Na literatura, o gênero suspense sempre foi uma força a ser reconhecida. Com altos números de venda e um nicho especializado de popularidade similar ou maior que a dele – o gênero policial -, sempre exerceu grande apelo sobre leitores, fossem eles praticantes regulares ou novos, da leitura. Agora, com nomes como Gillian Flynn, Paula Hawkins, Tess Gerritsen e Liane Moriarty, que criaram uma identidade dentro do gênero, os suspenses têm ganhado outro significado, atingindo leitores que antes com ele não se identificavam. Assim como a principiante Mary Kubica, autora de A garota perfeita (The good girl, 2014) – seu primeiro livro trazido para o Brasil -, publicado em 2016 pela editora Planeta Livros, e do mais recente A desconhecida (Pretty baby, 2015) – publicado em maio pela mesma editora.
Mais um instigante thriller psicológico da mesma autora de A Garota Perfeita, best-seller do The New York Times. Todos os dias, a humanitária Heidi pega o trem suspenso de Chicago e se dirige ao trabalho, uma ONG que atende refugiados e pessoas com dificuldades. Em uma dessas viagens diárias ela se compadece de uma adolescente, que vive zanzando pelas estações com um bebê. É fato que as duas vivem nas ruas e estão sofrendo com a fome, a umidade e o frio intenso que castigam Chicago. Num ímpeto, Heidi resolve acolher Willow, a garota, e Ruby, a criança, em sua casa, provocando incômodo em seu marido e sua filha pré-adolescente. Arredia e taciturna, Willow não se abre e parece esconder algo sério ou estar fugindo de alguém. Mas Heidi segue alheia ao perigo de abrigar uma total estranha em casa. Porém Chris, seu marido, e Zoe, sua filha, têm plena convicção de que Willow é um foco de problemas e se mantêm alertas. Em um crescente de tensão, capítulo após capítulo a verdade é revelada e o leitor irá descobrir quem tem razão.
Heidi trabalha com serviços sociais e refugiados, em uma instituição isenta de fins lucrativos. É uma mulher gentil e que acredita ter a responsabilidade de ajudar todas as minorias e pessoas que sofrem com a falta de alguma condição básica. É casada com Chris – um investidor bancário -, com quem tem uma filha de 12 anos, Zoe. Mas há muito tempo o casamento não está bem – as características que uma vez os tornara a escolha certa um do outro, agora, são as responsáveis por um comportamento distante e frio. E quando uma garota com um bebê começa a cruzar seu caminho com freqüência, ela sente que precisa saber mais de sua história e ajudá-la. Chris, o homem que se apaixonou pela Heidi de anos atrás – estagiária da instituição que hoje comanda – e admirava sua falta de ambição e seu trabalho social, não existe mais. Ele se tornou alguém desconstituído de boas atitudes e que não se importa com o trabalhado de sua esposa. Na verdade, algumas de suas atitudes o incomodam, tornando ainda pior a relação de ambos quando Heidi trás a garota, Willow, e sua bebê, Ruby, para dentro de suas vidas. Willow é fechada e desconfiada. Ela aparenta ter passado por muito e, de início, não entende as atitudes de Heidi, o porquê de ela querer ajudá-la, o que faz com que se mantenha alerta e desconfie da humanitária por algum tempo. E ela não é a única. Ninguém parece entender o que levou a mulher a acolher a garota, e a mudança em seu comportamento desde a chegada de Willow e seu bebê, faz com que surjam conflitos tanto entre sua família como com a própria desconhecida. “A desconhecida” é um thriller psicológico que, constituído através de elementos simples e cotidianos, aborda a sociedade contemporânea e o comportamento que as pessoas têm reservado umas as outras. Reflete as conseqüências geradas por esses comportamentos e como os traumas e perdas afetam de forma diferente o psicológico das pessoas nessa nova era. Com uma escrita descritiva e capítulos narrados individualmente a partir da perspectiva de Heidi, Chris e Willow, em dois tempos distintos – um onde discorre os acontecimentos e outro posterior a eles -, a autora mergulha o leitor na história e lhes apresenta de forma gradativa seus personagens. Aspectos passados de suas vidas, seus segredos e as consequências que os atuais acontecimentos reservam para eles, dando ênfase para a existência de problemas e falhas, o que cria uma forte identificação entre leitor e personagem, fazendo com que seja impossível deixar o livro antes de seu fim. Surpreendente e imprevisível até a última página, a obra mostra um amadurecimento e uma tensão que Mary Kubica não possuía em seu livro anterior. Dessa vez ela consegue equilibrar todo o desenvolvimento da narrativa com um desfecho arrebatador, onde nem mesmo as pistas levam com facilidade. No entanto, mesmo com personagens bastante representativos, a obra pode não funciona para todos. Isso porque, em alguns casos a identificação que contribui para que a leitura atinja todo seu potencial, pode não ocorrer. Mas sendo apenas uma possibilidade e podendo não se concretizar, essa é inconstante e de pouca influência. O livro, emocionante e impactante, é recomendável a todos os fãs de literatura, mas principalmente aos que não dispensam um bom suspense. Ele é reflexivo e toca em aspectos delicados, mas que precisam ser constantemente apresentados a sociedade para que ocorram algumas mudanças.
A DESCONHECIDA
AUTOR Mary Kubica
TRADUÇÃO Fal Azevedo
EDITORA Planeta Livros
ANO 2017
PREÇO de 27, 00 a 43, 00 reais.
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