Tudo o que eu conseguia pensar após ver Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis era: é Marvel, mas não é Marvel! Admito que eu estava com medo, sem saber o que esperar. No estilo “torcendo pelo melhor, mas esperando pelo pior”.
Mas Shang-Chi se mostrou um filme simplesmente fantástico! Não sou profundo conhecer da cultura oriental, mas ele parece respeitar e homenagear esta cultura lindamente. Em muito momentos lembrei muito de O Tigre e o Dragão, principalmente na primeira luta. E claro, quando Michelle Yeoh aparece na tela (afinal ela estava presente em O Tigre e o Dragão).
Shang-Chi tem forte inclinação para a fantasia. O material promocional indicava que o filme contaria com a Grande Protetora e algumas outras bestas mitológicas, embora não houvesse nenhuma indicação real do grande papel que esses elementos fantásticos teriam no filme.
A mãe de Shang-Chi, Jiang Li, trazida à vida graciosamente e lindamente por Fala Chen, serve para apresentar aos fãs o reino de outras dimensões de Ta-Lo, onde a resolução do filme se desenrola. Ta-Lo mostra uma série de bestas mitológicas, incluindo Morris, uma criatura adorável sem rosto que ajuda nossos heróis e serve para ajudar Shang-Chi a se conectar com sua herança secreta e sagrada.
O ato final apresenta ação diferente de tudo que o UCM já apresentou.
É Marvel. Mas não é Marvel.
O que a Marvel Studios criou é algo não apenas diferente do que eles já colocaram em uma tela, mas também seu melhor esforço em recriar um personagem, seus personagens secundários e o mundo que eles habitam. O resultado é um filme original que rivaliza (e se conecta com) Homem de Ferro de 2008, apresenta um dos antagonistas mais desenvolvidos do UCM e estabelece um futuro que promete coisas maiores para o elenco principal do filme.
O filme nos apresenta a um novo herói e aborda as origens da organização Dez Anéis, que habitou o UCM desde o início. O prólogo conta a história da organização, o homem que a fundou e os dez anéis de poder que ajudaram a organização a moldar secretamente a história da UCM. Embora tenhamos bastante história de fundo sobre a organização, a natureza dos anéis em si permanece nebulosa mesmo quando o filme termina (e abre espaço para muitas teorias). Embora eles permaneçam parte integrante do filme, quase um personagem em si.
O diretor Destin Daniel Cretton com certeza merece muitos elogios pela maneira como habilmente usa o prólogo e os primeiros momentos do primeiro ato para preparar o público para que suas expectativas sejam subvertidas.
O grande confronto apresenta ação de tirar o fôlego e consequências de partir o coração. Parece um anime trazido à vida. A equipe criativa sofreu algumas grandes oscilações durante a batalha final e deve ser aplaudida por ser corajosa o suficiente para fazer algo tão diferente do que os fãs da Marvel estão acostumados a ver.
Sobre o que é Shang-Chi?
O trailer te prepara para ver uma coisa, mas o filme te entrega outra muito melhor. O que vemos é uma tragédia familiar em constante evolução, antes do ato final do filme entregar uma incrível história de fantasia digna da rica história de quadrinhos da Marvel.
Enquanto os trailers nos preparavam para a ação de artes marciais e confronto pai-filho, deixaram algumas surpresas para o público. Entre elas, a atuação de Meng’er Zhang como a irmã afastada de Shang-Chi, Xialing. Mas falo mais sobre ela mais abaixo.
É uma história de como o amor pode criar ou destruir, como o poder pode corromper ou capacitar e como, quando a família está envolvida, pode não haver um ponto sem volta. O filme é lindamente escrito a serviço dessas coisas e dirigido para enfatizá-las. Os criativos por trás do filme merecem elogios por trabalharem juntos para entregar um filme que consegue invocar empatia, simpatia e apatia no público. Quando você estiver assistindo a este filme, experimentará uma ampla gama de emoções.
Mas mesmo assim tem tudo o que estamos acostumados com o estilo de comédia que a Marvel costuma fazer, mas sem ficar forçado.
Shang-Chi é o futuro da Marvel!
Eu não conheço muito bem Shang-Chi, mas o filme já me fez amá-lo. E o ator, Simu Liu, é incrível. Senti por ele o mesmo que senti por Chadwick Boseman em sua primeira aparição como T’Challa.
Liu assume o controle total de Shang-Chi, um personagem que tem muito a fazer neste filme e para quem há planos claramente inacreditáveis para o futuro. Ele acerta perfeitamente no que é esperado: é em partes carismático, emocional e uma estrela de ação. Também digno de nota é a incrível química de Liu com Awkwafina, que interpreta a melhor amiga de Shang-Chi, Katy.
Os personagens
Aliás, todo o elenco é incrível, mas Awkwafina é o coração do filme! Ela vivencia todas as grandes reviravoltas junto com o público e consegue seu próprio tempo para brilhar. Será divertido ver a relação de Katy e Shang-Chi se desenvolver à medida que eles conhecem alguns dos personagens estabelecidos do universo.
Já Xialing é mantida em segundo plano pelos velhos hábitos de seu pai e decide trilhar seu próprio caminho sem seu pai e irmão. Zhang interpretou Xialing com confiança. Enquanto o enredo central do filme se resolve, Xialing se encontra posicionada para ser uma peça-chave no futuro próximo da UCM, talvez até no mesmo nível de seu irmão há muito perdido.
As aparições pontuais do Wong são fantásticas e o retorno de Ben Kingsley é simplesmente GE-NI-AL!
E o Vilão?
Wenwu (Tony Leung) é dono de cada segundo do tempo na tela. Sem dar spoilers, ele é tecnicamente o protagonista do filme e seu arco de personagem faz você pensar se não poderia ser Wenwu e a Lenda dos Dez Anéis.
Cretton usa de forma criativa os flashbacks para alterar a percepção do público de Wenwu para o avanço não apenas do enredo do filme, mas para a força geral da história. Seu uso de narrativas não lineares eleva o elenco e o filme de uma forma incrivelmente engenhosa. Seu investimento nesses personagens e neste mundo é um augúrio incrivelmente bom para o futuro da (s) franquia (s) que este filme original pode gerar.
Wenwu de Leung é um personagem totalmente original derivado da combinação de personagens clássicos e estereotipadamente ofensivos, o Mandarim e Fu Manchu, em um personagem totalmente novo e lindamente complexo. Ele é o que há de mais distante de um vilão chato de uma face só. Na verdade, ele pode ter o maior e mais gratificante arco de personagem do filme. Uma luta para encontrar um vilão único comparável na rica história do UCM.
O futuro de Shang-Shi e do UCM
Quase me esqueço de falar sobre as lutas: impossível não lembrar de Bruce-Lee e Jackie Chan. Principalmente no primeiro ato do filme, que parece um curta de artes marciais em homenagem a essas lendas.
O filme não deixa claro mas dá a entender que a história de Shang-Chi e de Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa ocorrem ao mesmo tempo.
A verdadeira medida do sucesso de um filme UCM é sua capacidade de revisitar algo, e este filme promete ser um que os fãs irão querer revisitar ao longo dos anos. As cenas de ação e os personagens adoráveis tornam isso uma certeza. Conforme o UCM cresce e evolui, os fãs só podem esperar que as novas primeiras entradas sejam como essa.
Como é dito no próprio filme: se preparem para algo novo, suas vidas nunca mais serão as mesmas. Nem o universo da Marvel.
Leia “ETERNOS: Romance de Sersi e Cavaleiro Negro será nos dias atuais“
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