O Jogo da Morte chega aos cinemas trazendo um enredo baseado em um jogo mortal, chamado Baleia Azul, que viralizou em 2017 e foi o terror real de centenas de pais de crianças e adolescentes. De origem russa, o jogo criado em 2015 não passava de uma “fake News”, mas que, por conta do “efeito contágio”, passou a ser real em vários países, incluindo o Brasil. Um tema forte, que poderia render uma ótima discussão diante dos absurdos do mundo online. Principalmente porque, de lá pra cá, as coisas só pioraram.
Baseado em Fatos Reais
No longa, ao procurar respostas para a estranha morte de sua irmã mais nova, Dana (Anna Potebnya) descobre um jogo macabro que incita os jovens a tirarem a própria vida. Determinada a conseguir justiça, ela se coloca em risco ao aceitar seguir os passos de sua irmã. Isso, por si só, já é uma atitude bem pouco inteligente. Mas as conveniências do roteiro, somadas às péssimas atuações e uma direção digna de um Framboesa de Ouro, deixam tudo tão constrangedor que é difícil de assistir.
O Jogo da Morte me fez ponderar, em diversos momentos, sobre as inúmeras facilitações que o roteiro proporcionava à personagem principal. Se ela precisava ir do ponto A ao ponto B, o texto não fazia objeções sobre o “quando”, “como” e o “por quê?”. Apenas assumia a necessidade e, no próximo take, lá estava ela. A verossimilhança em algumas passagens, inclusive, mandou lembranças.
Tão Previsível Quanto O Nascer do Sol
Como todo problema poderia ter sido resolvido com coisas básicas, como comunicação e um pouco de inteligência, o roteiro dá voltas e nos proporciona um show de péssimos diálogos. Que, além de incoerentes com as motivações dos personagens, também são vergonhosos em vários momentos.
Tão previsível quanto a correnteza de um rio, não há nada de tão óbvio em O Jogo da Morte, que não possa ficar ainda mais. Como, por exemplo, quem estava por trás de toda trama. Não que o filme tenha revelado desde o início, mas, bastava ter dois neurônios para entender os rumos que o filme estava tomando já nos primeiros 20 minutos.
Mas verdade seja dita, se você passar por esses primeiros minutos, que são bem difíceis, a probabilidade de acabar engajando no filme é até alta. Ele continuará ruim. Mas é um ruim simpático, já que no segundo ato a história parece se desenrolar de forma mais dinâmica e, ouso dizer, até plausível.
O Jogo da Morte Falha ao Tratar de Temas Sensíveis
O Jogo da Morte flerta com temas sensíveis e importantes, como depressão, manipulação e relacionamento entre pais e filhos. Mais precisamente, entre mães e filhos. E nesse ponto o filme consegue ser bem didático, mostrando o quão fácil os jovens podem ser manipulados e levados a extremos. Principalmente, pelo medo do julgamento de quem amam.
E, dentre tantas decisões burras dispersas ao longo do filme, as tomadas dentro do jogo são as únicas que possuem uma ingenuidade inconsequente próprias da idade. Sobretudo, quando temos casos reais de jovens que tiraram suas próprias vidas como exemplo. E, ao ver como os desafios funcionam, fica claro o porquê a morte se torna tão aceitável.
O Jogo da Morte Sofre Com Falta de Originalidade
Dirigido por Anna Zaytseva, O Jogo da Morte é mais um da safra “screenlife films”, que são aqueles filmes que se passam na tela do computador, como “Amizade Desfeita” e “Buscando”. Um gênero que já provou que pode fazer um ótimo filme de terror com muito pouco, como é o caso de “Host”. Porém, assim como aconteceu com o gênero “Found Footage”, a suspenção da descrença esbarra na justificativa da escolha narrativa. Além disso, volta e meia o espectador é jogado para fora da imersão por conta de um ângulo de filmagem inverosímil.
Carente de originalidade, o longa faz uma miscelânea com diversos filmes do gênero, como “A Bruxa de Blair”, “O Chamado” e o próprio “Amizade Desfeita”, na tentativa de emular minimamente uma experiência similar, sem nunca conseguir. Com poucos jumpscares, todos previsíveis, e uma construção de tensão inexistente, a sensação de temor é nula.
Oportunidade perdida
O Jogo da Morte perde oportunidade de fazer um filme de terror que, além do entretenimento, ainda servisse para alertar os pais sobre o uso irresponsável da internet. Infelizmente, o roteiro pobre, somado a uma direção prosaica, torna a tentativa risível. Conferindo ao espectador, verdadeiros momentos de vergonha alheia. Mas não chega a ser de todo o ruim. Se espremer bem, é possível aproveitar alguma coisa.
O Jogo da Morte está em exibição somente nos cinemas
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