A safra do Oscar de 1989 foi muito boa e das melhores – se não, a melhor – dos anos 80. Não é todo ano que temos filmes como Rain Man Mississipi em Chamas, Uma Secretária de Futuro e Ligações Perigosas e escolher o melhor é mais uma decisão sentimental do que racional.
Por conta disso, muitos consideram Ligações Perigosas como o melhor filme daquele ano. Um dos melhores da premiada carreira de Stephen Frears (diretor de A Rainha) e dos melhores papéis da Glenn Close.
Ligações Perigosas é sim, tudo isso e muito mais: uma verdadeira aula de como construir vilões carismáticos, mas sem caráter, em como fazer um filme de época e não se tornar enfadonho e ainda com uma técnica impecável: se fôssemos listar aqui os 10 melhores Figurinos e Direções de Arte da história do cinema, com certeza teríamos Ligações Perigosas na lista.
E o filme acabou vencendo o Oscar nessas categorias: Figurino e Direção de Arte.
O filme é baseado no romance epistolar de Choderlos de Laclos. Para quem não sabe o que é isso, trata-se não exatamente de um livro com uma história, mas centrado em cartas, o que torna ainda mais difícil a adaptação, mas o roteiro adaptado (que venceu Oscar) de Christopher Hampton é tão bem construído que se tornou uma referência ainda maior do que o livro que já é clássico.
O livro foi escrito em 1782, em uma França pré-Revolução e chocou a sociedade da época, sobretudo pelos jogos sexuais e a história de adultério, mas que, segundo relatos, foi o livro de cabeceira da Maria Antonieta.
Ligações Perigosas conta a história de Marquise de Merteuil (papel de Glenn Close, excelente!) que fora abandonada por seu ex-pretendente e jurou vingança aos homens ao seu redor. Para isso, consegue persuadir o Visconde de Valmont (John Malkovich, ótimo no papel!) a tirar a virgindade e reputação de Cécile de Volanges (Uma Thurman). Mas o Visconde acha a moça ingênua demais, acha a missão muito fácil e sugere à Marquise que conquiste a Madame de Tourvel (Michelle Pfeiffer, indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante pelo papel) em troca de uma noite com a Marquise.
O problema é que o Visconde acaba se apaixonando de verdade pela Madame e, além de colocar o plano por água abaixo, também põe a perder sua reputação de homem conquistador.
Quem se lembrar de Segundas Intenções, filme de 1999 estrelado por Sarah Michelle Gellar, Ryan Phillipe e Reese Witherspoon, ao ver esta sinopse, não está errado, já que este é uma livre adaptação do livro e do filme, mas para a atualidade da virada do século XX.
Na verdade, estamos falando de uma referência a jogos de sedução e manipulação e adaptações são sempre bem-vindas. Até a Globo adaptou em uma minissérie.
Mas o que diferencia o filme de 1988 para as outras adaptações? É uma série de fatores, como a ironia fina, sempre com classe, os diálogos incríveis e um roteiro que provoca o espectador a cada cena.
Mas nada disso funcionaria sem um grande elenco: Glenn Close (indicada ao Oscar pelo papel) estava ali no final dos anos 80 no auge de sua carreira e aqui faz uma Marquise para entrar para a história. John Malkovich é o equilíbrio perfeito entre homem sedutor, cafajeste, mas manipulável. Michelle Pfeiffer também é a mistura entre mulher forte e apaixonada. Já Uma Thurman e Keanu Reeves, em início de carreira, se apresentam como presas fáceis a uma sociedade sem inocência.
Ligações Perigosas merece ser descoberto pelas novas gerações, sobretudo agora após 30 anos de seu lançamento. E é uma prova de que filmes de época não são chatos, como muitos sugerem.
A ótima série Downton Abbey está aí para comprovar.