Nos dias 17 e 18 de dezembro tivemos o Ressaca Friends 2016, evento que fecha o ano para nós, otakinhos de plantão, hehe. E no domingo aconteceu mais uma vez a mesa redonda de editoras de mangás, dessa vez sem a participação na Nova Sampa, por problemas pessoais do representante.
Todos sabem e sentiram na pele os efeitos da crise no nosso país nesse ano, e foi muito interessante ouvir as editoras falarem sobre como isso as afetou – e, comparando com as conversas que ouvimos nas edições anteriores do Ressaca, as dificuldades econômicas que o país tem enfrentado afetaram muito o mercado editorial, resultando em um ano bem conturbado.
Como foi 2016 para as editoras de mangá no Brasil?
E foi assim que começou o bate-papo, como sempre, querendo saber como foi o ano para cada editora. O Cassius Medauar, Gerente de Conteúdo da JBC disse que foi um ano difícil, no qual a editora teve que fazer muitas alterações em seus planos, pois a crise tem impacto sobre várias partes do trabalho (papel, gráfica, licenciamento…). Com isso, optaram por enxugar a grade e trabalhar melhor os títulos.
O Júnior Fonseca, fundador da NewPOP, concordou com o Cassius ao contar que o ano foi meio complicado. Ainda não conseguiram lançar alguns dos títulos que foram anunciados, mas conseguiram finalizar algumas séries que estavam sendo publicadas e algumas novidades. Apesar dos pesares, o Júnior convidou a todos para o segundo NewPOP Day, evento que comemorará os 10 anos da editora no dia 21 de janeiro, com boas notícias!
E segundo a Beth Kodama, editora da Panini Mangás, o ano foi razoavelmente tranquilo em termos de venda, mas disse que foi muito corrido por falta de pessoal na equipe, o que causou problemas de produção e atrasos nas edições. Porém, mesmo com os ajustes no calendário, a editora teve muitos lançamentos – 25 títulos – e expandiu cerca de 12% de seu catálogo,
Que medidas “fora da caixa” foram pensadas para correr atrás do consumidor que deixou de comprar mangás nós últimos tempos?
Como sabemos, há um bom tempo a NewPOP tirou seus produtos das bancas de jornal e agora vende suas publicações pela loja online e em lojas especializadas. Além disso, estão sempre preocupados em marcar presença nos eventos com seu próprio stand, disponibilizando suas publicações para os visitantes a preços excelentes. Eles também focaram sua publicidade em anúncios de revistas do nicho, e contam com o apoio dos influenciadores digitais. Como grande diferencial, uma das preocupações da editora é sempre manter o catálogo disponível para o leitor, ou seja, disponibilizando sempre um grande número de suas publicações, principalmente das primeiras edições. #palmasparaanewpop
Já a Panini, por ser uma editora internacional e com mais possibilidades para tal, aumentou a publicidade, divulgando suas publicações na TV, no metrô, etc. Também fizeram muitas alterações no catálogo e escolhas diferentes do habitual, como o aumento na venda de mangás em formatos diferenciados. A Beth falou sobre a preocupação da editora em colocar a disposição um catálogo muito variado para que o leitor possa escolher o que quer ler e ter a possibilidade de comprar, e para isso a editora sempre tenta manter o baixo custo. Também foi comentado sobre um provável aumento – não muito significativo – no preço dos mangás, já que os impostos vão subir em 2017.
Por último, a JBC comentou sobre a aposta no Henshin Drive para tentar manter os leitores que são perdidos para a concorrência de outros meios de comunicação mais atrativos. A editora também tem investido muito em títulos com edições de luxo para colecionadores, sempre estudando meios de fazer coisas diferentes para atrair novos leitores. E, apesar de a maioria de seus títulos estarem disponíveis em bancas de jornais, passaram a escolher melhor o que seria levado para as bancas e o que teria lançamento exclusivo em lojas especializadas. Portanto, se você quiser algum título da editora e estiver tendo dificuldades em encontrar, procure em uma das grandes livrarias!
As três editoras também comentaram sobre como são as negociações de títulos nos dias de hoje com os japoneses. Nos contaram que, com o aumento de vendas de mangás no Brasil, elesestão pedindo cada vez mais informações de como o título será tratado pela editora; muitas vezes é necessário apresentar um projeto, destacando qual será o diferencial daquela editora para que ela possa fazer com que o título venda bem aqui. Disseram que está cada vez mais complicado ganhar a concorrência de um titulo, pois tudo depende de propostas melhores e a maior dedicação ao titulo que cada editora pode oferecer no momento. Pois é, os autores e editores japoneses são superprotetores com seus títulos e querem acompanhar de perto a qualidade exigida, por isso muitas vezes muitos títulos que todo mundo quer não são trazidos para o Brasil, ou os lançamentos atrasam: não depende só de quem está do lado de cá. Tudo depende da aprovação dos “donos” do mangá.
