A nova série do Canal Brasil traz o puro suco dos anos 90 para a TV, e eu, com todo respeito, segui a linha do Notícias Populares para fazer esta crítica.
O Notícias Populares, também conhecido como NP, foi um jornal que circulou na cidade de São Paulo dos anos 1963 a 2001. O jornal era publicado pelo Grupo Folha e digamos que ele não seguia muito bem a Cartilha da Folha na hora de investigar, criar, editar e publicar suas manchetes e entrevistas. Como diziam: “se torcer o NP, escorre sangue!”
Logo, posso dizer que além do conteúdo ser bastante sensacionalista, a preocupação em prevalecer a verdade dos fatos jornalísticos era muito qualquer coisa!
O que ia em direção contrária ao slogan do jornal: “Nada mais que a verdade”. Acredito que vocês estão sentindo a pegada de cunho duvidoso, né?! (Rs!)
Para o NP existir, ele tinha que vender muitos exemplares, porque não tinha assinantes! A sobrevivência era diária, pelas vendas de cada dia, para angariar o sustento de todos.
Então, resolvi fazer nenhuma pesquisa para esse texto, além dos dados que recebi na coletiva de imprensa com os criadores e autores, vou apenas utilizar a minha memória, a da minha mãe, tias, irmã e marido, o que eu vi retratado na série. Que, aliás, ressalta sempre em dizer, em todos os episódios, que a série é ficcional e qualquer semelhança com a realidade é apenas mera coincidência.
Contudo, são usadas as principais referências que estavam muito presentes em nossas memórias, como a cobertura do carnaval nos bailes de SP junto a TV Manchete, o Bando do Palhaço, o Jacaré Cocô, a quase publicação de fotos dos restos mortais de uma banda muito famosa que sofreu um acidente aéreo na Serra do Mar, Bebê Diabo, as matérias sobre a vida nos “Treme-Tremes” de SP, a chegada do mesmo jornalismo sensacionalista na TV.
Somando às muitas lendas do que acontecia na redação do NP, como todo mundo fumando, clima de tensão, jornalista infartando, pegação solta nos banheiros, quartinhos e cantinhos onde aconteciam coisas para maiores de 18 nos plantões, armação de furo jornalístico, e referência dos restaurantes de SP queridinhos dos repórteres e jornalistas, incluindo o famoso parmegiana.
Assim, nesse clima de um pouquinho esculhambação a série vai contando a história desse grande patrimônio da cultura popular utilizando o arco da personagem Paloma, protagonizado por Luciana Paes.
Apesar da conjuntura, Paloma se apresenta super séria e calma, como uma jornalista recém-chegada da França, que está passando por um divórcio e para garantir sua editoria na Folha, precisa dar um tempo trabalhando no NP. A sua missão é dar um pouquinho de classe e elegância ao jornal.
O que eu posso adiantar, sem nenhum spoiler, é que ela não é nada bem-vinda no início, né?!
Mas o seu desenrolar e sua construção de personagem são incríveis. Ela tem que deixar pra lá muitos conceitos já formados, alguns pontos de ética, reaprender a se relacionar com brasileiros e seu jeitinho de ser (intensificados pelos anos 90), enquanto administra a vida pessoal que está bem medíocre.
Apesar da conjuntura, Paloma se apresenta super séria e calma, como uma jornalista recém-chegada da França, que está passando por um divórcio e para garantir sua editoria na Folha, precisa dar um tempo trabalhando no NP. A sua missão é dar um pouquinho de classe e elegância ao jornal.
O que eu posso adiantar, sem nenhum spoiler, é que ela não é nada bem-vinda no início, né?!
Mas o seu desenrolar e sua construção de personagem são incríveis. Ela tem que deixar pra lá muitos conceitos já formados, alguns pontos de ética, reaprender a se relacionar com brasileiros e seu jeitinho de ser (intensificados pelos anos 90), enquanto administra a vida pessoal que está bem medíocre.
De pronto, achava Paloma uma sonsa, e no final, posso falar sinceramente que ela ganhou meu coração. Luciana Paes nos contou na coletiva, que a construção da personagem é o contraponto da testosterona da redação do NP, e que ela tem muito o papel de representar a consciência de nós, os espectadores.
