Joël Dicker, um Suíço nascido em Genebra, tem uma carreira meteórica. Chamou a atenção do público pelo sucesso de A Verdade Sobre O Caso Harry Quebert [La Vérité sur l’Affaire Harry Quebert]. O romance, lançado na França em 2012, ganhou o Grande Prêmio de Romance da Academia Francesa.
As editoras e a crítica, contudo, já conheciam Joël pelo seu primeiro romance – Os Últimos Dias De Nossos Pais [Les Derniers Jours de Nos Pères], que havia ganho o Prêmio dos Escritores de Genebra de 2010, quando o escritor tinha apenas 25 anos.
Os Últimos Dias é um romance histórico, ambientado na segunda guerra mundial, e tem como protagonista Paul-Émile, um jovem francês que decide se unir à resistência contra a ocupação alemã. Paul acaba sendo recrutado, treinado e devolvido à França como um agente infiltrado do serviço secreto britânico.
O protagonista possui uma estreita ligação sentimental com o seu pai, um viúvo de idade avançada, preso à uma rotina massacrante de desesperançada de pequeno burocrata. O filho é o centro da sua vida. A culpa de Paul por abandonar o pai ao se unir ao esforço de guerra terá um papel decisivo no desenrolar da trama.
A SOE tinha sido idealizada pelo próprio primeiro-ministro Churchill no dia seguinte à derrota inglesa em Dunquerque. Consciente de que não poderia enfrentar os alemães com um exército regular, decidira inspirar-se nos movimentos de guerrilha para combater no interior das linhas inimigas. […] a Executiva recrutava […] estrangeiros na Europa ocupada, treinava-os e formava-os na Grã-Bretanha, despois os enviava a seus países de origem, onde eles passavam despercebidos em meio à população local, para executar operações secretas […].
Durante o seu treinamento, Paul-Émile será companheiro de um grupo de postulantes a agentes, em sua maioria expatriados, que se tornarão uma segunda família. Stanislas, Aimé, Gordo, Key, Faron e Claude, entre outros, compõem uma diversidade de personagens que dá riqueza à narrativa. Em meio a eles, está Laura, por quem Paul-Émile se apaixonará, assim como os seus colegas.
A trama acompanha todo este período de treinamento, as primeiras missões e estende-se até a queda de Berlim.
É muito difícil analisar Os últimos dias sem traçar uma comparação com A verdade. O segundo livro é um suspense divertido, com bons plot twists (viradas na trama). Esta é a principal característica de Joël – ser um escritor imaginativo. Ele tem, ainda, algumas outras características que o ajudaram a alcançar o sucesso. Sua narrativa é fluída. As histórias que conta se desenvolvem de forma rápida, ao gosto dos novos leitores.
Nem tudo, entretanto, são flores.
Mesmo que uma narrativa fluída seja elogiável, Os Últimos Dias de Nossos Pais possui história demais para páginas de menos. Há muitos personagens, muito pano de fundo, muitos cenários e um período de desenvolvimento da trama longo demais para as suas cerca de trezentas páginas. O livro contém boas ideias, em especial as que envolvem um dos personagens, o diretor do serviço secreto alemão em Paris, Kunszer. Estas ideias, todavia, não são bem aproveitadas na superficialidade que Joël imprimiu à narrativa.
Traçando um paralelo, A verdade A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert retrata um universo mais enxuto e contemporâneo, onde não há necessidade de longas ambientações do leitor, um número menor de personagens e uma história quase integralmente focada no personagem principal. O livro possui cerca de seiscentas páginas. Ou seja, fica claro que Joël Dicker, em A Verdade,compactou a história, provavelmente por ser o seu romance de estreia. Se atingisse as quinhentas páginas que deveria, ao menos, ter, sua publicação seria dificultada.
Joël tem, ainda, um problema com diálogos. Mesmo os seus personagens mais complexos possuem falas que resvalam para a infantilidade. Isso á algo que incomoda bastante durante a leitura.
Ao final, Os Últimos Dias de Nossos Pais fica indicado para quem quer conhecer um pouco mais sobre a Segunda Guerra Mundial, em especial a resistência à ocupação alemã da França. A leitura é rápida e agradável, deixando na boca do leitor, todavia, o gosto de que o livro poderia ter sido melhor.