Se tem uma coisa que o diretor Oliver Stone adora é de uma polêmica. Ele já dirigiu duas obras sobre a Guerra do Vietnã (Platton e Nascido em Quatro de Julho), sacudiu a América com JFK, chocou o mundo com Assassinos Por Natureza e é o roteirista de Scarface.
Mas se nos anos 80 e 90 as polêmicas estavam em favor de sua arte e seus filmes eram sucessos de público, crítica e premiações, o mesmo não se pode dizer de seus últimos filmes a partir da virada do século.
Alexandre, de 2004, que deveria chocar o mundo com a história de Alexandre, o Grande, foi um grande fracasso de público e crítica, mas nada foi comparado às bombas que vieram depois, como As Torres Gêmeas e Selvagens.
Sendo assim, não é exagero dizer que Um Domingo Qualquer, lançado em 1999, é seu último filme bacana.
Stone deixa as tramas e conspirações políticas de lado e mostra o mundo do futebol americano, mas não se esquece de suas raízes: o esporte aqui não é mostrado de forma glamorosa, com grandes astros ou pela paixão, mas como um negócio, o que ele é de fato (sim, o time que você torce e briga por ele não passa de uma empresa) e mostrando que um jogo é mais disputado nos bastidores do que dentro das 4 linhas.
Não que este seja um tema novo para o diretor, pois ele já falou sobre o cinismo da ganância e da bolsa de valores no excelente Wall Street, de 1987 e embora este filme seja inferior, não deve ser desprezado.
O grande Al Pacino faz o técnico do Miami Sharks, Tony D’Amato, experiente, respeitado e vivendo das glórias do passado. Aqui é apresentado como um treinador decadente, questionado pela mídia, torcedores e da diretoria do time, principalmente da presidente do time, Christina Pagniacci, vivida pela Cameron Diaz, que enxerga o time mais como uma grande empresa do que como esporte.
A esperança do time está no jovem promissor Willie Beamen (Jamie Foxx, em um de seus primeiros papéis)
O espectador pode enxergar este filme como um filme sobre esportes, como uma crítica ao jogo de interesses ou uma história de superação onde não é muito difícil saber como vai terminar. Foi difícil vender este filme para o mercado internacional, considerando que estamos falando de um esporte mais tradicional ao público americano (o mesmo problema de O Homem Que Mudou o Jogo), o que explica o fracasso comercial do filme.
Mas não é apenas isso: Um Domingo Qualquer tenta ser épico, grandioso e com grandes tomadas. De fato, há um grande trabalho de montagem, mas a trama pensativa se perde em momentos maneiristas, como os momentos musicais, onde o filme, literalmente, para sua trama para apresentar um videoclipe (sério!) bem ao estilo MTV, sem contar as cenas de nudez gratuitas, que não acrescentam em nada na história.
Oliver Stone faz uma direção com competência, sem a sua mão pesada do passado, mas ainda em alta, mas o grande charme de Um Domingo Qualquer está em seu elenco: Al Pacino está ótimo como sempre, Cameron Diaz surpreende como a presidente gananciosa, tem até as pontas do próprio Oliver Stone como comentarista esportivo, mas quem rouba a cena mesmo é Jamie Foxx, que ali já demonstrava que seria o grande ator até hoje, premiado e respeitado.
É dele os melhores momentos, diálogos e onde o filme ganha mais vida.
Um Domingo Qualquer está longe de ser memorável ou clássico. É um filme com diversas pretensões, mas que se tornou esquecido com o tempo. Talvez as novas gerações não conheçam o legado de Oliver Stone para o cinema. Os últimos filmes não ajudam, mas não apagam seu passado de glória.
Será que um dia ele nos volta para surpreender?