Porque, assim como eu, e acredito que você também, em muitas cenas e diálogos, Paloma questiona, critica e fica indignada com as situações ali apresentadas.
Igualmente, é preciso dar um destaque especial para a interpretação de Ana Flávia Cavalcanti, que dá muita vida à Greta. Esta personagem representa a primeira repórter negra a ganhar destaque em editorias. A atriz disse que esta é a personagem mais forte e irreverente de sua carreira, também contou que se divertiu muito, que tem muito orgulho e prazer de fazer a série.
Além disso, Ary França (Conrad), Tuna Dwek (Aldenora), Clayton Mariano (Helcio), Verónica Valenttino (Sandra Bocão), Clayton Mariano (Hélcio) e a participação de Bruna Linzmeyer (Rata), tiraram risadas sinceras e risos de nervoso, pelas suas falas e atos em cenas. Sério, o elenco mandou muito bem mesmo!
Aliás, a Bruna Linzmeyer confessou para os jornalistas na coletiva, que ficou com muito medo de fazer a personagem, porque teve muito pouco tempo para se preparar para o papel, mas acredita que o resultado tenha ficado muito bom. Eu concordo com a Bruna! A Rata é muito especial!
Ainda sobre a preparação da Rata, Lizmeyer disse que viu muito material em vídeo de reportagens da época, alguns filmes, e se inspirou em alguns jornalistas e em Andreia Caracortada, de Kika, o filme do Almodóvar. E cara, tem tudo a ver mesmo! Hahahaha
Completando o universo de composição de Rata, Bruna disse que o interessante sobre a personagem é que ela tem um prazer enorme em causar o caos, em ser intrusiva. O que tornou a experiência de sua atuação muito divertida, e tudo ficou ainda mais legal porque o elenco e toda equipe estavam muito alinhados e engajados com a história.
Além da Paloma,da Rata e das outras personagens muito cativantes e essenciais para a narrativa rolar bem, as cenas, a fotografia e o enredo como um todo é uma mistura de cortes de divisão de tela típico dos documentários e esquetes dos anos 90, com a aura de zueira do Hermes e Renato, sabe?!
Acredito que tudo isso dá certo pelo casamento da criação dessa série, que somou o jornalista André Barcinski, que foi jornalista do real NP, e o cineasta Marcelo Caetano, ambos trouxeram suas bagagens e linguagens para imprimir de forma bem harmoniosa na trama que não se propõe a se levar a sério, usa de absurdos, muita ironia, sarcasmo, como o NP, mas a série, ao mesmo tempo, entrega um conteúdo de ótima categoria, com roteiro bem redondinho e muito entretenimento de qualidade.
Na coletiva de imprensa, Marcelo Caetano disse que o objetivo era transmitir ao espectador a sensação de passar as páginas do jornal, enquanto lia indo para o trabalho, para escola, para quem não teve a chance de passar por essa experiência na época, ter agora na TV. E a dinâmica dos cortes e a velocidade da série proporcionam isso mesmo!
Eu me diverti demais nos 7 episódios que completam a primeira temporada (talvez venham mais temporadas por aí!), nem via passar os 45 minutos de cada capítulo. Os diálogos são ágeis e repletos de expressões sensacionais que encaixam direitinho com a época tratada.
Contudo, a minha admiração maior vai para a produção de arte, cenografia e figurino: são impecáveis! Eles reconstruíram a redação no próprio prédio da Folha, pintaram cada pastilha colorida da parede com o tom amarelado e encardido de nicotina dos anos 90, elas estavam brancas!
Além disso, usaram acervo da Folha e dos jornalistas que trabalhavam lá no NP, e também reproduziram muitas imagens, pôsteres e objetos baseados em fotos e vídeos da época. E não sei onde eles encontraram tantos modelos de carros, aparece Tempra, Escort, Santana e por aí vai.
De fato, posso dizer que Notícias Populares, a série, brinda com muita celebração e humor a comemoração dos 25 anos de Canal Brasil e a produção é uma parceria do canal com a Kuarup. A estreia acontece no canal no dia 25 de setembro de 2023, às 22h30 e também fica disponível no Globoplay + Canais.
Aproveitem como a equipe e eu aproveitamos!
Você pode conferir a coletiva de imprensa completa por aqui!
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