“Elitizar” os mangás?
Quando o Cassius comentou sobre as edições de luxo para os colecionadores, logo foi questionado se a situação não criaria uma “elitização” dos mangás, como a editora Abril, segundo o mediador do bate-papo, fez em 2000 com os quadrinhos quando o país passou por uma crise parecida.
“Não da pra comparar as duas situações, são momentos muito diferentes”, respondeu Cassius. “Nunca tivemos tantos quadrinhos sendo publicados e o movimento que está sendo feito (pela JBC) é começar a ter edições de luxos para colecionadores, porque não tinha”.
Portando, muita calma nessa hora! A JBC não está substituindo suas publicações de preços acessíveis por edições de luxo. O que acontece é que eles também estão entrando o nicho de colecionadores, querendo fazer parte de um mercado mais maduro, com opções para todos os gostos.
O Júnior completou a resposta do Cassius dizendo que os formatos e os custos das edições devem ser trabalhados para atender a necessidade de cada público específico, ou seja, os produtos de massa e os de nicho. Cada publicação deve ser analisada de uma forma diferente, dependendo de inúmeros fatores, fora a qualidade do Japão que, como vimos, deve ser mantida no Brasil.
Como vai ser 2017? E os anúncios?
Para finalizar, o mediador pediu para que as editoras falassem um pouco sobre o que esperam do próximo ano, e se os títulos que foram anunciados anteriormente, mas ainda não foram lançados, sairão em 2017. A Newpop começou a discussão dizendo que o leitor brasileiro é mal acostumado, e eu concordo plenamente, principalmente quando vemos as cobranças mal educadas que são feitas as editoras, sem levar em consideração o que elas passam para lançar os títulos aqui. O Júnior disse que eles querem muito lançar o que já foi anunciado, mas o leitor tem que entender que anunciar um lançamento não significa que será lançado em breve, a editora só quer compartilhar a alegria de terem conseguido trazer um título, e que estão fazendo de tudo para lança-lo o mais rápido possível. Infelizmente, dessa vez, não tivemos nenhum anúncio. Parece que a editora está guardando as surpresas para o NewPOP Day! 😉
A Beth confirmou alguns anúncios da Panini e suas datas de lançamento, como Sherlock Holmes que deverá sair em fevereiro e Wanted!, que está previsto para março. Ela também falou sobre uma “novidade surpresa” que deverá vir em abril, mas ainda é segredo! Poxa, Beth! xD
Já a JBC disse que há 2, 3 anos fazia sentido anunciar e lançar muitos títulos, mas que nesse ano, por causa do mercado, isso mudou, e eles decidiram por não fazer mais anúncios em eventos. Continuarão a seguir o próximo ano com uma grade mais enxuta, querem lançar o que já foi anunciado, mas não pretendem fazer loucuras em 2017, tendo como foco o fortalecimento de sua grade de títulos.
Para terminar a conversa (e o meu post, hehe), foi comentado sobre o tão aguardado relançamento de Akira, que só vai sair no ano que vem, mesmo. Ele nos contou que tiveram uma reunião sobre o mangá na CCXP, e que já foi a segunda vez que a editora teve que fazer e apresentar testes impressos para os japoneses checarem as cores e a qualidade de impressão do primeiro volume, e que eles estão muito preocupados que essa qualidade seja mantida. O Cassius disse que foi uma boa reunião, mas que a espera vai ser maior porque a equipe do Japão pediu mais alterações. Ele deu um chute de que talvez essa última aprovação saia em uns 2 meses e, se tudo der certo, o primeiro volume será lançado no primeiro semestre de 2017.
Viram só, meus padawans?! A gente adora reclamar sobre os atrasos, os preços e os poucos títulos anunciados, e muitas vezes nem nos damos ao trabalho de pensar em todas as dificuldades que as editoras enfrentam no processo de trazer nossas séries favoritas para serem publicadas aqui. Então vamos ter paciência, porque como diz a sábia Jout Jout, tá todo mundo mal. Não tá fácil pra você, pra mim, e nem pras editoras. Por isso o apoio é sempre tão importante! 😉
Vejo vocês no NewPOP Day! Estão tão curiosos quanto eu para saber as novidades? Podem deixar que conto tudo depois pra vocês. 😀
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