A fórmula é conhecida: herói carismático, vilões detestáveis e lutas de fazer tremer a poltrona. Talvez o tipo de filme que você já viu mil vezes, mas que, quando é bem executado, funciona perfeitamente. Assim é Força Bruta: Punição (Beomjoidosi 4 / The Roundup: Punishment), quarta parte de uma franquia que vem crescendo no coração dos fãs do gênero, entregando exatamente o que promete: pancadaria, carisma e uma dose certeira de comédia. Em tempos de heróis de CGI e vilões apocalípticos, esse filme (assim como seus anteriores, Cidade do Crime de 2017, Força Bruta de 2022 e Força Bruta: Sem Saída de 2023) aposta no básico bem feito, com um protagonista que resolve tudo na base da força bruta… e sem perder a piada!
No centro dessa trama deliciosamente coreografada está ele: Ma Dong-seok, ou Don Lee como Hollywood às vezes gosta de chamá-lo. Se seu rosto te soa familiar, talvez você o reconheça de Invasão Zumbi ou como o Gilgamesh de Eternos. Em Força Bruta, ele usa de todo seu encanto e força como o detetive Ma Seok-do, um protagonista que domina a cena com sua presença imponente e timing cômico afiado. E quando chega a hora da ação, seus socos são um espetáculo à parte: secos, diretos e com um impacto tão forte que dá pra sentir do outro lado da tela.
Força Bruta se inspira diretamente nos clássicos brucutus dos anos 80 e 90, aqueles onde o herói resolvia tudo no braço, sem tanta conversa e com frases de efeito na ponta da língua. Ma Dong-seok acaba sendo um herdeiro dessa linhagem, mas com um charme bem próprio: ao contrário de alguns dos ícones hollywoodianos que pareciam máquinas inatingíveis, ele é mais humano, com muita empatia, no entanto sem deixar de ser absolutamente letal.
O filme resgata essa nostalgia da ação física, do herói que entra numa sala cheia de bandidos e sai praticamente sem um arranhão, mas faz isso com um frescor moderno, ritmo ágil e um senso de humor que nunca escorrega pro pastelão e nem fica exagerado, como tem acontecido em alguns filmes da Marvel ou da DC, por exemplo. É um brucutu de respeito, daqueles que você torce, ri e vibra a cada golpe bem encaixado, extremamente divertido.
Ainda assim, apesar de repetir muitas das fórmulas consagradas dos filmes de ação, seja o herói invencível, os vilões perversos ou as lutas bem coreografadas, Força Bruta: Punição consegue atualizar esse modelo com temas mais atuais e uma abordagem surpreendentemente consciente. A trama gira em torno de uma rede de cassinos online ilegais e crimes cibernéticos, trazendo para o centro da narrativa ameaças modernas e mais conectadas com o mundo em que vivemos. É inspirado inclusive em um caso real que ocorreu na Tailândia, onde sul-coreanos sequestraram e exploraram alguns programadores para operar um site de apostas ilegais.

E mesmo mantendo o espírito de filme brucutu raiz, o longa ainda se distancia do machismo que tanto marcou as produções de ação daquela época. Aqui, a masculinidade não está associada à grosseria ou ao desrespeito, mas sim à coragem, ao humor e à força usada com propósito. É um filme que sabe de onde veio, mas entende muito bem o tempo em que vive.
Apesar de lembrar John Wick à primeira vista, afinal de contas, estamos falando de um filme de pancadaria com um protagonista implacável, Força Bruta: Punição segue um caminho diferente. Enquanto a franquia estrelada por Keanu Reeves adota um tom mais sombrio e estilizado, com um universo próprio cheio de regras e códigos, a produção sul-coreana aposta em um estilo mais simples, onde há violência, mas não uma ultraviolência.
As sequências de luta em Força Bruta: Punição são excelentemente filmadas, que inclui efeitos sonoros propositalmente exagerados, que amplificam o impacto dos golpes e arrancam risadas do público. O ritmo acelerado é mantido durante todo o longa, mas ao mesmo tempo a direção sabe trabalhar as pausas. O resultado é uma experiência divertida, envolvente e leve, que não tenta reinventar o gênero, mas sim celebrá-lo com personalidade.
Contudo há pontos fracos. A dicotomia elementar entre herói e vilões é clara: Ma Dong-seok é o símbolo da justiça, enquanto os antagonistas (destaque para Kim Mu-yeol) são caricatos em sua maldade e ganância, o que pode tirar um pouco da complexidade da narrativa. Essa escolha, embora eficaz dentro do estilo proposto, pode soar previsível para quem busca algo mais desafiador. O longa não tenta reconstruir a roda, nem se propõe a isso, mas ao seguir tão fielmente a cartilha do bem contra o mal, acaba limitando o espaço para camadas mais profundas. Ainda assim, dentro do que ele promete, entre socos precisos, boas risadas e uma direção ágil, o resultado funciona com competência.
E apesar desta energia e habilidade com que conduz sua trama, Força Bruta: Punição ainda escorrega um pouco em seu desfecho, que não é necessariamente ruim, apenas sem o impacto que a história parecia indicar. É um encerramento funcional, que cumpre o que precisa, mas que talvez deixe uma sensação de que havia espaço para algo mais marcante e com mais tensão.
Voltando aos pontos positivos, o filme conta novamente com a direção segura de Lee Sang-yong, que esteve à frente dos dois longas anteriores. Ele demonstra domínio sobre o universo da franquia e conduz a história com ritmo e personalidade. O elenco, por sua vez, reforça ainda mais a força do conjunto: com atuações carismáticas e bem dosadas, os personagens criam um grupo coeso e cheio de química. Mesmo com Ma Dong-seok no centro de tudo, há espaço para que os coadjuvantes se destaquem, tornando a jornada mais rica e envolvente.
No fim das contas, Força Bruta: Punição entrega exatamente o que se espera: é um filme que sabe rir de si mesmo, sem nunca perder a eficiência nas cenas de ação. Mesmo com seus tropeços pontuais, como a resolução menos impactante ou a simplicidade narrativa, o longa se sustenta com carisma, ritmo e uma compreensão muito clara do que quer ser: entretenimento direto, empolgante e acessível. A diversão está garantida!

PS: Força Bruta: Punição quebrou recordes ao alcançar 1 milhão de espectadores em apenas dois dias nos cinemas da Coreia do Sul, chegando a mais de 4 milhões em apenas cinco dias, consolidando-se como um dos filmes de ação mais populares do país.
Outro PS: Há planos de seguir com esta franquia até o oitavo filme, que venham então!
Mais um PS: O que eu ri com “sincronizar com o Cláudio”, se preparem para esta piada!
Último PS: Uma boa notícia é que não é necessário ver os filmes anteriores para entender esse, tudo está muito bem contextualizado.
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