Na próxima semana, em pleno feriado de Páscoa, chega aos cinemas brasileiros a animação O Rei dos Reis, que reconta a trajetória de Jesus Cristo desde seu nascimento até a ressurreição, com foco especial em sua mensagem de amor, fé e compaixão. Um detalhe curioso é a participação do romancista Charles Dickens e sua família na história, como observadores que interagem sutilmente com os acontecimentos. Esse toque inventivo foi baseado no livro do próprio Dickens, A Vida de Nosso Senhor, que foi publicado apenas após sua morte, ele tinha um propósito de ensinar a seus filhos pequenos qual era a sua visão da fé com base no Cristianismo, sendo bem familiar nas noites de Natal.
Confesso que este texto talvez seja um pouco mais pessoal do que as críticas que costumo publicar aqui no Universo 42. Nasci em uma família católica, fui batizada, fiz a Primeira Comunhão e até crismada sou, porém hoje me identifico mais com o Kardecismo. Ainda assim, não sou, e também nunca fui, uma presença frequente nas missas (ou, hoje, nas mesas brancas), mas sempre procurei manter uma conexão espiritual no meu dia a dia, seja por meio da reflexão, da fé ou da tentativa de ser uma pessoa melhor. E foi com esse olhar, afetivo, curioso e talvez até um pouco nostálgico, que fui assistir a O Rei dos Reis.
Esta é uma produção da Angel Studios, mesma da série The Chosen (Os Escolhidos), que inclusive gosto bastante, junto da Mofac Studios, da Coreia do Sul, e posso dizer que tanto a série quanto esta nova animação tratam a figura de Jesus com leveza e sensibilidade, sem tentar convencer quem não segue o Cristianismo.

A qualidade da animação é muito boa e gostei das inserções de humor no filme, principalmente quando envolvem a gatinha Willa, que cumpre muito bem este papel sendo fofa. Vale lembrar que esta é uma animação pensada para o público infantil, mesmo os mais novinhos. A minha sessão, por exemplo, estava lotada de crianças de diferentes idades, e a reação delas foi uma parte divertida da experiência. Por outro lado, senti que a narrativa ficou um pouco apressada, são apenas 1h44 de duração, já contando com os créditos finais. Algo que me incomodou um pouco foi que mal dá para saber quem é quem entre os apóstolos, e todos acabam parecendo ter a mesma personalidade. Também há uma rasa contextualização sobre quem eram os vilões da história. Além disso, por se tratar de um filme com classificação livre, muitas passagens bíblicas foram suavizadas, o que não chega a ser um defeito, apenas uma escolha criativa. Ainda assim, acho que poderiam ter mostrado um pouco mais, especialmente em momentos-chave da história de Jesus.

Agora um ponto que merece destaque é o elenco de vozes, que está simplesmente estelar. Eu assisti à versão dublada, que mais uma vez entrega uma excelente adaptação brasileira (tanto em termos de interpretação quanto de emoção), mas vale realçar o elenco original em inglês, que conta com nomes de peso: Oscar Isaac empresta sua voz a Jesus, enquanto Kenneth Branagh interpreta Charles Dickens. A lista segue impressionante com Pierce Brosnan, Uma Thurman, Mark Hamill, Ben Kingsley, Forest Whitaker e Jim Cummings.
Já a direção ficou à cargo do coreano Seong Ho Jang, que ficou conhecido como um pioneiro na introdução de efeitos visuais em filmes sul-coreanos. Ele também assina o roteiro junto do Rob Edwards, de A Princesa e o Sapo e Planeta do Tesouro.

Levando tudo em consideração, O Rei dos Reis entrega aquilo a que se propõe: uma animação acessível, feita para a família, que apresenta a história de Jesus com delicadeza e carinho. Não é preciso seguir uma religião específica para se emocionar com mensagens de empatia, compaixão e generosidade. Cada pessoa pode encontrar sua fé de maneiras diferentes. É uma boa pedida para quem quer viver a experiência da Páscoa de forma leve e descomplicada, especialmente com os pequenos. Aposto que as crianças vão se encantar.
PS: A história de Jesus já foi contada inúmeras vezes no cinema, inclusive com este mesmo título. A versão mais famosa de O Rei dos Reis (King of Kings) talvez seja um filme norte-americano lançado em 1961, dirigido por Nicholas Ray, com Jeffrey Hunter no papel de Jesus e com Orson Welles no papel do narrador. Esse longa é conhecido por seu tom épico e por ter sido uma das primeiras grandes superproduções religiosas voltadas para o grande público, junto de Os Dez Mandamentos, do Cecil B. DeMille, de 1956.
Outro PS: Charles Dickens foi um dos mais importantes escritores britânicos do século XIX, autor de clássicos como Oliver Twist, Grandes Esperanças, David Copperfield e Um Conto de Natal. Suas obras retratam com profundidade as injustiças sociais da Inglaterra vitoriana, sempre com um olhar humanista e, muitas vezes, recheado de ironia e crítica social.
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