Natureza Selvagem – Crítica

A indústria cinematográfica está saturada de filmes que tem como plano de fundo a Segunda Guerra Mundial, e isso não é surpresa pra ninguém! As plataformas de stream e os canais por assinatura estão abarrotados de títulos com essa temática. Antes mesmo de dar o play me questionei se Natureza Selvagem seria capaz de trabalhar algo novo, mesmo com um tema tão explorado.  

O filme é dirigido por Adrian Panek, produzido pela A2 Filmes e possui uma sinopse até que bem simples. Mas não se deixe enganar, a narrativa possuí tantas camadas que acredito nem ser capaz de explorar todas elas aqui. Confira a sinopse:

Oito adolescentes mantidos em campos de concentração nazistas são libertados por russos. Eles são entregues aos cuidados de Jadwiga num local abandonado na floresta polonesa. Além de carregarem diversos traumas, terão que enfrentar fome, sede e um grupo de violentos lobos. 

Natureza Selvagem

Os Russos chegaram, e agora?

É comum acreditarmos que o sofrimento do povo judeu acaba quando os russos invadem os campos de concentração nazista. Mas você já se perguntou como foi a reintegração dessas pessoas na sociedade? Ou melhor, já se perguntou como foi para essas pessoas que viveram em um campo de concentração, voltarem a viver em uma outra lógica? Muito provavelmente não, e esse é o ponto chave da narrativa de Natureza Selvagem. 

O filme questiona essa ideia simplista de que em um dia há guerra e sofrimento e no outro não. A trama passa a mensagem de que as marcas da guerra não somem porque supostamente você está livre. Existem marcas internas e externas tão profundas que “voltar ao normal” não é uma opção, ainda que seja um desejo.  

Personagens

No que diz respeito aos personagens, nada falarei deles, não que eles não sejam importantes, mas porque a própria trama se encarregar de não aprofunda-los. Ao não apresentar suas trajetórias, o filme nos da a entender que os traumas e os problemas encontrados pelas crianças, não são de exclusividade do grupo, mas algo que poderia acontecer com muitas outras crianças judias no pós guerra.

Traumas  

Nesse quesito o filme dá um banho! Natureza Selvagem nos mostra que a guerra atinge a cada um de uma forma, os traumas são múltiplos e são apresentados desde pequenos a grandes gestos, seja na forma de comer, de se compreender, ou na linguagem utilizada, e quando digo linguagem não estou me referindo a fala, mas a forma com que nos comunicamos com o mundo. Se quando criança você passasse anos submetido a extrema violência, ainda que retirado desse ambiente, qual seria a sua forma de lidar com o mundo? Pois é, essa é a segunda grande questão que o filme nos coloca.  

Já que estou falando das questões do filme, preciso avisar, que se você gosta de respostas, lamento dizer, mas essa não é a proposta. Apesar de colocar diversas e complexas questões, a narrativa não se propõe a resolver nenhuma ou quase nenhuma delas. Não podemos esquecer que o Holocausto é uma memória sensível e ainda uma ferida aberta, muitas de suas questões ainda não encontraram resolução.  

Natureza Selvagem

O mundo não é só bem e mal 

Trabalhar com memórias sensíveis é extremamente difícil, por isso geralmente os filmes que tratam de guerras constroem o vilão e o herói. Essa é uma estratégia utilizada para não atingir a memória daqueles que sofreram os horrores da guerra. Mas sabemos que a vida não é tão dicotômica assim, então como trabalhar as nuances da guerra sem diminuir ou justificar as ações cruéis? Esse é um grande debate na área da história e que surpreendentemente o filme trabalha muito bem.  

Apesar de ser classificado como um filme de “drama, guerra e suspense”, eu tranquilamente o recomendaria como também um filme “histórico”. E você pode estar se perguntando: “Mas Lais sua louca, como isso é possível? Ou é histórico ou é ficcional, os dois não dá mulher!!!” E eu digo que dá! A ficção nesse caso serve como uma forma de explorar aspectos da vida que um simples filme documental não daria conta. Se entendermos a ficção como uma ferramenta de aproximação do espectador com os problemas históricos ali apresentados, o filme toma outras proporções.

Por fim, posso dizer que Natureza Selvagem nos mostra que a selvageria pode habitar no mais “civilizado” homem, sendo a crueldade uma característica puramente humana.

Acho que está claro pra todo mundo que eu adorei Natureza Selvagem né? Se você curtiu essa brevíssima resenha e ficou curioso para assistir, você pode conferi-lo em uma dessas plataformas:  Now Online, Looke, Vivo Play, Microsoft Movies & Tv e Apple Tv .

Recomendações

Se você gosta de ler, vou deixar aqui duas indicações incríveis de leitura:

Como indicação literária, recomendo A bibliotecária de Auschwitz, que tem resenha aqui no site e você pode conferir clicando aqui

Se você gosta de uma leitura um pouco mais profissional, recomento fortemente  Os afogados e os sobreviventes: os delitos, os castigos, as penas, as impunidades. No capítulo dois deste livro, Primo Levi cria o conceito de Zona Cinzenta, um espaço de ambiguidade que engloba diferentes ações, com diferentes pesos, assumindo diferentes tonalidades de cinza. Esse conceito está muito presente no filme Natureza Selvagem. 

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Nerd: Lais

Queria ser uma digiescolhida, mas sou apenas uma historiadora apaixonada por Star War, livros e tudo que há de bom.

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