Os Rejeitados é uma comédia dramática, de 2023 (mas sendo lançada no Brasil em janeiro de 2024), dirigida pelo sempre ótimo Alexander Payne (vencedor de 2 Oscar de roteiro por Sideways e Os Descendentes) e com roteiro de David Hemingson (muito mais conhecido no universo das séries).
O filme chegou despretensioso, foi ganhando a crítica em festivais pelo mundo afora, mas, não demorou para fazer campanha e surgir na temporada de premiações.
A trama se passa no início da década de 1970, se passa no período de natal em um prestigiado internato, onde alunos e professores se preparam para passar as festas com a família e amigos. Porém, o rígido e ranzinza professor de história, Paul Hunham (Paul Giamatti, excelente no papel), é o responsável por cuidar dos estudantes que precisam ficar na escola no feriado, principalmente com Angus (Dominic Sessa, em seu primeiro papel no cinema), um jovem amargurado, mas que descobrem uma grande amizade, descobrem mais sobre a vida com a ajuda da cozinheira-chefe, Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph, ótima no papel).
Uma das preocupações do diretor Alexander Payne é em como este filme está sendo vendido e em como vai chegar no grande público. Para ele, definir como um “filme de natal” ou “filme de Oscar” seria relativizar demais o seu trabalho e como o elenco é composto por nomes pouco conhecidos da indústria, a exceção de Paul Giamatti, o público pode passar despercebido à primeira vista.
Se ele será conhecido no futuro como filme natalino, só o tempo irá dizer, mas uma coisa é certa: Os Rejeitados é dos longas mais interessantes da carreira vitoriosa de Payne e dos melhores desta temporada de premiações.
Em um ano complicado para a indústria do cinema, seja pelas greves ou pelos fracassos de bilheteira, nada como um filme com a alma independente, pautado no roteiro e personagens.
Sua trama sobre o professor inteligente, porém, ranzinza, lidando com adolescentes rebeldes e ainda no período de natal, poderia cair na mesmice e pieguice na mão de qualquer roteirista ou diretor ruins, mas, felizmente, não é o caso.
O roteiro é um vislumbre de sacadas inteligentes sobre o cotidiano, com um conflito de gerações, de interesse, como o protagonista é um professor, com diversas metáforas sobre História e por se passar em um período turbulento no mundo (homem à Lua, protestos pelos direitos civis, guerra do Vietnã, entre outros, mas sem explorar nenhum desses eventos), mostra seus personagens como humanos, não há mocinhos, nem vilões, em um mundo que nada é mais bizarro do que a natureza humana.
Até alguns detalhes podem passar despercebidos, mas que fazem toda a diferença: o clima gelado da neve, causando ainda mais um ambiente fechado, sobretudo quando se tem apenas os três protagonistas, a fotografia em tons pastéis e a excelente montagem de Kevin Tent (parceiro de Payne desde sempre).
Mas não tem jeito: um dos grandes trunfos do longa é o seu maravilhoso elenco: Paul Giamatti faz um de seus melhores papéis de sua carreira, totalmente excêntrico, mas carismático e que o público quer acompanhar até o final. Da’Vine Joy Randolph é das grandes atuações do ano, é engraçada, sua personagem tem frases inteligentes, é muito bem construída, que poderia passar batida, mas sua Mary é tão poderosa quanto o protagonista. E o jovem Dominic Sessa é uma revelação, é um trabalho que exigiu muito dele e praticamente todas as mudanças do roteiro se dão em volta dele. Esse trabalho pode ser sua vitrine para o sucesso no cinema e na TV.
Os Rejeitados é simples na essência, mas muito complexo ao lidar com a nossa natureza e com tudo aquilo que faz de nós, humanos. Sem julgamentos, estereótipos, mas, feito com muito esmero em um mundo com cada vez menos empatia.
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