O ano era 2002 e o cinema de ação havia passado há pouco pelo fenômeno Matrix, que mudou completamente a maneira de se pensar filmes de ação. O que antes eram os thrillers empolgantes e focados em cenas filmadas com atores e dublês e cheias de efeitos práticos havia se transformado numa maré de clones de bullet time e filmes com efeitos digitais como centro da ação. Matrix é um filme incrível, mas não deixou descendentes e “ocasionou” praticamente uma década perdida no cinema de ação. Identidade Bourne não solucionou o problema, mas era bem diferente do que estávamos acostumados e fez relativo sucesso de público e crítica.
Baseado nos romances Robert Ludlum traz a personagem principal, Jason Bourne, como um 007 dos tempos modernos, um agente secreto sem glamour, imensamente competente (a ponto de ser quase mecânico) e contestador de seu passado e das coisas que já fez. Na verdade a relação de Bourne com seu passado é o foco central de toda a ação do filme e de suas sequências. Quem é Bourne, pra quem trabalha, qual sua função, por que é tão competente? Nem ele sabe, já que começa o filme com a memória perdida (memória esta que jamais recupera). O filme em si é um competentíssimo thriller de ação que toca temas mais profundos, mas nada além disso. Em 2004 as coisas começaram a ficar mais sérias!
Para sua sequência, Supremacia Bourne, sai o competente diretor Doug Liman e entra o genial Paul Greengrass que aproveitaria a chance para fazer sua marca na indústria cinematográfica. Supremacia é um filmaço, muito mais profundo que Identidade, desvia um pouco da ação e foca no drama do homem sem memória em busca do seu passado. As cenas de ação aqui apresentam uma câmera mais tremida, típica da cinematografia de Greengrass, que dá uma tensão a mais ao filme, mas que atrapalha um pouco o entendimento das cenas. Neste ponto os filmes de Bourne já eram um marco do cinema de ação, resgatando um espírito perdido na década de noventa e apresentando cenas de luta empolgantes (em decorrencia do uso do Krav Maga) e perseguições motorizadas insuperáveis. No entanto, o melhor ainda estava por vir.
Em 2007 saía o final da trilogia, Ultimato Bourne, que é o melhor dos três. Em Ultimato Greengrass conseguiu a fórmula perfeita. Aprofundou ainda mais os questionamentos pessoais de Bourne (inclusive dando respostas), acrescentou importantes questionamentos políticos e ainda diminuiu o treme-treme das câmeras e fez as melhores cenas de ação de toda a saga. Ultimato é um grande filme, em minha opinião o melhor filme de ação filmado desde Matrix e é um dos grandes filmes da excelente carreira de Paul Greengrass.
Após a trilogia ainda houve um spin-off, sem a personagem principal, chamado Legado Bourne, que é muito inferior aos filmes anteriores. Um quinto filme está confirmado, ainda sem Jason Bourne, já que Matt Damon já declarou que não volta ao personagem sem a presença do diretor Greengrass.