É fato que as continuações, remakes e reboots estão dominando Hollywood. Há um debate sobre a criatividade dos estúdios e esses filmes seguirem uma espécie de “cartilha”: devem agradar os fãs das antigas, ter um roteiro que as novas gerações gostem sem ter que procurar o material original, sem se esquecer de entreter a todos.
E IT – A Coisa faz tudo isso, com a diferença de fazer direito e sem os clichês do gênero: aqui é terror puro como os clássicos do gênero (um ou outro jump scare ou efeito mal renderizado podem incomodar), mas é visível o carinho e esmero dos envolvidos.
O filme começa em 1988, onde somos apresentados a dois irmãos, sendo que o mais novo morre na já clássica cena do palhaço no esgoto. Depois vamos a 1989, onde o filme de fato acontece, quando crianças têm pesadelos e visões com um palhaço, e Bill ainda está com trauma pela perda do irmão.
Por mais que o terror funcione e assuste, é o clima de amizade e companheirismo dos anos 80 que é o ponto alto por aqui. As comparações com Stranger Things são inevitáveis, seja pelo grupo formado de “losers”, do espírito de aventura, o bullying ou o fato de termo no filme o ator Finn Wolfhard, que foi o Mike na série.
As diferenças com a série é que temos um terror de fato e o bullying é muito mais visível e até cruel: os heróis e vilões são claros, tanto contra o grupo principal quanto contra Beverly, a mocinha do grupo, que é mal falada na escola. A primeira cena em que ela aparece, onde suas colegas jogam o conteúdo do lixo da escola nela, é quase de chorar.
Assim como na série, o elenco mirim é primoroso, todos os atores estão bem, como o próprio Finn, ou Jaeden Lieberher, que interpreta Bill e tem um peso dramático forte pela perda do irmão.
E o que dizer de Sophia Lillis?
Sua Beverly é um dos melhores personagens do ano porque representa todos aqueles que sofrem bullying, é uma mulher à frente de seu tempo, é forte, mas sem ser estereotipada e faria o que qualquer mulher em sua época e idade faria. Beverly é a melhor amiga que qualquer um possa ter.
Há diversas referências aos anos 80 – não só a ambientação – mas a alguns filmes clássicos da época: o vilão, que na verdade é o líder do grupo dos praticantes de bullying, é uma clara referência a Kiefer Sutherland em Conta Comigo. Beverly é uma Molly Ringwald perfeita e nos cinemas de rua do local, estão passando os filmes Máquina Mortífera 2 e Batman, além de um outro passando A Hora do Pesadelo 5 – O Maior Horror de Freddy.
O Pennywise é tão assustador quanto o de 1990, mas engana-se quem acha que o filme se limita ao terror e às referências dos anos 80: por diversos momentos, IT – A Coisa, é um legítimo “terrir”: as piadas são pontuais e funcionam como um respiro para o espectador.
Foi um grande mérito do roteiro, que foi escrito, também, por Cary Fukunaga – diretor de Beasts of no Nation e da primeira temporada de True Detective.
Há uma motivo para o filme se passar justamente em 1989: a ameaça sempre volta em um intervalo de 27 anos. Já foi anunciada a continuação deste filme, provavelmente passada em 2016.
Esperamos que seja com a mesma qualidade deste aqui. O gênero terror está em alta em Hollywood, mas nem todos os filmes primam pela qualidade. É muito positivo ver um bom longa de terror fora da franquia Invocação do Mal.
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