O ano era 1983, o mundo ainda vivia sob a Guerra Fria e a rivalidade entre os blocos Capitalista e Socialista. Os soviéticos ainda eram o inimigo do Ocidente e qualquer coisa para ridicularizá-los e mostrar a potência estadunidense era válida.
Foi com esse raciocínio que nasceram filmes como a franquia Rambo e Rocky IV.
E com essa ideia, é compreensível compreender um filme como Os Eleitos, seu sucesso crítico e acadêmico.
Os Eleitos é baseado em um livro de Tom Wolfe, de 1979 e na história real de um grupo de astronautas do final dos anos 40, no início da Guerra Fria, onde estavam começando os programas espaciais das potências da época, Estados Unidos e União Soviética.
O foco principal do filme está na vida real e frustrações com seus fracassos e sucesso parciais dos soviéticos, mas vai além: a família, esposa e dilemas também têm importância aqui.
Quem dirige e escreve o filme é Philip Kaufman, que anos depois dirigiu bons filmes como A Insustentável Leveza do Ser e Contos Proibidos do Marquês de Sade. Embora Os Eleitos seja seu filme mais premiado, não é exatamente o melhor do diretor, mas jamais deve ser ignorado.
A narrativa tem um tom quase documental, com relatos reais dos pilotos, que acerta no tom entre a comédia e o drama. As sequências na nave e no espaço são apresentadas de forma elegante e competente, além de o filme apresentar um grande elenco em ascensão como Ed Harris, Sam Shepard, que curiosamente, tem medo de voar, Scott Glenn, Dennis Quaid, Barbara Hershey, entre outros.
O primeiro ato é todo focado em Chuck Yeager, vivido por Sam Shepard, mas depois o filme foca nos outros sete astronautas, na família de cada um e na cobertura da mídia no caso.
Nenhum deles eram exatamente heróis, mas representavam o sonho americano.
Mas a impressão que dá a quem assiste à Os Eleitos é que os problemas aqui são maiores do que as virtudes: o péssimo ritmo e a patriotada americana ao longo do filme.
As mais de 3 horas do filme não se justificam: fica clara a intenção de fazer um filme épico de olho nas premiações e menos para seu público. Daria para cortar, no mínimo, 30 minutos do filme, se tirassem alguns diálogos expositivos ou os momentos de exaltação à cultura americana, que deveriam dar lugar à ironia com a mídia, com a opinião pública ou com os próprios pilotos.
Este é um filme americano e feito para americanos, o que explica seus 4 Oscar, mas não explica o fracasso comercial do filme: Os Eleitos custou 27 milhões e faturou 21 em solo americano.
Mas foi presença importante no Oscar, vencendo em 4 categorias: Trilha Sonora, Som, Efeitos Sonoros e Montagem.
O prêmio de Trilha Sonora foi o único justo: a música de Bill Conti é quase que um personagem do filme e retrato o clima de pressão heróica.
Mas os prêmios na categoria de Som deveriam ter ficado com O Retorno de Jedi, que também foi indicado. Já o prêmio de Montagem foi absurdo: se um dos problemas do filme é o ritmo, não há sentido em premiar a Edição.
Curiosamente, filmes como Monty Python – O Sentido da Vida e principalmente Scarface mal foram lembrados na premiação.
Mas quem disse que Oscar ou qualquer premiação definem qualidade de uma obra? Basta ver qual filme é mais lembrado hoje: Scarface ou Os Eleitos.