Amor Assombrado funciona melhor como conto.
Em Amor assombrado Vanessa Gerbelli é a protagonista Ana Clara. Sua mente lidera a forma como a história é contada. Inspirado no conto “Pente de Vênus” da escritora Heloisa Seixas, este longa-metragem funciona bem melhor como um conto do que efetivamente contado de maneira cinematográfica.
Isso ocorre porque a história te leva através de como funcionam os pensamentos de Ana Clara e fica muito confuso distinguir o que é real do que é imaginário. Ana Clara é casada com Claudio, personagem de Carmo Dalla Vecchia, mas, na sua adolescência, antes de seus pais falecerem num grave acidente, ela conhece Carlos na praia. Em um momento de deslumbre por uma concha no fundo do mar chamada pente de vênus, ela desmaia e quase se afoga, mas, o jovem Carlos muito bem interpretado por Guilherme Prates a salva e diz que sempre estará ao seu lado.
O filme ainda tem participações de Carol Oliveira no papel de Ana Clara jovem; Kiria Malheiros, Giovana Gold, Bia Sion, Nizo Neto e Cosme dos Santos. A direção e o roteiro são de Wagner de Assis (roteirista e diretor dos filmes “Kardec”, “Nosso Lar” e “A Menina Indigo”) que se baseia em uma das crônicas do livro para esta adaptação.
O elenco é dividido entre juvenil que participa do primeiro ato do filme e de algumas cenas de lembranças ou devaneios de Ana Clara e elenco adulto onde se passa a maior parte do longa-metragem, na fase adulta da personagem. Os atores da fase jovem tem falas marcadas e plásticas e não conseguem fluir muito bem a história, já o elenco que constituí sua vida de casada, consegue fazer com que o espectador sinta melhor a narrativa o que acaba deixando a desejar no contexto geral.
Infelizmente o mordomo e a versão mais jovem de Ana Clara bem como sua amiga imaginária não convencem em termos de atuação e acabam muitas vezes por desandar o ritmo da trama. Essa dificuldade de atuação é bem nítida quando utilizamos o personagem de Carlos como referencia, que flui bem melhor ao lado de Vanessa Gerbelli.
Ana Clara ao crescer se torna escritora e sua mente passeia entre a realidade de sua vida e os personagens de seus contos de maneira que os espectadores não conseguem distinguir um do outro. Em ritmo lento, confuso e esquizofrênico a história vai sendo contada, os personagens vão sendo apresentados até que é possível se sentir em casa.
A única coisa na trama que te faz entender o que se passa na mente de Ana Clara e distinguir o que é real do imaginário, é o uso de cores, luz e filtros, pois tudo que se passa em seus devaneios é demasiadamente colorido e solar, demonstrando que a vida de ninguém é perfeita e constantemente alegre, o que nos faz refletir bastante sobre nossas vidas.
Se você espera uma história normal e linear não vai encontrar aqui pois a maneira escolhida para contar essa trama é um tanto quanto peculiar. De certa forma tem-se a impressão de que seus personagens são espíritos que rondam e causam obsessão na escritora que se baseia em suas existências para escrever. Um deles é o mordomo de sua família (Nizo Neto) que parece que estava presente no dia em que seus pais morreram e então Ana Clara os eternizou em suas histórias, mas, vira e mexe eles voltam a sua mente como se fossem reais.
Outro é Carlos que tenta fazer com que ela se perca em si mesma para sempre para estar com ele. Este é o personagem limítrofe que a leva aos devaneios constantes desde a infância, seu real amor assombrado. Aparentemente a escritora é alguém que se sente muito solitária e que precisa destes personagens para sobreviver mas, eles a sufocam e ela tenta constantemente livrar-se destes pensamentos que a deixam desnorteada.
Amor Assombrado tem narrativa triste, onde muitas vezes te faz refletir o quanto estamos sozinhos e o quanto precisamos da presença do outro por questão de sobrevivência. Uma história de amor e de aceitação de como o outro é e da limitação de quem é mais próximo e mais querido em nosso caminho.