Primeiro livro da série Dustlands (e o único lançado no Brasil até agora), Caminhos de Sangue é uma distopia em um futuro de desertos, miséria, violência e injustiça. Esse mundo nos apresenta a Saba, que com muita simplicidade e sinceridade nos conta a história de como saiu da Lagoa da Prata, único lugar que conhecia desde pequena, para procurar seu irmão gêmeo Lugh, que foi raptado pouco depois do aniversário de 18 anos deles por quatro cavaleiros misteriosos e levado para longe depois de matarem seu pai. Além de toda a miséria que a cerca, temos um começo desses. Ah, esqueci de contar que eles têm uma outra irmã, Emmi, por quem Saba guarda um grande ressentimento, pois foi ao dar a luz a Emmi que a mãe deles acabou falecendo. Sim, desgraça pouca é bobagem.
Saba é extremamente apegada a seu irmão, Lugh. A admiração por ele é visível do começo ao fim do livro. Tanto que quando ele é raptado, Saba não pensa duas vezes: seu único destino é encontrá-lo, não importa aonde ele esteja. Ele tem que estar em algum lugar, vivo, e ela vai resgatá-lo.
“O Lugh nasceu primeiro. No solstício de inverno, quando o sol fica bem baixinho no céu.
Depois fui eu. Duas horas depois.
Isso já diz tudo.
O Lugh vai primeiro, sempre primeiro, e eu venho atrás.
E assim tá bem.
Assim tá certo.
É assim que tem que ser.”
Com a morte de seu pai, Saba não pode deixar a pequena irmã por conta própria, e decide deixá-la na casa de uma amiga da família, seguindo o caminho que o pai havia lhe ensinado. Após dias de viagem agravados pela lentidão da pequena irmã, elas finalmente chegam em Dois Riachos, onde encontram Mercy. Ela concorda em cuidar de Emmi, e finalmente Saba pode partir em busca de seu irmão na companhia apenas de seu inseparável corvo Nero. Mas é claro que Emmi não quer ser deixada para trás, e parte para se encontrar com Saba no caminho, o que só deixa a irmã mais velha ainda mais furiosa. Após Emmi se negar veemente a voltar para Dois Riachos, as duas seguem viagem, e acabam encontrando um casal no meio do deserto que viajava com uma espécie de barco. Eles oferecem carona para as duas até Vila Esperança, onde Saba espera encontrar Lugh, ou algum sinal de para onde ele possa ter sido levado. Mas claro que pelo histórico de terríveis acontecimentos na vida de Saba, esse não poderia ser diferente. Elas acabam sendo prisioneiras do casal.
Saba é uma personagem incrível. Ela é forte, decidida, astuta, e como citado muitas vezes no livro, atrevida e teimosa. O que a torna valiosa para o casal, que vêem nela uma campeã e a levam até Vila Esperança para lutar na Jaula. Sim, porque não basta a mundo estar um caos, a fome, a morte dos pais, o sequestro do irmão e serem prisioneiras. Ela acaba sendo levada para este tipo de arena, onde deve lutar com outras garotas por sua vida, e para o entretenimento da população de Vila Esperança. O único jeito de sobreviver é ganhar, e ganhar significa que alguém vai perder. Quando uma garota perde 3 vezes, ela acaba passando pelo “corredor”, onde aqueles que assistem a luta terminam o serviço que a oponente não fez. A fúria de Saba a torna o Anjo da Morte, invicta, perigosa e selvagem. E é aí que o bicho pega.
É onde a história começa a ficar interessantíssima. Até aí, confesso que eu tinha demorado muito pra ler, largando a leitura várias vezes. Mas Saba me conquistou por ser tão forte, por ser tão dedicada e focada. Ela resiste a tudo que pode e nunca desiste de saber o que aconteceu com seu irmão. Não há frescuras de amor, não há problemas de adolescente. Há uma irmã desesperada por encontrar seu irmão, e fará o que for necessário em um mundo intolerante para encontrá-lo.
