Há um público para filmes, há objetivos para filmes, há gostos e horas para filmes. Nesta lógica, há filmes de arte, filmes cult, blockbusters, e filmes de puro entretenimento. Os blockbusters, podem ou não serem considerados filmes de puro entretenimento, mas sua faixa orçamentária e as expectativas de retorno lucrativo os colocam em uma categoria diversa, isto é, com cobranças específicas, haja vista que um blockbuster deve atingir uma grande faixa etária e todas as camadas sociais.
Importante salientar que essas categorias podem mesclar-se e até fugir da previsão do estúdio (diretor/produtor), por exemplo: um filme de puro entretenimento pode virar cult.
Dentro dessas breves categorias que elenquei por motivos didáticos, os filmes de “puro entretenimento” normalmente, possuem orçamento de médio a baixo. E é esse tipo de filme que nos interessa aqui.
O filme “Quando nos Conhecemos” é de puro entretenimento, ou deveria ser. Produzido pela Netflix e denominado “comédia romântica”, o filme esboça uma aventura romântica e falha miseravelmente no quesito comédia.
Vamos lá explicar os porquês.
Sinopse: um rapaz conhece uma moça em uma festa de Halloween em 2014, ele se apaixona por ela, mas o romance não vinga, os dois tornam-se amigos. Três anos se passaram e o protagonista (Noah) está no noivado da crush (Avery) com outro cara (Ethan) – o noivo. Com pesar ele assiste aquilo e quando volta ao bar em que os dois protagonistas foram há três anos, descobre que a cabine fotográfica usada para tirar fotos de ambos funciona como uma máquina do tempo, que o leva para o exato dia do Halloween de 2014. À vista disso, Noah começa uma série de viagens no tempo, cada uma com um plot-twist diferente, mas sempre falho em algum aspecto.
Bem, até aqui temos clara referências a filmes já produzidos, como: O Feitiço do Tempo (1993), bem como elementos narrativos clássicos do gênero “comédia romântica”. Aliás, o trailer é bem mais convincente que o filme e até engana quanto ao seu conteúdo.
Os problemas: O roteiro é mal construído e as histórias mal contadas, faltam elementos narrativos para composição de atmosfera e de personagens. Os diálogos são péssimos e de um nonsense mal executado, e os clichês do gênero igualmente mal operados. Sendo assim, não há como julgar atuações, pois o roteiro não permite desenvolvimento de personalidades.
Noah não tem personalidade, não tem nada de especial, não sabemos nada sobre ele que o torne digno de protagonizar uma narrativa, assim como a “mocinha” e o antagonista (Ethan) que, em certa medida, é de fato mais interessante que Noah – sensação que não deveria ocorrer.
Em nenhuma realidade possível, os personagens possuem personalidades. Você não compra a ideia, você não sente empatia por nenhum personagem do filme, EXCETO por Max (Andrew Bachelor), melhor amigo de Noah, mas esse personagem tem pouco tempo de exibição em tela.
O elemento “comédia” não se faz presente durante a exibição do filme. Os componentes que sugerem humor são, em geral, humor físico (caras e bocas dos personagens, tombos…). Alias, o protagonista Adan Devine (Noah) tem um talento para esse tipo de humor à la Jim Carrey, mas que não é aproveitado de forma construtiva, é exagerado e aplicado nas horas erradas (todas as horas).
Os elementos técnicos cinematográficos são estritamente operacionais, o que é bem comum dentro desse gênero e isso não é um problema. Ninguém espera uma fotografia ambiciosa, elementos de cenas perfeitos e paletas de cores sensíveis assistindo a uma comédia romântica, pode até ocorrer, mas não é o esperado. Então, isso não é um problema (falta de inovação e identidade cinematográfica).
Em suma, o filme não dá conta do gênero, não te entretêm, não te faz rir, você não esquece dos seus problemas assistindo esse pastelão (o que deveria ocorrer). Pelo contrário, o filme possui 97 minutos e é um filme extremamente longo – como isso é possível? Cenas desnecessárias, roteiro ruim, diálogos enfadonhos. Se for para dizer algo que te segura no filme é a curiosidade acerca do próximo plot-twist (resultado da próxima viagem no tempo).
Aqui encerro minha crítica: o último plot-twist é o melhor, se você tiver fôlego para chegar até ele, você pode até surpreender-se com o final, de leve! Nesse sentido, fica a ambiguidade da frase: o melhor do filme é o final!
Quando nos Conhecemos (When We First Met) – EUA, 2018
Direção: Ari Sandel
Roteiro: John Whittington
Elenco: Adam DeVine, Alexandra Daddario, Robbie Amell, Andrew Bachelor, Shelley Hennig, Noureen DeWulf, Tony Cavalero, Bill Rainey, Chelsea Bruland, Adam Henslee, Tenea Intriago, Kyler Porche, Michael Scott
Duração: 97 min.