Até hoje, muitos fãs torcem o nariz para O Incrível Hulk e o colocam como um filme menor da Marvel. Outros mais radicais nem o consideram como um filme do estúdio.
De fato, ele parece deslocado do Universo, sobretudo porque ele é uma produção da Universal e não da Paramount, como era na época, e também porque, à exceção do General Ross, vivido pelo sempre ótimo William Hurt, ninguém do elenco voltou ao Universo Marvel nos filmes seguintes.
E para piorar a não-aceitação, houve a troca de atores: Edward Norton fez este filme, mas, para os filmes seguintes, foi utilizado Mark Ruffalo. Porém, é injusto colocar O Incrível Hulk em um patamar abaixo. De fato, há muitos problemas aqui, mas ele tem um saldo melhor do que muitos filmes do próprio estúdio que vieram depois, como Thor e Homem de Ferro 3.
Um grande acertofoi o filme não ser uma história de origem. O público já havia visto uma no filme Hulk, de 2003, dirigido por Ang Lee e estrelado por Eric Bana, o filme foi um fracasso de público e crítica e os envolvidos aqui evitaram o máximo associar um filme ao outro.
Mas justamente porque o público associava este filme ao de 2003 e tendo interpretado-o como uma continuação, é que ele não tenha foi tão bem de bilheteria: custou 150 milhões e faturou 263 nas bilheterias mundiais, e para um filme ser considerado um sucesso, deve faturar, no mínimo, 2,5 vezes mais. Neste caso, deveria ter faturado, no mínimo, 375 milhões.
Logo no início da trama, o público é apresentado ao acidente de Bruce Banner e como ele virou o Hulk, sem raios-gama e lembrando muito a série clássica de TV. Depois o protagonista está escondido nas comunidades do Rio de Janeiro, onde é capturado pelo exército do General Ross.
Agora com a narrativa nos EUA, Bruce é ameaçado, também, pelo soldado Emil Blonsky, vivido por Tim Roth, que, assim como o Capitão América, aceita passar pelo experimento para se transformar em um supersoldado, transformando-se no vilão Abominável.
Paralelamente a isso, temos o romance entre Bruce e a filha do General, Betty Ross, vivida por Liv Tyler e substituindo Jennifer Connelly do filme de 2003. O romance não é exatamente um ponto alto, mas não compromete a narrativa e nem a ação do filme. Ao menos foi mais bem construído do que a péssima química entre Eric Bana e Connelly.
O Incrível Hulk também acerta na ação, embora apresente este ou aquele CGI que possa ter envelhecido mal, acertou no vilão por captura de movimentos e nas cenas de luta, sobretudo entre Hulk e o Abominável. E embora este esteja longe de ser um vilão memorável, ao menos foi um alívio após os constrangedores cães do filme de Ang Lee.
O filme foi filmado quase simultaneamente com Homem de Ferro, primeiro filme da Marvel Studios e as comparações são inevitáveis. Embora este nem se compare ao filme estrelado por Robert Downey Jr, os fãs não saíram decepcionados, seja com o respeito ao personagem e as várias referências, tanto das HQs quanto da série dos anos 60.
Também há a cena pós-créditos, onde Tony Stark aparece e fala da iniciativa Vingadores ao General Ross. Os fãs já sabiam que se tratava de um grande universo, e quanto ao público geral, se havia alguma dúvida, ela foi sanada logo aí.
Mas O Incrível Hulk não é perfeito: Edward Norton não está muito à vontade na pele do herói e a troca por Mark Ruffalo foi mais do que acertada (alguém sente falta de Norton?) e a Montagem é problemática: o filme não sabe seu ritmo e isso atrapalha o grande público, tanto no entendimento quanto ao envolvimento da história.
Sem contar que, assim como filmes de super-heróis que vieram depois, como Vingadores – Era de Ultron, Batman vs Superman ou Esquadrão Suicida, há várias cenas desconexas e depois descobriu-se que existem 70 minutos de cenas deletadas (o que quase daria um filme só disso).
Não que o diretor francês Louis Leterrier tenha errado a mão em sua direção. Todos sabem da dificuldade em fazer uma história de um ser tão poderoso na Terra. A DC tem este problema com o Superman. Tanto que agora Hulk só aparece em filmes de equipe, como a trilogia Vingadores e em Thor: Ragnarok.
Mas só em ver o esforço e envolvimento de todos em entregar o melhor filme possível já é motivo para respeitar este filme que, longe de ser brilhante, não deveria ser ignorado assim e mereceu nossa lembrança dos 10 anos de seu lançamento.