Ryan Murphy sempre mostrou em seus trabalhos grande simpatia pelo o público LGBTI+, seja com adolescentes se descobrindo em GLEE, um pouco sádico e polêmico como em American Horror History e até mesmo em forma de drama-documentário em American Crime History. Todos trabalhos sempre muito bem desenvolvidos, o estilo de Murphy agrada muitas pessoas, o público ama os personagens criados por ele.
Não ficamos surpresos em saber que a primeira grande obra LGBTI+ com foco em pessoas transexuais, teria Murphy como roteirista e criador, sendo os três primeiros episódios da temporada dirigidos por ele mesmo. Pose não é apenas uma série de nicho (chamaremos assim por que ele foca exatamente na minoria da minoria dentro da comunidade LGBTI+), é algo que veio para inovar, incomodar e surpreender. Muitas pessoas irão se incomodar com essa produção, outros amar e aplaudir de pé (esse foi o meu caso).
Pose não é um documentário como foi Paris is Burning (apesar de servir de expiração), tem um roteiro original e fiel aos grandes bailes da década de 80, onde as drags brilhavam em submundo criado por pessoas que naquela época eram excluídos pela a sociedade. Alvo de preconceitos e muitas vezes sem lugar para ir, eram acolhidos pelas Mamas e podiam brilhar e se soltar em todo seu “EU” verdadeiro. Estamos falando do começo de um cultura com luzes, música e fantasia, a mesma que inspirou o reality show RuPaul’s Drag Race.
Esse bailes aconteciam semanalmente e eram um evento incrível, os grupos que desfilavam e dançavam eram chamados de Casas, toda Casa tinha sua Mama, que era responsável por seus filhos (pessoas que faziam parte do grupo). Elas preparavam roupas, passos de dança, em alguns momentos chegando muito perto de um musical com um pouco de improviso. Esse era o lugar que todos se soltavam e brilhavam.
Temas como “sair do armário”, autoconhecimento e reconhecimento e HIV são abordados nessa série. Mas não se preocupe, Murphy sabe o que faz, ele entende que esses temas estão bem “sucateados” na televisão, por isso trata de forma normal, o seu foco está nas pessoas. Para isso ele escolheu o melhor elenco que podia representar o público LGBTI+. Ao invés de seguir a fórmula de Hollywood onde se contratam atores héteros para fazerem o papel de personagens transexuais, ele escolheu somente contratar atores trans e o resultado é um elenco onde 80% são realmente LGBTI+.
A dinâmica do roteiro de Pose segue o que estamos acostumados a ver de Murphy, bem intenso, com cenas fortes e diálogos profundos. A história mostra a jornada de três pessoas, Stan Bowes (Evan Peters, muito conhecido pelos fãs) é um jovem que está vivendo o “sonho americano”: tem um casa, uma linda esposa magra e trabalha para o pupilo de Donald Trump (notem que não é a primeira vez que Ryan Murphy, menciona Trump em uma de suas obras). Stan vive a vida considerada perfeita por muitos, mas seu interior não é feliz, sentindo desejos que sua linda esposa não sabe.
Blanca (Mj Rodriguez) é uma transexual que acaba de descobrir que está com HIV, então ela quer viver seu verdadeiro sonho, montar sua própria casa e brilhar nos bailes semanais, para isso ela cria algumas inimigas e rivais. Em busca de novos amigos e “filhos” para a casa que acabou de fundar ela conhece Damon Richards (Ryan Jamaal Swain), um adolescente gay que foi expulso de casa pelos os pais e sonha em ser dançarino.
Pose vai além do preconceito, apesar de se passar nos anos 80, mostra de uma forma clara e simples como certas coisas não mudaram: discriminação e homofobia ainda são assuntos atuais, muitas histórias que deviam estar apenas no passado, ainda acontecem e Ryan Murphy deixa claro em seu roteiro que ainda existe muita luta por aceitação.
Pose está disponível no FOX premium e no FOX APP.