Quem conhece a Marvel apenas pelo seu cenário atual, emplacando um sucesso atrás do outro, nem imagina que a editora já passou por maus bocados, inclusive com processo de falência.
Mas não foi só ela: a segunda metade dos anos 90 foram difíceis para fãs de quadrinhos. As vendas estavam baixas e as adaptações cinematográficas iam de mal a pior: Como O Fantasma, Spawn e Batman e Robin – que foram um fracasso de público e crítica, e quase enterraram o gênero dos super-heróis no cinema.
Só que a Marvel não se deu por vencida, tendo vendido os direitos de seus heróis para alguns estúdios para conseguir lançar seus filmes, visando seu plano de expansão, que viria nos anos seguintes com X-Men e Homem-Aranha – que foram muito bem-sucedidos, é verdade, mas que tudo começou lá em 1998, com Blade – O Caçador de Vampiros.
Blade teve um marketing modesto: não foi vendido como um filme de herói, mas sim, como um filme de ação comum, que estava em alta na época.
Vale lembrar que ainda estamos nos anos 90, quando o astro ou estrela era quem definia o sucesso ou não do filme e Wesley Snipes estava em alta na carreira em filmes como O Demolidor ou Assalto Sobre Trilhos, por exemplo.
Blade acerta, tanto na adaptação, quanto como um filme isoladamente: mesmo quem nunca leu a HQ, vai se divertir e compreender sua trama.
O filme ainda gerou mais duas continuações, além de uma série de TV: Blade 2, de 2002, dirigido por Guillermo Del Toro, que é ainda melhor do que o primeiro, e em 2004 estreou Blade Trinity, que é o mais fraco e fechou a trilogia de forma menos honrosa do que deveria.
O filme conta a história de Blade, que foi contaminado pelo sangue de uma criatura das trevas, transformando-se em um guerreiro imortal, meio-homem, meio-vampiro. Agora ele persegue Deacon Frost, líder dos mortos-vivos que planeja a dominação da espécie humana.
Blade – O Caçador de Vampiros, acerta em seu tom, que vai mesclando entre o gore e o clima de aventura. Não espere um produto para a família; o clima sombrio lembra o de filmes como O Corvo, por exemplo.
Há boas cenas de ação aqui, gráficas, estilosas e que parecem um quadrinho em movimento, quase o que Zack Snyder fez em 300, embora algumas cenas tenham envelhecido mal, sobretudo porque a produção resolveu investir quase tudo em efeitos digitais e menos em efeitos práticos, mas é importante conhecermos o que era tendência na época.
Wesley Snipes se diverte e se encaixou como uma luva no papel, mas engana-se quem acha que o ator carrega o filme. Aliás, aqui ele tem boa química tanto com Kris Kristofferson quanto com N’Bushe Wright.
Stephen Norrington tem pouca experiência como diretor e aqui faz uma direção apenas correta, mas se sai muito melhor do que na direção de outra adaptação de HQs: o desastroso A Liga Extraordinária.
Já o roteirista David Goyer sabia o que estava fazendo: ele conhece o universo Blade como poucos, também escreveu as continuações e desenvolveu as séries de TV. E não devemos nos esquecer de que Goyer é roteirista da trilogia do Batman, dirigida por Christopher Nolan, de Homem de Aço, Batman vs Superman e criador de Krypton, série que chega em 2018.
Goyer pode ter seus tropeços, e gostar ou não é um direito de cada um, mas os fãs de HQs e cinema devem muito a ele.
Blade teve um sucesso modesto: custou 45 milhões e faturou 131 milhões, não foi nenhum arrasa-quarteirão, mas foi o suficiente para o pontapé inicial deste universo que já acompanhamos há um tempo, que o cinema aprendeu a respeitar e viu no mundo dos super-heróis uma forma rentável de sucesso.
Estamos à espera do “Blade” das adaptações de games e animes.
Nota: 4 Estrelas