Vinícius Galhardo está no beco dos artistas trazendo mais da tão fascinante mitologia indígena
Meu primeiro dia de CCXP e, mesmo com o evento ainda sendo online, meu costume de visitar primeiro o coração do evento, o Artist’s Valley, segue firme e forte.
E foi logo de manhã que encontrei Vinícius Galhardo fazendo seu streaming simultâneo na Twitch e na CCXP enquanto ele desenhava a indígena alagoana Elâine Souza, eleita Miss Brasil 2021.
Eu peguei o bonde andando, mas cheguei na hora em que ele começava a explicar o nome de alguns dos adereços que a modelo usava. Foi o suficiente para me fazer ler sua biografia no rodapé da página, onde acabei confirmando que o artista tinha como foco a mitologia indígena.
Já falei de outro projeto que usa a rica mitologia do nosso país como base para criar uma história misturando o steampunk com o folclore brasileiro (Vera Cruz), e sempre quando vejo artistas nacionais explorando a nossa riqueza como grandes contadores de histórias, faço questão de dar a atenção que eles merecem.
Sobre o artista
Vinícius Galhardo tem 31 anos e mora em São Paulo. Durante o bate-papo na Twitch, ele comentou que sempre quis participar da CCXP como artista, mas não conseguia por não ter um projeto autoral. Porém, em vez de desanimar, isso impulsionou o artista a explorar nossa riqueza histórica em mitologia.
O interesse em produzir quadrinhos, que surgiu quando trabalhava na JBC, só aumentou conforme ele fazia cursos de roteiro, design e fluidez de personagem, e workshops de produção de livros infantis.
Tudo isso o levou a se inscrever no Brazil Mangá Awards (2018), onde acabou ficando em segundo lugar com sua primeira história (Sociedade Barata), publicada na Henshin Mangá.
A caçada mitológica
A necessidade de ter um trabalho autoral foi o que o impulsionou Vinícius. Ele queria algo original que talvez até pudesse ter base na mitologia indígena, mas que não fosse algo como Curupira, Saci ou Caipora, pois todas essas criaturas já foram bem exploradas por anos.
Foi aí que ele leu o conto da Vitória Régia e “ficou apaixonado”, como ele mesmo disse durante a live. Daí surgiu a HQ Contos Tupi-Guarani: Irupé (que será relançado pela Editora JBC em 2022 num formato especial), contando a história de Jaci, que encanta as mulheres das aldeias e as transforma em estrelas para iluminar o céu.
Outra obra deste mesmo artista, lançada pela Editora Aruanda, foi o livro infantil Caboclo Tupinambá e a Serpente, que em 2021 entrou pra um projeto do governo de incentivo a cultura para populações de baixa renda chamado Eu Faço Cultura.
Ele, então, mergulhou em pesquisas mais aprofundadas, algo que, segundo ele mesmo, foi uma parte desafiadora do projeto:
“ Processo foi bem difícil pois é uma temática muito intocada e sem referências ou fontes confiáveis.” Quando perguntei como foi esse processo de pesquisa, ele me disse que foi algo simultâneo; ele pesquisava, lia, e escrevia ao mesmo tempo. “Estudei muito sobre a literatura de vários folcloristas brasileiros como Januária Cristina Alves e Luiz da Câmara Cascudo, no meio do processo tive ajuda de alguns indígenas para coletar informações“.
Outro desafio desse projeto foi tentar condensar as lendas e suas versões (de mais de 300 povos indígenas diferentes) para uma versão mais geral, mas que não desrespeitasse a origem dessas criaturas. Foi daí que surgiu mais um projeto dele, o Panteão Tupi-Guarani.
O restante da live foi basicamente uma aula, onde o artista explicava alguns conceitos da mitologia, lendas e versões que ele encontrou enquanto pesquisava para suas obras.
Tem novidade vindo aí?
Para quem ficou interessado, ainda em 2021 sairá uma versão exclusiva de Contos Tupi-Guarani: Irupé pela Editora JBC, com páginas extras, capa exclusiva e um conteúdo bem legal. A obra estará disponível na forma impressa e digital.
Também terá a continuação do livro Caboclo Tupinambá e a Serpente pela Editora Aruanda.
Vinícius também revelou que está trabalhando numa nova HQ sobre contos Tupi-Guarani, e essa será sobre o Guaraná. Para esta obra, ele está contando com ajuda do antropólogo social Sateré-Mawé para dar toda uma riqueza cultural ainda maior para a história! E parte do lucro do financiamento coletivo que será feito no Catarse, será convertido para uma comunidade indígena Sateré-Mawé.
Você pode acompanhar o Vinícius pelas redes sociais no Instagram e Twitter e visitar a loja dele na Shopee.