Ao longo dos anos 90, o diretor alemão Paul Verhoeven se aventurou em filmes ousados, como Instinto Selvagem e Showgirls, mas seu maior talento mesmo é na Ficção Científica: Robocop e O Vingador do Futuro são grandes filmes e que marcaram o gênero e geração, mas seu filme mais divertido, Tropas Estelares, ainda permanece subestimado.
Tropas Estelares é baseado em um livro homônimo de Robert A. Heinlein e se passa em um futuro distópico onde a globalização chegou a tal ponto onde não existem fronteiras e só existe um Estado: a Federação.
Ainda há o conceito de “american way of life”, mas de forma global e o incentivo às Forças Armadas. Neste cenário temos o nosso protagonista, Johnny Rico (vivido por Casper Van Dien) que quer entrar para o exército para impressionar a sua namorada e contradizer seu pai. Quem faz a namorada dele é Carmen, vivida pela então beldade Denise Richards, que tem o sonho de ser piloto. Também temos Dizzy Flores, vivida por Dina Meyer, que precisa se provar forte e capaz perante o mundo machista que a ronda.
Reparem também na presença de Neil Patrick Harris em início de carreira como um membro da inteligência militar e ex-colega de sala de Rico.
Tropas Estelares foi vendido da forma errada, foi um fracasso de bilheteria, mas não demorou muito para se tornar cultuado, o que permanece até os dias de hoje e é até muito imitado. Essa rejeição se deu, provavelmente, porque as pessoas levaram a sério uma história que nunca se leva a sério: não dá para levar credibilidade em uma história onde jovens vão para o espaço matar insetos gigantes.
A crítica falou mal das atuações na época: Casper Van Dien, Denise Richards e Dina Meyer não são exatamente exemplos de grandes atores, mas, tanto eles quanto o restante do elenco e o diretor, estão se divertindo em tela e um dos grandes trunfos de Tropas Estelares é que ele se assume como um filme trash e não tem vergonha do que é, nem das claras referências aos filmes do gênero.
Os estúdios ainda estavam descobrindo a computação gráfica e, embora alguns efeitos tenham envelhecido mal, a maioria ainda funciona muito bem até hoje. Ver os insetos se explodindo ou detonando os humanos é para pegar a pipoca e desabar na poltrona.
Assim como Robocop, clássico também dirigido por Paul, há várias críticas à sociedade onde o filme se passa e o poder da mídia, mas, ao contrário do filme de 1987, não há tensão nas cenas, nem um clima sombrio, muito pelo contrário: há diversos “flashes ao vivo” onde a programação da TV é interrompida para uma propaganda militar. É claramente inspirado na propaganda nazista, mas diverte – e muito – o espectador.
Quem curtiu o também ótimo No Limite do Amanhã, com Tom Cruise, em 2014, saiba que a inspiração veio daqui, de um filme quase B, subestimado, mas que hoje tem uma legião de fãs.
Tropas Estelares foi indicado ao Oscar de Efeitos Visuais mas perdeu, com toda a justiça, para Titanic. Pode ser visto como “tosco” ou “bobo”, mas é melhor do que muita coisa por aí que é levada a sério. Ao menos ele não tenta ser o que não é, nem engana o espectador.