Aliás, tem um ar de romance no ar. Mas Saba é tão durona, orgulhosa e desacostumada a ter esse tipo de sentimento que mal deixa isso transparecer. Para nossa alegria. Adoro um romance, mas na medida certa que combine com cada personagem. Já contei mais do que deveria sobre a história então não vou me estender nesse assunto, fica de surpresa haha. 🙂
O livro me surpreendeu a cada página. A história é muito bem construída, os personagens são excelentes e o modo como tudo acontece é bem realista. A única coisa que achei rasa e forçada foi a história de um rei. Sim, tudo é controlado por um maldito rei que não lembro o nome, vou chamá-lo de Paola Bracho (não explico por spoiler), que subjuga as pessoas com drogas e miséria. Mas não entendi… Ele era um rei odiado por quase todos, e ninguém nunca fez nada pra acabar com esse reinado dele? A coisa toda parece um tanto quanto precária, parece um rei de improviso, de brincadeira. Ficou superficial pra mim. Mas, fora isso, todo o resto é de tirar o fôlego.
Ao longo do caminho Saba faz importantes aliados para ajudar em sua busca e em sua luta com o destino, como as Gaviãs Livres e Jack. Uma coisa que achei incrível e é pouco comum nos livros que já li é juntarem “mó galera” pra ajudarem ao longo do caminho que Saba deve percorrer até descobrir o que aconteceu com Lugh. Em outras histórias vemos aquele heroi solitário que parte em sua jornada quase sem a ajuda de ninguém. Aqui, não. As forças aliadas são importantes, e muito necessárias. Muito inteligente! Bem mais realista do que aquela única pessoa com um único ato heroico que salva tudo.
A linguagem usada no livro é característica de um povo sem instrução, e quando procurava opiniões para ver se comprava ou não o livro, vi muitas pessoas reclamando disso, que “tem várias palavras escritas erradas no livro, dificultando a leitura”. Eu não achei, é um dialeto que nos ajuda a compreender a realidade em que os personagens vivem. Dá ares rústicos a Saba e as pessoas ao seu redor, e isso é bem ressaltado quando um dos únicos que fala corretamente é um viajante que lia livros. Poucas coisas restaram da nossa civilização, e as pessoas da época de Saba se preocupam mais em sobreviver do que com instrução.
“E com o pai é igual. Um dia de cada vez, o que tem de melhor nele vai murchano. Sabe, ele já num tá bem faz tempo. Desde que a Mãe morreu. Mas o Lugh tá certo. Que nem a terra, o Pai tá ficano pior e os olhos dele observam cada vez mais o céu em vez de enxergar o que tá aqui na frente dele.
Acho que ele nem vê mais a gente. Não pra valer.”
Saba passa por todos os tipos de perrengue em sua jornada, por situações que exigem um caráter forte. Sua sanidade, seu físico e sua índole são testados constantemente, além de não poder saber em quem deve ou não confiar para ajudá-la. Sua determinação é cativante e admirável. Mas, mesmo depois de tudo que passou, ela não se deixa endurecer ao ponto de não saber valorizar as pessoas que têm ao seu lado. Mas não é para menos! Mesmo aparecendo muita gente ruim pelo caminho, tem sempre aqueles que valem a pena. E alguns me encantaram! Sério, já disse e vou repetir: esses personagens são deliciosos de ler! <3
Para quem busca uma boa história, bons personagens e um bom tempo com um livro, mais do que indico Caminhos de Sangue. Saba se tornou uma grande heroína para mim. Mas, nem tudo são flores… Não fiquei satisfeita ao terminar a leitura. O livro começa um pouco lento, tem um meio incrível, mas um final medíocre (na minha opinião sensível haha). Estava tudo certo para ser um final porreta, e deram uma cagadinha. Fiquei decepcionada, mas não foi nada que invalidasse toda a história que eu li, e continuei curiosa para ler a continuação. Que pelo jeito, não terá no Brasil. Pelo que vi por aí, a série conta com três volumes:
A promessa da capa para mim foi cumprida! Como fã de Jogos Vorazes, dos livros que prometem seguir o mesmo estilo, foi o melhor que li até agora! Me empolguei mais na leitura e fui mais cativada pelos personagens do que no Divergente. 🙂