O que esperar da saga A Torre Negra?

NerdView - A torre Negra - Julio G

“Primeiro vem os sorrisos, depois as mentiras, por último o tiroteio.” – Roland Deschain

O que esperar de uma saga onde western, ficção científica, fantasia, terror, ação, romance, drama e tantas outras vertentes se misturam? Você diria que algo assim beiraria a perfeição, correto? Pois é, e beira mesmo. E não à toa, essa obra que levou 33 anos para ser concluída é considerada a Magnum Opus de Stephen King, que por sinal só resolveu concluí-la depois de sofrer um trágico acidente que quase tirou sua vida.

Aviso de antemão que não é uma saga onde irá chover balas, tripas e cérebros em meio a tiroteios, batalhas e cenas de ação grandiosas. A história tem seus momentos de ação, os quais embora poucos, são muito bons e bem descritos, e nesse quesito King soube dosar o ritmo muito bem. Como já mencionado, é uma saga onde se tem uma mistura de estilos, e o leitor apreciará todos eles. Mas vamos ao que interessa: o que afinal é essa tal Torre Negra?

Roland Deschain é o último pistoleiro de uma linhagem importante que vive no Mundo Médio (referência clara a Tolkien), universo paralelo ao nosso, onde tudo está envelhecendo e deixando de existir ou “seguindo adiante”, e com isso ele sai em uma odisseia em busca da mítica Torre Negra, lugar ou objeto de sua obsessão. Obsessão a qual o deixa disposto a sacrificar o que for preciso para encontrá-la. No caminho ele conhecerá e recrutará pessoas de outros mundos, que o ajudarão nessa busca. Roland é um personagem incrível, bem construído, destemido, obstinado, implacável, tem um sentido aguçado e é muito inteligente. É acima de tudo mortífero, com seus dedos ágeis acionando os gatilhos de seus revólveres aliado a sua mira certeira o tornam uma verdadeira máquina de matar. Empolgante e cativante, Roland é tão mortal com suas pistolas que nos faz enxergar grandes pistoleiros da cultura pop como O Pistoleiro Sem Nome (Clint Eastwood em Por uns dólares a mais), Butch Cassidy e Sundance Kid (Paul Newman e Robert Redford em Butch Cassidy) como meros Padawans, e Roland um verdadeiro Mestre Jedi. Até Chuck Norris é fichinha perto dele (quer dizer, pensando bem Chuck Norris não… mas os outros sim, kkkkkk). Roland não é um bom moço, é frio e calculista, disposto a passar por cima de tudo que se meter no seu caminho e de seus objetivos, sendo o o maior deles, A Torre. E com todos os adjetivos já citados e habilidades no “chumbo” sem igual, isso será tarefa fácil.

pistoleiroO Primeiro livro da série, O Pistoleiro, é maçante e demora pra embalar. Se passa num deserto onde Roland persegue o Homem de Preto, um ser que ele acredita saber a localização da Torre, e é onde também conhecerá Jake Chambers, um garoto que fará parte de seu futuro Ka-Tet (grupo de pessoas ligadas pelo destino). Como livro que dá origem da saga, posso dizer que é um livro “difícil” de ler, a qualidade dele não reflete a dos próximos volumes. Então digo a você que ao se deparar com alguma dificuldade em terminar ou até mesmo continuar a leitura de O Pistoleiro, não desanime e não desista de acompanhar Roland em sua busca, você não se arrependerá. O amadurecimento na escrita, história e criatividade de Stephen King é notório nos volumes seguintes de sua obra prima e a série ganhará facetas épicas e personagens inesquecíveis a cada capítulo.

361-654206-0-5-a-escolha-dos-tres-vol-3-colecao-a-torre-negra cópiaA Escolha dos Três é muito melhor que o primeiro e um dos melhores da saga, mostra como Roland recrutará as pessoas que farão parte de seu Ka-Tet e o ajudarão na busca. Por meio de portas que aparecem numa praia do mar ocidental, o pistoleiro atravessa para a Nova York em nosso mundo em três linhas do tempo diferentes: 1987, 1960 e 1977, respectivamente. Na primeira delas ele conhecerá “O Prisioneiro” (um viciado em heroína). Na segunda se deparará com “A dama das Sombras” (uma negra ativista do movimento pelos direitos civis dos negros). Na terceira e última porta encontrará “A Morte” (???). Neste volume da saga, Stephen King mostra o quão grandiosa é a sua criatividade e a exercita de maneira formidável. Em alguns momentos nos perguntamos, “Como esse cara imaginou isso?”, essa pergunta retórica será repetitiva, e surgirá por toda a leitura.

