“Nárnia, desperte! Ame! Pense! Fale! Que as árvores caminhem! Que os animais falem! Que as águas sejam divinas!”
Com essas palavras o leão Aslan decretou o nascimento de um dos mundos fantásticos mais incríveis que a literatura já viu.
Dentro da cabeça fértil dos autores do século passado, muitas histórias surgiram.Vimos o mundo ser tomado pelas trevas de Sauron e ser salvo pelos pequeninos Hobbits na Terra Media, a Republica Galáctica cair para um Império cruel e depois ver este mesmo Império caindo para a Nova República em Star Wars, a saga de um bruxo em seus ensinos da Magia até a queda de Voldemort em Harry Potter, a guerra entre poderosas casas e uma mãe de dragões para a dominação de um continente nas Crônicas de Gelo e Fogo (tá, esse ainda estamos vendo né Martin?). De todas essas histórias, guardo um carinho especial sobre os contos de um mundo onde os filhos de Adão e Eva são chamados de Reis e Rainha. Narnia é para mim a maior das aventuras.
As Crônicas de Nárnia são o conjunto de 7 livros escritos pelo gênio britânico C.S. Lewis. Para curiosidade, Lewis era amigo pessoal de um grande outro gênio, o maior de todos, J.R.R. Tolkien. O primeiro livro e também o mais famoso de todos, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, foi lançado em 1950. Depois disso Lewis foi lançando anualmente uma nova crônica, em ordens cronológicas distintas, contando episódios e histórias de personagens que viveram em Nárnia. Dentre todas as histórias, alguns personagens retornam para participar de novas crônicas, outros jamais retornam até que Narina encontre seu fim.
De longe a história mais conhecida é a crônica O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa. Você provavelmente já viu essa história nos cinemas ou na sessão da tarde mais próxima de você, onde os irmãos Pervensie, fugindo da segunda guerra mundial, se abrigam na casa do Professor Kirke, um dos primeiros a pisar em Nárnia e que viu sua criação, e de lá descobrem um guarda roupa misterioso que transporta as pessoas a Nárnia. Lá eles descobrem que fazem parte de uma profecia e são conhecidos como Filhos de Adão e Eva, os reis de Nárnia, e auxiliam o poderoso Aslam a combater a Feiticeira Jadis que decretou um inverno eterno em Nárnia, que já dura 100 anos. Foram lançados outros filmes, mas não chegaram ao sucesso do primeiro (também não tinham a Tilda Swinton e nem o James McAvoy, convenhamos)
Nárnia na verdade é um país, assim como Westeros, que divide o mundo com outros países como a Calormania, a terra dos desertos e palco da crônica “O cavalo e seu menino”; a Arquelândia, o país montanhoso dos descendentes de Nárnia; e Telmar, o país dos piratas e terra natal do Príncipe Caspian. Existem muitos outros reinos, ilhas, desertos, mares e terras desconhecidas por Nárnia, que é habitada por gnomos, faunos (Sr. Tumnus !), animais falantes, humanos e gigantes. Em Nárnia o tempo passa diferente, assim como quando se lê. Podem se passar 50 anos em Nárnia e apenas um instante em nosso mundo. Toda a mística de Nárnia se dá através de algo conhecido como Magia Profunda, guiada por um deus chamado Imperador Além Mar e seu filho, o leão Aslan.
De todos os personagens de Nárnia, Aslan é o mais mitológico. Ele é o criador e o mantenedor da ordem em Nárnia, sempre aparece quando as coisas estão ruins e o mundo precisa de sua ajuda. Muito sábio e poderoso, eu lembro de ler as palavras das falas de Aslam e sentir como se fosse um senhor de idade que tivesse muita coisa pra contar, muitos conselhos pra dar, sempre com um jeito tranquilo e imponente. É inevitável comparar Aslan e suas palavras de sabedoria aos ensinamentos bíblicos e os seus valores, inclusive o próprio Aslam diz a Lucia Pervensie que ele pode ser encontrado em nosso mundo, porém com outro nome.
Eu acompanho as histórias de Nárnia desde os meus 8 anos, quando ganhei do meu pai o livro enorme com cara de Leão que é o volume único das 7 crônicas. Lembro que quando vi aquele livro fiquei vidrado no olhar do Leão, e ainda mais vidrado quando comecei a ler. Li tanto no dia que ganhei que morri de dor de cabeça depois (malditos óculos !). Acho que foi a primeira vez que eu me senti realmente parte de um mundo que não era meu, que me senti desconectado da realidade, a primeira vez que mergulhei em um lago no Bosque entre Mundos. Vi o mundo de Charn ser destruído pela Palavra Execrável. Eu vi, pelas palavras de Digory Kirke, o mundo de Nárnia surgir do nada apenas pelo canto de Aslam. Vi, pelas palavras de Lucia Pervensie, a morte de Aslam na Mesa de Pedra pelas mãos de Jadis e depois de 3 dias o vi renascer para batalhar pela última vez com a feiticeira e vi também por fim a Magia Profunda se desfazer e Nárnia se desfazer para dar lugar a um novo mundo, um mundo eterno onde todos estavam lá, de todas as histórias. Reler isso pra mim é como entrar de novo naquele guarda roupa: pra mim dura anos, mas na verdade só se passou um instante.
Nárnia não é para adultos, mas é possível encontrar essa entrada caso ainda tenhamos algum contato com aquela famosa criança interior. Tem um trecho das crônicas que eu gosto muito, uma conversa entre Aslam e Lucia:
“Por favor Aslam”, disse Lucia, “Antes de irmos, você poderia nos dizer como voltar a Nárnia? Por favor.”
“Querida”, disse gentilmente Aslam, “vocês jamais voltarão a Nárnia novamente”
“Oh Aslam”, disse Lucia desesperada
“Você está muito velha, criança”, disse Aslan, “e precisa se tornar mais próxima do seu próprio mundo.”
“Mas não é apenas Nárnia”, disse Lucia, “é você. Como poderemos viver sem nunca te encontrar novamente?”
“Mas nós vamos nos encontrar novamente, minha querida”
Esse post é pra mim uma volta a minha infância, a bons momentos onde aprendia valores e bons exemplos através da leitura de bons livros, sejam eles Harry Potter, Senhor dos Anéis, Pequeno Príncipe. Infelizmente, é uma coisa que eu acredito que está se tornando rara hoje em dia. Incentivo você que não leu ainda as Crônicas, que leia também. Nárnia é sim uma história por muitas vezes infantil, mas com tanta coisa boa pra mostrar! Incentivo também que se você tem um filho, sobrinho, afilhado, agregado, dê as Crônicas pra uma criança ler também, afinal em Nárnia há sempre espaço para um filho de Adão e Eva em Cair Paravel.
“Quem é coroado rei ou rainha em Nárnia será para sempre rei ou rainha de Nárnia”