Em julho a Editora Aleph lançou o último livro da trilogia Os Executores: Calamidade.
Iniciada em Coração de Aço, passando por Tormenta de Fogo, o autor Brandon Sanderson fecha o ciclo dessa série de fantasia/ficção muito bem, nos levando para um universo bem construído povoado com personagens muito carismáticos. (Já vou avisar, vai ser difícil fazer uma crítica/review de três livros juntos sem dar spoiler, mas eu prometo que não vou estragar nada da diversão dessa leitura!)
A premissa dos livros é interessantíssima e me fisgou: imagine que no mundo existem pessoas super poderosas. O que você faria com super poderes? E como reagiria se todos com super poderes fossem super vilões? A máxima “O poder corrompe” pode ser levada aos super heróis? Quando entendi essa premissa minha cabeça foi a mil. A ideia é ótima: pessoas comuns ganham super poderes e ao invés de virarem super heróis viram super vilões justamente porque se veem como superiores a humanidade. Esses super vilões criam hierarquias e feudos, onde cada um controla uma grande cidade. Podem até se confrontar, o que gera um rastro de destruição e quem é afetado são os pobres mortais.
Logo no primeiro livro, o vilão se chama Coração de Aço. Impossível não pensar no Super Homem e fazer uma analogia com Injustice, não? Então, não faça. Eu terminei o primeiro livro incomodado com isso justamente por fazer uma comparação com Injustice ou com outras histórias de super heróis. Os livros de Sanderson não são histórias de super heróis com poderes. São uma história sobre humanos, heróis sem poderes sim – mas nada a ver com a séries da Marvels. Sanderson criou um novo mundo, de forma completamente nova.
O protagonista da história é David, um jovem de 18 anos obcecado por esses seres super poderosos, buscando por vingança pela morte do pai. Ele então encontra o grupo de resistência chamado de Executores, que querem derrubar a tirania desse seres Épicos. Até então a história se parece com mais uma distopia, e por isso não devemos fazer comparações. Os super seres chamados de Épicos tem seus poderes que até podem se assemelhar a poderes de histórias em quadrinhos, mas toda a construção desse poder e desse mundo não se assemelha nada. E mais, a história não é sobre os Épicos, mas em como David e seus colegas executores buscam combater esses seres. Obviamente que existem alguns lugares comuns: o Líder Professor super inteligente que guia as ações da equipe, o cara grande e forte com o maior coração do mundo, a menina bonita e briguenta por quem o protagonista se apaixona. E isso não é ruim, já que Sanderson trabalha a construção dos personagens muito bem. E sim, vai ter um plot twist no fina do primeiro livro que vai te fazer querer ler o segundo livro. Assim como vai ter um plot twist no final do segundo livro que vai te fazer querer ler o terceiro. Mas a questão é que a narrativa te prende e a construção do mundo te prende. Isso porque apesar da curiosidade que você tem de querer saber dos poderes e fraquezas dos Épicos, a história está na humanidade dos personagens.
Spoiler Alert: Falei que ia tentar, mas preciso construir a narrativa de David, então preciso contar sobre os acontecimentos desses plot twists. Mas não vou causar demais, só um pouquinho….Ao final do primeiro livro, descobrimos que os Executores têm entre seus membros dois Épicos. Descobrimos que quando os Épicos usam seus poderes é que eles ficam alterados, prepotentes, inumanos. Se formos comparar isso aos heróis de HQ clássicos, esse é um argumento até fraco. Imagina, qual seria a graça do Thor se ele ficasse alterado ao usar seus poderes? Então ele deixaria de usar os seus poderes? Se compararmos esses argumentos, a nova ideia sempre vai parecer mais fraca, já que o argumento sobre qualquer super herói Marvel/DC já está tão enraizado em nós que vamos repelir. Por isso não podemos comparar somo seria se o Super Homem virasse um vilão como no livro de Sanderson. Quando entendi isso percebi que ele criou um mundo interessantíssimo! Coração de Aço transforma matéria não viva em metal. Assim, Nova Chicago é uma cidade inteira de metal, onde nada orgânico vive. Nova York tem um Épico que controla água e as marés, então toda cidade vive em função da água que a cerca. Entendendo os Épicos vamos entendendo suas fraquezas, e como isso se relaciona a vida passada deles. Então você percebe a beleza desse universo! Porque ele é até simplista, mas ao mesmo tempo único. No terceiro livro, Calamidade, os Executores encontram uma cidade feita de sal, onde ela se move – crescendo prédios de sal novos e destruindo antigos de acordo com seu movimento. É de uma criatividade única isso, criar poderes e como eles se relacionam com o ambiente e como as pessoas lidam com essa nova distopia. Me lembrou um pouco o universo criado pelo George Martin em Wild Cards – mas esse acaba se diferenciando pela alternância de autores que vão criando suas visões sobre a história – e consequentemente forma de narrativas diferentes. Sanderson traz o melhor dessa criação fantástica, sem rebuscar demais, com personagens que você se identifica.
Ok, é um universo jovem/adulto, o que significa que as tramas mesmo com reviravoltas são mais simples do que um Game of Thrones. Sim, existem soluções Deus Ex Machina, onde o super herói emerge de repente para salvar o dia – mesmo sendo que o termo herói talvez não seja a melhor definição. Existe o clima de romance entre o protagonista e a mocinha lutadora. Mas esses elementos não são chaves para a história e são muito bem manipulados durante a saga. A história de Megan inclusive é ótima, tanto que o autor deixou ela como destaque no segundo livro! Outra coisa me que chamou atenção é como a escrita melhorou do primeiro para o último volume! Brandon merece os prêmios que recebeu, e claramente evoluiu a trama durante a saga e aprofundou os personagens, mas sem tornar cansativo. A reviravolta que acontece com o Professor no segundo livro guia todos acontecimentos de Calamidade. E parece até que falta mais tempo, que a história poderia se desdobrar mais, porque você vai lendo e chegando ao final do livro sem querer que ele acabe. A amarração feita com o primeiro volume Coração de Aço é ótima, você relembra as motivações de David de lutar contra os Épicos, mas vê eles como humanos, não monstros. E ao fim, fica o gostinho de querer conhecer mais as cidades, os Épicos e do desdobrar dos acontecimentos com David e os Executores.