Os Bons Companheiros é uma obra-prima do cinema. Para muitos esta é a maior obra de Martin Scorsese e tem muitos motivos para isso, embora escolher a melhor obra de um diretor acostumado a fazer grandes filmes acaba sendo uma escolha mais emocional do que racional.
Mas este não é apenas um grande filme: é influente até hoje, é inspiração para jovens cineastas e sempre citado quando o assunto são filmes de máfia ou de gângster.
E o que faz este filme tão especial? Não há um motivo isolado, é a mistura de direção afiada, grande elenco, técnica, história, referências e tudo que faz de um simples filme uma grande obra memorável.
O filme é baseado no livro de Nicholas Pileggi, Wiseguy, e conta a ascensão e queda de um grupo de mafiosos durante os anos 1960 de acordo com o ponto de vista de Henry Hill (Ray Liotta), começando por sua adolescência, onde ele já começava a flertar com a máfia, até a vida adulta.
O filme começa com um prólogo que só vai fazer sentido lá na metade do filme, mas que foi importante para situar o espectador sobre o clima da trama: é um programa adulto, visceral e sem sutilezas.
Depois somos apresentados à história principal, no subúrbio de Nova York, que conhecemos não apenas o que o narrador Henry tem para nos contar, mas somos apresentados a mais três personagens: Tommy DeVito (Joe Pesci, vencedor do Oscar pelo papel), Jimmy Conway (Robert De Niro, quase uma figura paterna ao protagonista) e Paul Cicero (Paul Sorvino).
As comparações com a trilogia Poderoso Chefão são inevitáveis, mas a principal diferença está na abordagem de um mesmo tema: enquanto os filmes do Coppola tratam a máfia do ponto de vista da família e da honra, aqui temos os gângsteres com menos glamour e com mais ação.
Não que Os Bons Companheiros esqueça as relações familiares, muito pelo contrário: a principal personagem feminina do filme é a Karen Hill (Lorraine Bracco, indicada ao Oscar pelo papel), esposa de Henry e que vai além de ser apenas a “donzela em perigo” e se mostra com muitas camadas e complexidades. Sem contar a hilária cena em que o trio principal vai esconder um corpo da casa do Tommy e a mãe dele tem um “momento família” com os mafiosos.
E como não lembrar de grandes momentos, como os flashbacks, feitos com elegância e ironia, que são marca e mérito de Scorsese, mas que também é fruto da montagem primorosa da Thelma Schoonmaker (indicada ao Oscar e grande parceira do diretor) e a já clássica cena em que o personagem de Joe Pesci questiona Ray Liotta quando ele diz que “é engraçado”.
Os Bons Companheiros não foi bem de bilheteria (custou 25 milhões e faturou 46) mas a crítica ovacionou o filme (96% de aprovação no Rotten Tomatoes) e ganhou um mísero Oscar de Ator Coadjuvante para Joe Pesci. Mas merecia mais, considerando que o grande vencedor da noite tenha sido Dança Com Lobos.
Mas quem precisa de Oscar quando temos um filme que virou clássico, referência e uma das obras definitivas do cinema?
Há coisas que a Academia ainda precisa aprender.