Guerra Civil, novo filme da A24 escrito e dirigido por Alex Garland, cineasta conhecido por Ex_Machina: Instinto Artificial e Aniquilação, chega aos cinemas brasileiros em 18 de abril e traz um Estados Unidos assolado por um conflito massivo que ameaça destruir toda a nação. O filme segue um grupo de jornalistas de guerra veteranos, que planejam chegar a Washington D.C. para tentar uma entrevista exclusiva com o presidente do país, interpretado por Nick Offerman (The Last of Us), antes que a oposição intervenha e o derrube do poder.
Sempre que dou de cara com uma distopia, pondero a probabilidade daquela situação realmente acontecer. E isso ajuda a moldar a minha suspensão da descrença diante daquele universo que me é apresentado. Sempre tentando adivinhar qual das alternativas é a mais plausível. E é aqui que Guerra Civil recebe minha total atenção e um consequente pavor. E o motivo é o fato de que aquilo não parece ficção. Parece um alerta.
Um Retrato Sombrio de um Estados Unidos em Crise
O enredo de Guerra Civil é um retrato sombrio de um Estados Unidos em crise, que levou a polarização até as últimas consequências. Esse cenário não é muito distante do que enfrentamos há pouco tempo aqui no Brasil. Onde, em um contexto um pouco mais desfavorável, poderíamos ter enfrentado desdobramentos tão selvagens quanto os retratados no filme.
Acompanhar o quarteto de jornalistas nos permite ter um vislumbre de diferentes facetas dessa sociedade em colapso, explorando temas como divisão política, conflito social e o papel da mídia em tempos de crise. O ambiente distópico é construído de forma competente, transmitindo as incertezas e inseguranças de um território em conflito, com uma atmosfera opressora que nos faz refletir sobre as consequências extremas de nossas ações coletivas e as escolhas que fazemos como sociedade.
Jornalistas em um País em Colapso
Kirsten Dunst (Homem-Aranha) entrega uma performance muito madura interpretando a jornalista e fotógrafa de guerra Lee Smith. Uma mulher que já não se abala mais pelas barbáries que ela sabe que um ambiente em conflito pode proporcionar. Como se todos os seus testemunhos, alguns mostrados em certo momento do filme, tivessem servido para criar uma espécie de blindagem, uma carapaça para qualquer horror que pudesse vir a registrar. Acima de tudo, ela exala cansaço. Uma profissional exausta, que não consegue parar, apesar de querer.
Wagner Moura (Tropa de Elite), como Joel, entrega uma performance tão boa quanto, mesmo sem o brilho proporcionado por uma personagem tão rica quando a de Kirsten. Ao contrário de sua colega, ele ainda se empolga com o dever de comunicar e com o frescor jovial de novos aspirantes do ofício. Por isso fica tão fascinado por Jesse. Porque no fundo, ele vê refletido nela o próprio início de carreira.
Cailee Spaeny (Priscilla) está excelente como a fotógrafa amadora Jesse, que acaba de penetra na jornada após conhecer Lee em uma das manifestações. Cheia de ímpeto, Jesse almeja algo para o qual talvez não esteja totalmente preparada. E isso é visível em certo momento, quando ela encara, pela primeira vez, algo que vai além do que ela idealizou. Que vai além de corpos sem vida. A crueldade humana presente em lugares onde as estruturas de uma sociedade caíram.
Atuações de Destaque no Elenco de Apoio
O elenco de apoio de Guerra Civil não fica atrás e também entrega atuações incríveis. Stephen McKinley Henderson (Duna), no papel de Sammy, um jornalista veterano que serviu como mentor para Lee e Joel, é simplesmente excepcional em sua performance. Sua presença em cena é marcada por uma mistura de sabedoria e vulnerabilidade. Por ser mais velho, e não estar em plenas condições físicas, é inevitável temer pelo personagem.
Mas é Jesse Plemons (A Noite do Jogo) que protagoniza, brilhantemente, a cena mais tensa do longa. Daquelas de prender a respiração. Plemons cria um suspense tão palpável que deixa o espectador completamente absorto pelo que está se desenrolando em tela, tornando essa cena uma das mais memoráveis do longa.
Direto ao Ponto
Um dos pontos fortes de Guerra Civil é seu roteiro. A escrita de Garland é objetiva e sem rodeios. Aquela sobra bem comum em filmes, aqui não existe. E, justamente por isso, alguns podem até dizer que este é também seu ponto fraco, já que um contexto não é apresentado. Além de algumas informações espaçadas que permitem que o espectador remende os fatos e entenda minimamente o que está acontecendo, nada mais é explicado. No meu ponto de vista, todo o espaço é muito bem ocupado, sem exageros ou lacunas.
E, assim como seu texto, a direção de Garland também é enxuta, sem floreios. Um básico perfeitamente bem executado. Que guia o público através do mundo distópico com um toque sensível e uma visão clara. Com sequências que prezam pelo impacto sonoro e visual, que exprimem de forma desconfortável os horrores da guerra. Um lembrete do porquê não devemos almejá-la, e o porquê de alguns a incentivarem tanto.
Um Alerta Indigesto
Com uma narrativa envolvente e elenco talentoso, Guerra Civil oferece uma visão sombria e impactante de um país em colapso. Com personagens que possuem uma narrativa heroica, apesar de não o serem. É um filme intenso, e um tanto indigesto, que nos leva a questionar o verdadeiro custo da guerra e o papel da mídia em tempos de crise. Alex Garland, de forma objetiva, cria um cenário distópico que, embora fictício, ressoa como um alerta perturbador sobre os perigos da polarização e do extremismo. Ainda que seja um daqueles que costumam ser ignorados.
Guerra Civil estreia próxima quinta, dia 18, somente nos cinemas.
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