Há anos, fãs e leitores das obras de Stephen King esperam por novas adaptações cinematográficas e/ou televisivas dos livros do autor. Algo além das fórmulas anteriormente utilizadas nas produções baseadas nas histórias escritas por King.
Em 2017, isso finalmente aconteceu. Com cinco produções – as televisivas O Nevoeiro (The Mist, criada por Christian Torpe e exibida pelo canal norte-americano Spike) e Mr. Mercedes (de David E. Kelley para o Audience Network), as cinematográficas A Torre Negra (The Dark Tower, dirigida por Nikolaj Arcel) e It: A Coisa (It, dirigida por Andy Muschietti), e a de streaming Jogo Perigoso (Gerald’s Game, da Netflix)- esse é o ano de Stephen King e de suas obras.
Durante meses, após as confirmações de que as adaptações de fato ocorreriam, muito alarde foi feito. Em específico, acerca de A Torre Negra e It: A Coisa, dois dos mais populares livros do autor e que ganhariam as grandes telas dos cinemas. No entanto, nem toda a comoção e euforia foram positivamente retribuídas – algumas das produções não agradaram os fãs e espectadores.
O filme A Torre Negra, apesar de um bom rendimento de bilheteria, foi considerado confuso e de fraca narrativa. Responsável por criar um universo, mas não de contar uma história (pelo menos não à histórica escrita anos atrás por King e vai muito além do que foi oferecido na obra de Arcel). Já as séries O Nevoeiro e Mr. Mercedes dividiram opiniões. A primeira agradou uma parcela de espectadores, mas não teve um bom retorno e foi cancelada com apenas uma temporada. Enquanto a segunda – ainda em exibição com uma primeira temporada – mesmo com os elogios iniciais, não tem atraído o público.
Mas a grande surpresa, junto de It: A Coisa – que teve a melhor bilheteria de Setembro da história de Hollywood e se tornou, oficialmente, o maior filme de terror do Brasil e do mundo em termos de arrecadação, com R$ 50 milhões e US$ 500 milhões, respectivamente – foi Jogo Perigoso, produzido pelo serviço de streaming Netflix e com 92% de aprovação no Rotten Tomatoes.
‘JOGO PERIGOSO’
Baseado no livro de mesmo nome – publicado pela primeira vez em 1922 -, o filme dirigido por Mike Flanagan (Ouija 2) e estrelado por Carla Gugino, Bruce Greenwood, Kate Siegel e Henry Thomas chegou ao catálogo da Netflix na última sexta-feira (29).
A trama narra a história de Jessie Burlingame e Gerald, um casal com problemas conjugais, que viaja para sua casa de verão para apimentar a relação com jogos sexuais. Depois de ser algemada na cama, a situação toma um caminho inesperado: Jessie se cansa dos jogos do marido, mas as coisas se tornam ainda mais trágicas. Gerald sofre uma parada cardíaca enquanto ela ainda permanece presa.
Então, incapaz de se mover e como única companhia um cão selvagem e faminto, Jessie busca por alternativas que a ajudem escapar. Ao mesmo tempo em que as vozes que habitam sua mente e memórias de um passado, que durante toda a vida buscou esquecer, a incomodam e fazem enfrentar uma verdade que nunca se permitiu enxergar.
Com um roteiro de impressionar e que mantém o ritmo do início ao fim, a obra é uma das melhores adaptações do ano. Com certeza, uma das melhores feitas com base nos livros de King e já produzida pela Netflix.
Incomum ao gênero – suspense,terror – o filme não faz uso de elementos clichês como a imagem da figura feminina frágil e excessivamente chorosa, ou sequências de cenas deslocadas produzidas, unicamente, para assustar o espectador.
Flanagan cria uma atmosfera repleta de tensão que acompanha toda a trama, traz uma mulher forte, mas atormentada por mistérios e traumas do passado. Ele usa de uma história aparentemente simples e que tinha grandes chances de não ser bem aproveitada na tela, por conta de como e do meio onde acontece, para tratar de temas de grande importância, como relacionamentos abusivos.
As algemas não só prendem Jessie na cama da casa de verão, elas também representam uma analogia com os relacionamentos destrutivos pelos quais a personagem passou ao longo de sua vida, são o silêncio e a conivência que a mantiveram refém. E ao desenvolver da trama, ainda presa e acompanhada de alucinações que lhe mostram as verdades que nunca antes quis aceitar, mas agora é obrigada a enfrentar para delas também tentar se libertar.
Jogo Perigoso é um ótimo filme para quem gosta de terror e suspense, assim como da tensão e do ritmo presente nesses gêneros, mas também para aqueles que gostam de uma boa reflexão e esperam por se deparar com alguns ensinamentos.
Com excelentes atuações, direção e aspectos técnicos minuciosamente pensados para mergulhar o leitor na história, ele é uma ótima escolha para a próxima vez que acessar a sua conta da Netflix. O fato de não possui uma longa duração – ideal para contar sua história com consistência e não perder o ritmo tão agradavelmente construído -, torna-o uma excelente opção para os que não gozam de muito tempo livre.
JOGO PERIGOSO (Gerald’s Game);
DIREÇÃO Mike Flanagan;
ELENCO Carla Gugino, Bruce Greenwood, Kate Siegel, Henry Thomas;
GÊNERO Suspense, terror;
ANO 2017;
DISPONÍVEL Netflix.
No dia 20 de outubro uma nova adaptação, dessa vez baseada na obra Escuridão total, sem estrelas de Stephen King chega a Netflix. A produção foi intitulada 1922.