Porto Príncipe é um filme brasileiro, lançado em junho de 2024, é o primeiro longa dirigido por Maria Emília de Azevedo e o roteiro foi escrito por Marcelo Esteves.
Na trama, Bertha (Selma Egrei, excelente no papel), é uma senhora viúva que mora em uma chácara isolada no interior do estado de Santa Catarina, mas está sendo pressionada pelo seu filho para morar na capital do estado, Florianópolis.
Bertha precisava de alguém para trabalhar na chácara e decide acolher Bastide (Diderot Senat, a melhor atuação deste longa), que é um imigrante do Haiti e não vê outra opção senão aceitar o trabalho. Os dois criam uma grande afinidade, ele começa a morar no local, mas Bastide começa a sofrer preconceito do filho dela, Henrique (Leonardo Franco), ao passo que também ganha a simpatia de sua neta, Clara (Mônica Siedler).
Porto Príncipe é dos longas mais interessantes do ano e, assim como muitas outras obras do cinema brasileiro de 2024, está sendo pouco visto, menos pelos méritos do que é visto em tela e mais pela pouca divulgação e o marketing quase inexistente, praticamente sendo restrito à crítica e aos festivais, porém, quem tiver a chance de assistir, verá um trabalho muito bem realizado, um roteiro urgente e em tempos de polarização e intolerância, quase obrigatório sobre xenofobia e racismo.
A escolha do estado de Santa Catarina e do Haiti não foram à toa: o estado fica no sul do Brasil e a população nativa de lá é majoritariamente branca, ao passo que o Haiti é o país mais pobre das américas, com o IDH baixíssimo e com a população preta em sua maioria.
O roteiro disserta sobre os valores citados acima e o choque cultural de ambas as partes. Há um estranhamento natural na convivência e um admira o outro: Bastide admira a vida confortável de Bertha, ela o admira pela resiliência e inteligência, aliás, conforme o filme avança, vai ficando claro que o imigrante só tem uma vida menos privilegiada por falta de oportunidade, já que ele é um professor, com um vasto conhecimento e tem uma profunda consciência de classe, tendo ciência da sua condição, sempre exaltando a sua terra natal e conhecendo de perto os problemas que muitos de nós só conhecemos pela mídia ou por relatos.
Há uma virada de roteiro no terceiro ato para os dois protagonistas e para todos, além de uma analogia sobre a geopolítica atual do Brasil, o mundo e um grito contra qualquer tipo de preconceito. O título faz sentido, além de ser a capital do Haiti.
Porto Príncipe é o filme certo, na hora certa, mas suas questões são atemporais e mesmo estando longe de ser um sucesso comercial, pode se tornar objeto de estudo e nada como a arte para entender o mundo ao redor.
O cinema nada mais é do que o reflexo da sociedade.