Responsável pela publicação de títulos como “As Crônicas de Gelo e Fogo” – que inspirou a série da HBO, “Game Of Thrones” -, “Mulheres Perigosas”, “O Dragão de Gelo”, “A Morte da Luz”, “Sonho Febril” e “O Cavaleiro dos Sete Reinos”, quando se trata da leitura fantástica e do escritor e roteirista norte-americano George R.R.Martin (GRRM), a editora Leya não comete erros ou se deixa ficar para trás.
Em 2013, após ter publicado o quinto e último livro (até o momento) de “As Crônicas de Gelo e Fogo”, a editora anunciou que publicaria a série “Wild Cards”. Saga que até 2016 era composta por 23 volumes e é editada por Martin e Melinda Snodgrass, amiga e braço-direito do autor.
“Wild Cards” – que atualmente no Brasil já teve 9 de seus volumes traduzidos: “O Começo de tudo”; “Ases nas alturas”; “Apostas mortais”; “Ases pelo mundo”; “Jogo sujo”; “Às na manga”; “A mão do homem morto”; “Luta de valetes”; e “Guerra aos Curingas” -, começou a ser idealizado no dia 20 de setembro de 1983, quando Martin completou 35 anos e ganhou de presente o RPG SuperWorld. O autor se afeiçoou tanto ao título que passou anos idealizando vilões através dele e quando percebeu que poderia lucrar com isso, ele e os amigos tiveram a ideia de criar o universo compartilhado.
A trama principal do universo consiste em um cenário pôs-apocalíptico ao término da Segunda Guerra Mundial, onde um vírus chamado Wild Cards foi lançado nos céus de Nova York e matou uma grande parcela da população, além de transformar os sobreviventes em Ases (pessoas dotadas de poderes especiais) e Curingas (pessoas com deformidades), travando uma guerra entre as espécies.
Mas esse é um assunto para outra hora, porque este texto é para tratar, especialmente, de “Luta de Valetes”, 8° livro, publicado em 2017 e composto por 15 capítulos.
Quando as pessoas perdem o controle sobre o próprio corpo, um novo caos se instala no Bairro dos Curingas. Editada e Co-escrita por George R. R. Martin, a série “Wild Cards” conta a história de um vírus alienígena que atingiu o planeta, matando grande parte da população e causando mutações em muitos sobreviventes.
Alguns foram chamados de ases, porque receberam habilidades mentais e físicas, e outros, amaldiçoados com alguma deformidade bizarra, foram batizados de curingas. Mais de quarenta anos depois, a sociedade americana continua enfrentando os desdobramentos desse grave acontecimento, e novas surpresas aparecem no Bairro dos Curingas.
“Luta de Valetes” é o primeiro volume de “Rox”, uma nova trilogia dentro da incrível saga “Wild Cards”. Desta vez, acompanhamos Jerry Strauss – que já foi projecionista, mas agora é o Sr. Ninguém – numa série de histórias que compõem o livro e apresentam novos personagens. Em meio a uma confusão amorosa, Jerry descobre que uma gangue muito perigosa surgiu: os saltadores, pessoas que tem a capacidade de transferir a mente de um corpo para outro. E eles estão usando esse poder para o mal.
Nesta oitava obra nos deparamos com narrativas de personagens que já nos foram apresentadas em obras anteriores, só que de uma forma ainda mais complexa, e sendo o início de uma nova trilogia introduzida na série, inúmeras outras personas. Temos Jerry em busca do amor e lidando com assuntos familiares; a decadência e, possível salvamento de Verônica, e Cody, uma médica cirurgiã, que em um ato de empatia, acaba por se tornar uma exilada.
Para quem nunca teve um contato com a saga, a leitura de “Wild Cards” pode ser um tanto desafiadora, porque ela não só introduz novos personagens e formatos textuais ao longo de um já existente – como “Luta de Valetes” faz com a trilogia “Rox” -, e traz em cada um de seus capítulos esses diferentes personagens, mas também uma gama de diferentes autores em uma mesma obra. O que pode dificultar ainda mais do que os livros com uma amplitude de narrativas singulares, na hora do leitor criar afinidade com os elementos apresentados.
Apesar de a obra ter uma unidade e seguir uma linearidade que leva a um objetivo claro, há uma amplitude de estilos de escritas, características e singularidades dos escritores que compõem os personagens e os capítulos, o que pode tornar a necessidade de reconhecimento constante ao longo do livro, cansativa para algumas pessoas.
No entanto, mesmo com todos esses elementos, “Luta de Valetes” funcionou, assim como seus antecessores. O livro é bem trabalhado e tem uma extensão ideal – não ultrapassa os limites para uma novela tão detalhista e com momentos de lento desenvolvimento, impedindo que se torne maçante. E “Wild Cards” é uma série extremamente detalhista, porque requer aprofundamento e um cuidado minucioso com os detalhes, já que conta com muitos livros e precisa pensar no que virá no decorrer da história.
É um volume que mantém o ritmo alucinante dos outros sete, mas que tem um lado mais humanizado, que traz histórias mais emotivas e prendem o leitor logo de início, porque tem uma proximidade muito maior com suas vidas reais. Ele aborda momentos de dificuldade, dor, injustiça, conflito, amor, pedidos de ajuda, busca por salvação, entre outras tantas coisas, e ainda assim não se esquece de manter o toque de ficção que cativou os fãs do universo desde o princípio. Há um equilíbrio entre o ficcional e o real, assim como entre a trama principal de toda a série com as tramas individuais de cada personagem.
O livro é redondo e bem amarrado, tem começo, meio e fim. A única coisa que o impede de ser lido de forma independente são os acontecimentos passados atrelados à alguns dos personagens.
Em suma, “Luta de Valetes” é um volume de desenvolvimento muito bom, ele complementa a história e introduz linhas narrativas que podem vir a render coisas interessantes ao universo, trazendo um diferencial com sua emoção e ratificando o bom trabalho que os responsáveis tanto pela produção quanto pela edição fazem nos livros.
LUTA DE VALETES
AUTORES Walton Simons; Chris Claremont; Lewis Shiner; William F. Wu; Victor Milán; Stephen Leigh; Melinda Snodgrass; John J. Miller;
TRADUÇÃO Petê Rissatti; Cristiano Botafogo;
EDITORA Leya;
ANO 2017
PREÇO 30 reais, em media