30177243As Terras Devastadas começa numa floresta meses depois da escolha dos três, onde Roland e seus novos companheiros enfrentam uma grande ameaça, um dos guardiões dos 12 portais, que levam para dentro e para fora do Mundo Médio e são unidos por seis Feixes de Luz, algo importantíssimo para saga. E é aí que a mitologia de A Torre Negra é apresentada de forma mais clara e o Mundo Médio ganha suas peculiaridades e facetas únicas dentro da fantasia literária. Ainda nesse livro outros desafios e alegrias para o coração do pistoleiro o aguardam na sua busca.

torre_negra_04-mago_e_vidro-stephen_king-livrosgratis_netO quarto e melhor de todos em minha opinião, Mago e Vidro nos mostra Roland depois de seu teste de maturidade, quando ainda adolescente, é enviado a Mejis por seu pai com seus dois melhores amigos Alain Johns e Cuthbert Allgood excelentes personagens responsáveis por ótimas cenas e diálogos marcantes), no intuito de protege-los da guerra iminente. Nesta obra também nos é apresentado o romance de Roland e Susan Delgado, e também o que o tornou um pistoleiro tão obstinado e escravo do Ka (Destino). Todo o romance é bem construído por King e não acontece “a primeira vista”, e o enlouquecedor amor entre os dois surge pouco a pouco e nos conquista arrebatadoramente fazendo-nos torcer por um “felizes para sempre”. Esse é o livro mais ágil da saga, apesar de King ter uma escrita às vezes maçante, é o responsável por me transformar num fã da saga e devorar os títulos seguintes de forma ativa e incansável.

lobos-de-callaLobos de Calla é o mais western de todos, qualquer semelhança com Sete Homens e um Destino não é mera coincidência. King como fã desse filme e do gênero em si, fez um livro com essas características, porém acrescentou o que ele mais sabe fazer, o terror. Mas neste volume, ele também começa a criar seu mosaico da cultura pop contemporânea, desde citações a Harry Potter à introdução de personagens de outros livros de sua própria autoria, um exemplo é o Padre Callahan, personagem do livro A Hora do Vampiro. Com Roland mais mortal do que nunca, esse livro nos traz um clímax excelente pra nenhum fã de western colocar defeito. Enfim, não tão bom quanto Mago e Vidro, mas um ótimo livro e com um acréscimo importante pra saga e sua grande mitologia.

canc3a7c3a3o-susannahEm A Canção de Susannah, penúltimo capítulo dessa magnífica obra, temos um livro bem corrido (ou eu já estava tão apaixonado pela saga que nem me dei conta que tava lendo absurdamente rápido) algo raro nos livros de King. Aqui o desfecho de tudo é iniciado, com boas doses de ação e muito mais terror que nos outros.  A fantasia e ficção também tem seu lugar reservado e as aventuras no Mundo Médio estão a mil por hora.

uma-nota-erradaEnfim, O Fim. A Torre Negra traz os pingos que faltavam nos “Is”, as respostas a todas as questões levantadas ao longo da série, e com certeza você ficará satisfeito com elas, certo? ERRADO!!! As opiniões divergem, ele é um excelente livro, nesta conclusão King reúne todas as qualidades que vimos nos livros anteriores, e mescla em um único volume, mas se for para apontar um contra do livro, digo ser a falta de ação e batalhas no fim. Até contém essas cenas, e vemos Roland usando suas habilidades de forma formidável, mas um pouco mais disso deixaria a conclusão da busca pela Torre ainda mais grandiosa.. Muitas explicações são dadas e o calvário do Pistoleiro definitivamente chega ao fim. Não quero entrar em muitos detalhes para não estragar nenhuma surpresa, tenho algumas ressalvas para com a conclusão da busca de Roland e seu ka-Tet, porém não há como citá-los sem dar spoilers. São meros detalhes aos quais eu desejaria e esperava que fossem diferentes, e você leitor sabe, que nem sempre em filmes, livros e principalmente na vida, as coisas acabam como gostaríamos que acabasse. Isso não desmerece em nada A Torre Negra, pois uma coisa é inegável e clara por toda a leitura, King é um Gênio!

E ninguém, muito menos nós meros mortais diremos o contrário, a sua originalidade é elogiável e foi o que mais gostei nele e em sua obra. Quando fui chegando nas últimas páginas, as lágrimas já enchiam os olhos e meu coração diminuía ao tamanho de uma ervilha, por imaginar que estava me despedindo de amigos “reais”, que tantas boas emoções me proporcionaram.

Enfim, eu só tenho a agradecer a King por esse presente, por me dar a chance de ler algo tão mágico e tangente quanto A Torre Negra, uma saga que soube misturar fantasia e dramas tão comuns, como amizade, amor, lealdade, desavenças, respeito e até a relação familiar, mas que ao mesmo tempo apresenta um trapalhão falante (animal fictício), arco-íris de Merlin(esferas mágicas), Arthur Eld (Rei Arthur), entre tantas outras coisas.

Posso apontar vários prós pra essa saga, como a mistura de gêneros, as referências a cultura pop, as reflexões sobre a amizade, onde a obsessão pode nos levar, etc. Mas tem alguns contras também, o maior deles é a escrita amarrada e até algumas vezes maçante. Claro que você terá suas opiniões, e eu quero ouvi-las. Meu conselho final é que quem quiser ler, que o faça e não irá se arrepender, muito pelo contrário, se juntará a mim como fã de A Torre Negra. A figura de Roland Deschain marcará sua vida, e você jamais se esquecerá da face dele.

Nerd: Julio Garcia

Design gráfico, fotógrafo, aspirante a escritor, DCnauta assumido, que tenta empregar no pequeno filho a DC e o equilíbrio da força, cinéfilo desde o dia mais claro e a noite mais escura, indo ao infinito e além nos universos que gosta.

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