo tema: Sherlock Holmes, personagem criado pelo escritor inglês Sir Arthur Conan Doyle em 1887. Mas ainda que o protagonista seja o mesmo, as duas séries traçam caminhos diferentes, cada uma com suas particularidades que me chamaram a atenção e que me fizeram curtir demais.
Sherlock é cinematográfica, parece que foi gravada em película (pesquisei mas não descobri se realmente foi em película). As tomadas de câmera são sempre muito pensadas e por diversas vezes muito amplas. A fotografia é linda!
Mas dá pra entender por que a série é tão bem produzida e com tanto cuidado.
A primeira temporada foi em 2010 e de lá pra cá só tiveram mais duas temporadas, e cada uma com três ou quatro episódios. Ou seja, a produção teve bastante tempo pra planejar tudo.
Não estou reclamando! Pelo contrário, foi justamente esse cuidado que me cativou.
Elementary não tem toda essa produção, ainda mais porque lança uma temporada por ano e cada uma tem 24 episódios! Parece muita coisa e faz parecer que o plano de fundo ficaria superficial. Talvez esse seja um ponto fraco. Os casos não são complexos o suficiente para instigar um personagem como Sherlock e, ao fim da temporada, parece mais uma série policial com um detetive excêntrico.
Eu queria que a série tivesse metade dos episódios, mas que cada um trouxesse a expertise do Sherlock ao limite, exigindo mais de sua capacidade dedutiva que lhe é tão peculiar.
Alguns episódios conseguem trazer essa característica, mas em sua maioria é o dia a dia de um escritório de polícia.
A genialidade de Sherlock é sempre evidenciada, sem dúvida, e suas deduções são sempre atalhos pra resolução de enigmas e antecipação de tragédias.
Mas o que me cativou em Elementary é o núcleo Sherlock (Jonny Lee Miller), Watson (Lucy Liu), capitão Gregson (Aidan Quinn) e agente Bell (Jon Michael Hill). Mas antes de entrar no relacionamento entre eles quero ambientar a série.
Sherlock Holmes é um ex-detetive consultor da Scotland Yard que agora vive em Nova York, depois de receber alta de uma clínica de reabilitação.
Joan Watson é uma cirurgiã experiente que largou a profissão após a morte de um paciente na mesa de cirurgia. Resolveu trabalhar como monitora de reabilitação, ajudando ex-viciados a se manterem na linha criando um ambiente familiar, confortável e sendo praticamente uma psicóloga a tiracolo.
Eu e minha esposa ficávamos comentando sobre as roupas dela durante a série. Muito estilosa a guria.
O pai de Sherlock então a contrata pra acompanhar o filho e tentar mantê-lo longe das drogas.
Sherlock é um personagem extremamente cativante, com trejeitos e roupas muito características. Jonny Lee Miller é brilhante, conseguindo trazer a atmosfera excêntrica do personagem e evoluindo sua personalidade durante a série.
Eu assisti a série dublada e após duas temporadas, quando tentei ver legendada não consegui. A voz não encaixava hahahaha (como assim?). Acho que me acostumei demais com o dublado e migrar para o original não é tão fácil assim. Aliás, excelente trabalho de dublagem!
O maior vilão de Sherlock, Moriarty, é surpreendente mas, infelizmente, pouco profundo. Talvez eu tive essa impressão porque quis comparar com o Moriarty de Sherlock da BBC (explico mais abaixo).
Elementary é uma série policial e não tenta ser engraçada, o que eu achei adequado, e tampouco se prende a originalidade da obra de sir Arthur. Mas não me incomodei com isso, achei aliás, muito bem adaptada.
Sherlock (BBC) já tem uma veia cômica, mas que nesse caso encaixou perfeitamente. É claro que o fato de ser um humor inglês ajuda, porque é irônico e sarcástico como se espera.
Nosso protagonista é narcisista e arrogante. No entanto, em vez de nos causar irritação, nos faz apaixonar por sua personalidade única. Ele não tem trejeitos marcantes, como o Sherlock de Elementary, mas é sua própria personalidade tão bem encenada por Benedict Cumberbatch (Hello Cumberbitches!! Haha) que faz com que o torne especial.
Watson (Martin Freeman, ou Bilbo, se preferirem), é como na obra de sir Arthur, um médico do exército aposentado depois de ter sido ferido em batalha. Nas duas séries Watson é uma espécie de muleta que Sherlock usa pra desenvolver sua linha de raciocínio. Mas com o desenrolar dos capítulos vemos a construção de um relacionamento de amizade e dependência forte.
Aos poucos ele vai se tornando muito mais humano, ainda que arrogante, e preocupado com o amigo, considerado por ele como uma pessoa comum, necessária para contrapor sua genialidade.
O relacionamento dos dois personagens é bastante intenso, praticamente um bromance, onde Watson transparece muito mais seus sentimentos do que Sherlock.
Os episódios são muito mais trabalhados, mais misteriosos, interessantes, assim como o relacionamento de Holmes com seu irmão Mycroft (Mark Gatiss, também autor da série). Os encontros entre os irmão são regados de discussões de ego e de longe as situações mais engraçadas.
Irene Adler (Lara Pulver) é uma personagem forte, linda e sensual, como deveria ser. Ela tem uma mente singular, o que faz com que Sherlock se torne vulnerável e se apaixone.
Os demais personagens que fazem parte do mundo de Holmes são igualmente interessantes, como Mary Morstan (Amanda Abbington), esposa de John Watson, que se mostra ser muito mais do que é.
A Sra. Hudson (Uma Stubbs) é uma fofa! Sempre preocupada com Sherlock e Watson, e por diversas vezes sugere que os dois são um casal.
O inspetor da Scotland Yard, Lestrade (Rupert Graves), defende Holmes com unhas e dentes, mesmo que Sherlock o trate como um ser inferior (mas ele é assim com todo mundo hahaha).
E Molly Hooper (Louise Brealey), a queridinha dos fãs. Molly é quem permite o acesso de Holmes a cadáveres e agentes químicos para suas experiências.
Mas o vilão… Moriarty em Sherlock é brilhante, um psicopata insano que Andrew Scott transmite com seus trejeitos e olhares. Toda vez que Moriarty aparecia na série eu sentia tremores no meu estômago, empolgado com um vilão louco e extremamente interessante que construíram.
Se eu fosse ter que responder qual série é a melhor, com certeza diria que é Sherlock. Ela é muito mais trabalhada, mais profunda, mais intensa. Sua direção é muito melhor, assim como a fotografia e a trilha sonora. Tem muita coisa pra se dizer sobre as duas séries, e eu acho que deveria me aprofundar mais, além de merecer um podcast. Mas o post ia ficar muito mais gigante do que já está.
Estou esperando ansiosamente e malucamente a 4ª temporada!
Se puderem assistir as duas séries assistam. Se tiverem que escolher uma, escolham Sherlock.
Ps.: Agora traduzir Elementary para “elementaríssimo” foi caído… hahaha