Quatro Dias Com Ela é um drama de 2020 (mas lançado nos EUA em abril de 2021), que está indicado ao Oscar de Melhor Canção pela música Somehow You Do, dirigido e escrito por Rodrigo Garcia (Albert Nobbs, Passageiros), é inspirado na história real da Amanda Wendler e logo nos primeiros minutos vemos uma filha desesperada para entrar na casa da mãe e claramente com o organismo dominado pelas drogas.
Essa filha é a Molly (Mila Kunis, ótima no papel) que perdeu tudo por conta do vício das drogas: perdeu dinheiro, empregos, a guarda dos dois filhos e o respeito pela mãe Deb (Glenn Close, sempre ótima). A mãe reluta para aceitar a filha de volta e apoiar a filha no novo tratamento, mas acaba ficando ao lado dela, mas descobrimos que as duas não se dão muito bem de início. A relação está conturbada há anos e além da luta contra o vício, elas terão que reaprender a conviver juntas e o tratamento vai durar 4 dias (daí o título do filme).
O filme passou batido por muita gente, teve uma distribuição bastante tímida, mas agora tem a chance de ser descoberto por um público maior. Teve uma mísera indicação ao Oscar de Melhor Canção e embora mereça pela qualidade da música, o filme merecia mais.
Pode não ser perfeito, pois embora o show seja das atrizes principais, os demais personagens não são bem explorados, como o próprio marido de Deb, sua outra filha, que é advogada, bem-sucedida e todos os que estão em volta.
É um drama com uma produção modesta, simples em sua essência, mas poderia trabalhar melhor no elenco coadjuvante.
Mas dentro da proposta dele, Quatro Dias Com Ela acerta muito. Não é um filme para todos, pois não tem sutilezas para tratar de um assunto tão importante e pesado como as drogas, ao contrário, é cru, verdadeiro e intenso.
Sem contar que o roteiro acerta muito em tratar do vício sem apontar o dedo e sem falso moralismo. É um problema de saúde pública, que infelizmente pode acontecer, que deve ser tratado de forma séria, respeitosa e com empatia.
Há uma cena muito interessante que a personagem Molly vai dar uma palestra em uma sala de aula cheia de adolescentes para contar a sua experiência com o vício, uma das alunas diz que “é só não usar”, mas ouve da palestrante uma resposta à altura de sua vivência e do que ouviu ao longo da vida.
Outro acerto do roteiro de Quatro Dias Com Ela está no ponto de vista de cada uma das protagonistas e cada uma tem a sua razão: Deb já está cansada de tudo o que viu a filha fazer, das promessas e dos sucessivos erros, mas a ama e jamais vai deixá-la na mão. Já Molly luta com o que tem e com o que não tem contra o vício em heroína, já iniciou o tratamento várias vezes, tem abstinências, vontades e às vezes o corpo fala mais alto.
Aliás, a química entre Close e Mila é excelente e por se tratar de uma relação maternal, dá para ver com os filhos, dependendo da idade e cabeça deles, obviamente. Lembra muito o também ótimo drama Aos Treze, lançado em 2003, estrelado por Evan Rachel Wood em início de carreira e Holly Hunter como sua mãe.
Com o mundo cada vez mais conservador, muitos podem achar esse e outros filmes um absurdo e até mesmo achar que fazem apologia, mas é justamente ao contrário: quem vê, quem conhece os efeitos que as drogas fazem com o corpo dificilmente vai pensar em injetar essas substâncias em seu próprio corpo e o que essas obras fazem, na verdade, é um serviço de utilidade pública em manter os jovens longe dessas coisas ilícitas.
Quatro Dias Com Ela pode ter tido um marketing tímido e que poderia passar despercebido, mas com um bom tema, boas atrizes e o boca a boca ele pode se tornar cultuado e porque não um jovem clássico contemporâneo?
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