My Blueberry Nights ou Um Beijo Roubado, como foi chamado aqui no Brasil, é um filme que foi lançado em 2008, dirigido por Wong Kar-Wai e estrelado por Jude Law e Norah Jones (e com direito a uma pitada de Natalie Portman). É um romance com uma pitada de drama que conta a história de Jeremy, dono de um café em Nova Iorque que passa a ser visitado pela desiludida Elizabeth, que não aceita muito bem o fim de seu último relacionamento, no qual foi traída. Elisabeth e Jeremy começam a ficar cada vez mais próximos, até que Elisabeth, para tentar finalmente superar o terrível término, muda-se de cidade e vive uma nova vida para conseguir fazer as coisas que tem vontade. Nesse tempo, escreve para Jeremy, contando sua jornada, sobre as pessoas que conhece no caminho, sobre suas reflexões. Além de contar sobre a atração de Jeremy e Elizabeth, o filme também nos mostra outros relacionamentos , que mudam a forma de Elizabeth encarar a vida e, principalmente, o amor. O filme proporciona uma linda história e importantes lições, tudo isso com uma fotografia encantadora, atuações de fazer cair aquele cisco no olho e diálogos de anotar no caderninho!
E foi exatamente isso que aconteceu comigo, mas não da primeira vez em que assisti ao filme. Não foi uma daquelas histórias de amor à primeira vista, e só um bom tempo depois, quando assisti novamente ao filme, pude ter outra visão sobre o que ele queria nos ensinar. O texto abaixo foi escrito em 2010, e hoje venho compartilhá-los com vocês. Valeu a pena ter dado uma segunda chance ao filme, uma segunda chance para mim.
Acabei de assistir a um filme – ou reassistir? Fica a dúvida, já que o filme me pareceu completamente diferente da primeira vez, há alguns anos atrás. Um filme novo.
Da primeira vez, causou certa impaciência e revolta, passei o filme todo sem entender quase nada e só caíram algumas lágrimas quando uma das histórias, por algumas cenas, bateu com a minha. Mas a conclusão final foi de que o filme era ruim, perda de tempo. Chatinho.
Até que dia desses li algo sobre o filme, e voltei a pensar nele. Relembrando, mais cenas e frases me chamaram a atenção. E deu aquela coceirinha de que se eu assistisse de novo, algo de bom ia sair dali.
Sentei com pipoca e guaraná, e um par de novos olhos, que de novos não tem nada. A expressão certa seriam velhos olhos, por agora serem mais experientes. Então sentei com meus velhos olhos e meus sentimentos de mulher e não mais de garotinha. E o que antes me pareceu distante e embaçado se tornava nítido, experiencial e compreensível, acima de tudo.
Com os sentimentos de garotinha trocada, o filme não era bom porque não batia com o final feliz que eu achava merecer. A vida não era boa porque não era como eu queria. Nada como uns anos a mais e lágrimas de menos pra mudar as coisas.
A mensagem mais do que clara do filme era: let go. Deixe ir. Eu não a entendi, ou melhor, não quis entender porque eu queria forçar, e continuar, e querer, e sofrer. Para mim, deixar partir era desistir. Eu não aceitava que abrir mão de uma pessoa e a ilusão que ela deixou no lugar quando foi embora não era a mesma coisa que abrir mão do sentimento. As pessoas vão. A ilusão vai. Os sentimentos, por mais modificados e amenos, ficam.
É uma decisão entre se embriagar em passado ou manter a sobriedade para seguir em frente sem tropeços, cambaleios ou recaídas. Uma decisão que muitas vezes não é fácil, mas que em algum ponto deve ser feita a fim de evitar consequências maiores causadas pelo vício.
É sobre manter as chaves guardadas, num eterno “e se…”, chaves essas que prometem abrir portas de encontro a um passado outrora feliz, mas podem se deparar com uma nova fechadura, um segredo que mantém a tranca, ou pode não encontrar ninguém mais vivendo naquele passado. Se você precisa de uma chave, e não apenas um convite para entrar, esqueça.
Tem-se a chave, e tem-se a porta. A única coisa para qual a chave pode servir é para trancar a fechadura. Depois, deve-se esquecer a chave em cima de um balcão em um bar qualquer, num banco de um táxi ou em qualquer outro lugar que se use para tornar o adeus mais fácil e definitivo.
Livrar-se do peso do passado para finalmente dar uma nova chance. Não ao que poderia ter sido e não foi, mas a você. Dar uma nova chance para o amor que pode acontecer. Dar uma nova chance para ser feliz sem carregar todo aquele peso.
Renovar o sentimento para que ele não te faça mal cada vez que for recordado, e sem arrependimentos. Focar em novos relacionamentos, amorosos ou não, em aventuras, que irão curar todo o mal passageiro com novos aprendizados, novas dores e novas alegrias.
Não fique no mesmo lugar em que foi deixado, esperando por um retorno, esperando por alguém que volte por você e te ache. Você não está perdido, só não sabe como seguir em frente. Pois é assim mesmo, um passo atrás do outro, pequenos passos e quando se der conta, depois de um tempo já vai querer correr o mais rápido possível de tudo aquilo que te fez mal.
Comecei com alguns passos, e depois de percorrer uma maratona, vejo as mudanças que colecionei pelo caminho que no meio da corrida nem me dei conta. Mas existem, estão aqui. Como esse novo velho par de olhos, que não perderam seu encanto por terem envelhecido. Agora enxergam com mais poesia.