O filme é crível em sua composição, parece que somos espectadores de uma vida, como se fossemos o amigo que está ali ao lado do personagem, ou que fomos convidados a participar da trama mesmo que indiretamente.
Valdo interpretado por Lourinelson Vladmir é um fotógrafo autônomo que chega ao seu “fundo do poço” devido a problemas com bebida. Em meio a festas e pequenas reuniões que faz com seus amigos ele entorpece sua vida e vive em uma “maré alta”.
João Paulo Procópio assina dirige e assina roteiro, pela primeira vez em concomitância, e traz o longa-metragem “Marés” que retrata a história de Valdo Gomes e sua luta constante contra si mesmo.
O cenário deste longa é Brasília de 2016, ano do impeachment da presidente Dilma Rousseff que só é perceptível por uma única cena inicial onde os personagens são apresentados aos espectadores. Valdo está em uma espécie de passeata com quem se acredita ser sua namorada, pelo decorrer das cenas a seguir. De maneira confusa o relacionamento dos dois nos é apresentado e em momento nenhum conseguimos entender que Valdo tem uma filha até ela ser mencionada no longa e aparecer em cena.
Isso talvez se dê ao fato de que a trajetória deles vá de namoro a casamento em relances de cenas que demonstram sua fragilidade com a bebida e com as noitadas. A barriga de mãe também é mostrada rapidamente e logo já se fala na criança que precisa de um lar mais sadio.
Valdo se vê desafiado a encarar seu alcoolismo para não perder a guarda da filha.
A narrativa traz os dramas enfrentados por um alcoólatra que tenta largar o vício e mostra como as pessoas ao seu redor seus vizinhos, família e amigos ajudam ou dificultam esse processo. Um filme que te desconcerta pelo estilo narrativo escolhido que poderia ser melhor, pois a idéia é muito boa, mas a execução um pouco fraca, talvez porque a minha expectativa girava em torno de um filme como “28 Dias” com Sandra Bullock que narra a mesma trajetória de alguém tentando se livrar do vício forçadamente pelas circunstancias da vida, porém de maneira mais firme e concisa que “Marés” traz.
De fato, por tratar de histórias sobre alcoolismo, já que o autor reuniu histórias e observou bastante montando estudo de caso para compor o personagem, e isso é bem nítido pela veracidade com que o filme, apesar de confuso na narrativa, aborda o tema de maneira resoluta, a construção do roteiro indica uma “jornada de herói” onde tenta trazer as experiências de superação, recaídas, ganhos e perdas do personagem principal.
Valdo se vê diante de enfrentar seus monstros internos e isso, é nítido pois o ator conseguiu transpassar essa agonia ao espectador, porém, como a trama tenta te contar uma história, é aí, que mora o perigo, onde o autor escorrega diversas vezes e a história se perde em si mesma. Talvez de maneira proposital, mas entendo que para o espectador seja difícil comprar essa ideia, mas, ao mesmo tempo, por ser um roteiro desafiador, devo dar crédito a João Paulo Procópio.
No fim das contas, o filme fala sobre não perder o rumo e encontrar um caminho quando se há motivações para seguir adiante.
Ficha Técnica:
Brasil, 2019 | Ficção, 90min – Cor
Direção e roteiro: João Paulo Procópio
Produção Executiva: Mateus de Medeiros e Camila Ciolin
Montagem: Zepedro Gollo
Direção de Fotografia: André Lavenère
Direção de Arte: Maíra Carvalho
Figurino: Claudia Wiltgen
Maquiagem: Enoque Abikian
Trilha Sonora: Sascha Kratzer
Desenho de Som: Olívia Hernández
Mixagem: Paulo Gama
Técnico de Som: Marcos Manna
Elenco: Lourinelson Vladmir, Julieta Zarza, Fernanda Rocha, Vinícius Ferreira, Bianca
Terraza, Sérgio Sartório, Camila Guerra, Fernando Teixeira, Zoraide Coledo, Zezita Matos e Catarina Accioly
Produção: Pavirada Filmes
Distribuição: ELO Company