No cinema dos anos 80, 90 e até o início dos anos 2000, antes de as franquias dominarem Hollywood e serem a palavra de ordem dos estúdios, o que definia o sucesso ou não de um filme eram os astros e estrelas no pôster. Quando as franquias de fato assumiram e no ano de 2001 era lançado nos cinemas o filme Refém do Silêncio.
Para a Fox não importava se o público sabia ou não da história, o que importava era o Michael Douglas ali presente de cara limpa na divulgação do filme. Ter aquele ator ou atriz com muitos fãs era o que levava o público ao cinema e vários filmes “salvaram” sua bilheteria tendo o rosto do astro estampado.
Refém do Silêncio é um filme de 2001, e esta data é muito pertinente para definir o insucesso dele (custou 50 milhões e faturou 100 nas bilheterias mundiais), já que no mês de setembro daquele ano ocorreu a tragédia das Torres Gêmeas em Nova York. O filme estreou nos cinemas americanos justamente no final de setembro de 2001 e a trama se passa em… Nova York. Poderia muito bem ter sido adiado, mas o estúdio não valorizou o material que tinha nas mãos.
A história se passa no Dia de Ação de Graças na Big Apple, onde o psiquiatra Nathan Conrad (Douglas) tem sua filha sequestrada, a casa monitorada e ao invés de os sequestradores pedirem dinheiro, pedem um número de 6 dígitos que está na mente de sua nova paciente Elisabeth Burrows (Brittany Murphy, ótima no papel) e então começa uma desesperada corrida pela vida.
Mas quem conhece o mínimo de psicologia sabe que já é difícil um profissional da área conseguir a confiança de seu paciente, ainda mais uma informação tão importante como essa e em pouquíssimo tempo. Aliás, na época muitos não gostaram do filme justamente pela trama inverossímil e o clima de fantasia, mesmo sendo este um thriller.
De fato, há muitos furos de roteiro, o 3º ato é péssimo e o motivo pelo qual os criminosos querem o número chega a ser patético, mas dá sim para trabalhar a suspensão de descrença, se divertir e se levar pela trama.
O filme é baseado no livro de Andrew Klavan e é dirigido pelo Gary Fleder (de Beijos que Matam) e embora tenha ido mal de bilheteria nos EUA por motivos óbvios, se recuperou nas bilheterias mundiais. No Brasil o filme também não fez feio, se recuperou no home vídeo em 2002 (sim, ainda existiam locadoras na época) e sempre dava audiência alta nas reprises da TV nos anos 2000.
A crítica detonou o filme (só 24% de aprovação no Rotten Tomatoes), mas algumas críticas foram injustas, aliás, as qualidades superam as falhas, já que há uma boa ambientação em mostrar a imponência de Nova York, é um deleite para profissionais, estudantes de psicologia e também diverte muito seu público.
É um suspense eficiente, que prende e vicia o espectador, a trama é bem conduzida, o clima de tensão é muito presente e mesmo tecnicamente o filme funciona, como em sua fotografia em tons de azul, e montagem frenética e a trilha sonora tensa.
Isso sem contar o seu maravilhoso elenco: Sean Bean (sim, o Ned Stark de Game of Thrones) consegue ser assustador e caricato ao mesmo tempo, mas que funciona por aqui; Famke Janssen faz a esposa de Nathan que ficou tetraplégica após um acidente e a atriz estava em alta na carreira na época, sobretudo com a sua Jean Grey de X-Men. Jennifer Esposito faz a policial determinada a ir até as últimas consequências da trilha dos criminosos; Oliver Platt faz o colega de Nathan, que também acaba caindo na armadilha do vilão e é um ponto chave da história.
Um grande destaque também é Michael Douglas como o protagonista e uma mistura de desespero pela filha, relação também paternal com a sua paciente e às vezes ele se assume como herói de ação.
Mas a melhor personagem é a saudosa Brittany Murphy, que faz aqui um belo estudo de personagem e sua Elisabeth é um misto de paciente perturbada, querer que sua voz seja ouvida, trauma com a morte do pai e a doçura de quem perdeu tudo para a vida. E ter revisto este filme só aumentou a saudade desta atriz maravilhosa, que infelizmente morreu em 2009 e estava em alta neste início de anos 2000, com sucessos como Sin City, 8 Mile e Recém-Casados.
Aliás, outra atriz de Refém do Silêncio também já nos deixou: Skye McCole, que faz a filha de Michael e Famke infelizmente morreu em 2014 aos 21 anos de overdose.
Refém do Silêncio infelizmente é marcado por tragédias, não foi tão bem de bilheteria, mas não merece total desprezo, ainda mais que estamos tão carentes de um suspense que funcione e este é um prato cheio para fãs do gênero.
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