Lendas da Paixão completa 25 anos em 2019 e não demorou muito para se tornar um jovem clássico. Na ocasião, todos davam este como um filme certo para o Oscar de 1995, justamente porque ele tem o que os críticos chamam de “cara de Oscar”: é um épico, histórico, com uma grande técnica, grande elenco e boa história.
A campanha para a premiação foi pesada e de fato o filme estava presente: foi indicado a Melhor Som, Direção de Arte e venceu o prêmio de Melhor Fotografia, mas para as categorias principais, não teve forças contra pesos pesados como Forrest Gump e Pulp Fiction.
E isso é a prova de como o cinema e as perspectivas mudam: se Lendas da Paixão fosse um filme dos anos 50 ou 60, provavelmente seria recordista de prêmios, já que nesta época os filmes chamados de épicos eram os queridinhos pela Academia, como Ben-Hur ou Os Dez Mandamentos, mas no cenário dos anos 90, o filme se conformou com as categorias técnicas.
Outra característica que faz com que Lendas da Paixão seja um filme típico do Oscar: não se arrisca e sua narrativa “certinha” pode incomodar alguns, embora também não vá desagradar seu público.
E não fez feio nas bilheterias: custou 30 milhões de dólares e faturou 160 mundialmente.
O filme é baseado em um livro homônimo de Jim Harrison e se passa em diversas épocas: começa no início do século XX, passando pela Primeira Guerra Mundial até chegar na Grande Depressão.
Conta a história de uma família que vive no campo de forma reservada, sobretudo de três irmãos: Tristan (Brad Pitt), o mais explosivo e valente; Alfred (Aidan Quinn), o mais velho, reservado e Samuel (Henry Thomas), o mais novo e frágil emocionalmente. Os três estão a tutela e mão pesada de seu pai, Coronel William (Anthony Hopkins), mas a amizade entre os irmãos fica abalada após Tristan e Alfred se apaixonam por Susannah (Julia Ormond), noiva de Samuel.
Tudo aqui é pensado para atrair os acadêmicos: seja a direção certinha de Edward Zwick (de Tempo de Glória), os grandes planos, a trilha sonora comovente de James Horner (que venceu o Oscar pela trilha de Titanic), sua excepcional direção de fotografia e grandes cenários.
Ou seja, é um filme bom tecnicamente.
Assim como o seu competente elenco: Anthony Hopkins já era um ator premiado e consolidado na época e deu ao filme a seriedade que precisava. Brad Pitt já era um rosto conhecido, mas queria sair do seu estigma de eterno galã e conseguiu: além deste filme, ele também estreou Seven e Os Doze Macacos nesta época (sendo indicado ao Oscar por este último).
O mesmo, porém, não se pode dizer de sua problemática montagem, pois o ritmo é um problema: há cenas longas demais, desnecessárias demais e daria para tirar uns 30 minutos do filme sem prejuízo em sua história.
Sem contar a falta de emoção na narrativa: ok, o filme não quis correr riscos e foi claramente feito com o intuito de ganhar prêmios, mas também não precisava se manter frio ou imparcial nos fatos: é uma história familiar e o peso emocional seria importante aqui.
Mas isso não quer dizer que Lendas da Paixão seja um filme ignorável ou esquecível: é bom ver que o filme tenha sobrevivido bem, mesmo após mais de 2 décadas de seu lançamento, que seus planos ainda sejam de encher os olhos e que seu elenco ainda permaneça em alta. É um épico – para o bem e para o mal.