Fire Emblem Engage e 30 anos dessa história

Antes de falar de Fire Emblem Engage, um pouco de contexto. Lá pra idos de 2004 eu fui apresentado ao maravilhoso mundo da emulação. Um amigo me emprestou um CD com uma pasta chamada GBA, um executável que tinha o ícone do famoso Game Boy Advance roxo, e uma pasta chamada ROMs onde haviam arquivos de Pokémon Saphire e Pokémon Ruby. Foram bons meses jogando ambos, discutindo times na escola, estratégias e até teorias sobre um possível novo jogo. Aquele emulador foi minha vida por, acho que é seguro afirmar, alguns anos.

Uma das graças do emulador, quando eu descobri isso, é que eu não estava preso àquelas ROMS que eu tinha recebido. Eu podia conseguir mais arquivos! E, eu não vou abordar nesse texto toda a questão da legalidade da emulação, mas eu embarquei em uma jornada muito da interessante, e houveram alguns jogos que prenderam a minha atenção. Um deles foi Final Fantasy Tactics Advance e outro, no mesmo estilo de combate, mas muito mais simples no quesito gráfico, foi um tal de Fire Emblem.

Imagem do Gameboy Advance, em sua tela, uma cena de Fire Emblem The Sacred Stones
Fire Emblem The Sacred Stones – Na época, emulado, hoje está no Nintendo Switch Online!

30 anos de história

O jogo que eu joguei no Emulador era Fire Emblem, de 2004. Esse era, na verdade, uma entrada de uma franquia de 14 anos antes, lançada exclusivamente no Japão, da Intelligent Systems. Fire Emblem foi mais um dos jogos japoneses que ficaram de fora do ocidente por que julgaram que o jogo era muito complicado para vir para cá. Só sendo lançado quando os fãs ocidentais demonstraram interesse pelo personagem Marth, que era um dos personagens jogáveis de Super Smash Bros. Melee, de 2001.

O jogo era simples, não negava as origens do Famicom nem exigia demais do hardware do portátil Game Boy. O mapa era visto de cima, as sprites dos personagens eram simples e demonstravam o design eficaz que só a limitação nos proporciona. Rapidamente o jogo deixa claro que a história é o ponto forte, mas a jogabilidade possui uma profundidade própria, com o seu triângulo de armas deixando o jogo bem estratégico. Espada bate Machado, Machado bate Lança, Lança bate Espada. Simples, certo?

Essa simplicidade é justamente o brilho que sustentou a saga por três décadas.

A jornada até aqui

Desde o Famicom, Fire Emblem teve jogos lançados para quase todos os consoles principais da Nintendo, faltando apenas o 64 e o Wii U, mas se beneficiou muito dos consoles portáteis da empresa, tendo grande sucesso no que quase foi o último jogo da série, Fire Emblem Awakening, de 2013 para o 3DS.

Em julho de 2019, a Intelligent Systems lançou Fire Emblem Three Houses para o Nintendo Switch. Um ano depois, o mundo entraria em um período complicado, e o Switch se tornaria ainda mais popular no período de isolamento. O que fez com que muitas pessoas tivessem um primeiro contato com esse que foi um jogo extremamente bem recebido, por sua história rica e personagens marcantes.

Mas até agora não entramos no assunto principal desse texto, não é mesmo?

Pois bem. Em 2023 a Intelligent Systems lançou para o Switch mais um jogo da série Fire Emblem. Denominado Fire Emblem Engage, esse jogo trazia como diferencial a bagagem de ter toda a história de 3 décadas de Fire Emblem consigo. Aproveitanto o que Three Houses havia trazido de bom para a série, e melhorando o que já era tido como bom na série! Apenas sucesso, certo? Eu, pelo menos, pensava isso.

Poster de Fire Emblem Engage
Os cabelos são esquisitos… mas tem explicação, Eu não disse que é boa…

A isca da nostalgia

A premissa de Engage se dá com os anéis dos antigos heróis. Cada anel carrega consigo o espírito de um herói de outro mundo. Marth, o protagonista do primeiro Fire Emblem, é o espírito guardião do anel de Alear, nosso personagem jogável. Alear que pode ser do sexo masculino ou feminino (o que, verdade seja dita, impacta pouco ou nada) é filha da Dragão Divino Lumera, sendo ela mesma um dragão.

Alear desperta após mil anos, tendo caído na luta contra o Dragão Caído Sombron. Na companhia de duas crianças e um cavaleiro que atuavam como seus guardiões durante esse sono, Alear só sabe invocar o espírito de Marth de seu anel, e, juntos, Alear e Marth conseguem afastar a ameaça que se aproxima deles e de Lumera, usando os aneis dos herois de outrora, realizando fusões com Marth, Lyn, Roy, Sigurd e outros herois da série, ao todo, são 12 emblemas que acompanham a jornada. No continente de Elyos, 6 ficavam sob os cuidados de Lumera, e outros 6 estavam com os nobres dos reinos.

É fácil enxergar como, caso você seja nostálgico da série, esse argumento pode ser interessante para te trazer para FE Engage. É uma nova chance de rever e rejogar com os personagens clássicos que você não vê, muitas vezes, há mais de dez anos. Eu passei sete parágrafos no começo desse texto para falar sobre como a história e a jogabilidade são pontos importantes dessa franquia. Fire Emblem Engage refina e muito a jogabilidade da série, o jogo é mais fluido, o combate mais rápido, dinâmico e bem agradável, se você veio de Fire Emblem Three Houses, vai aproveitar bastante…

Saudades Byleth 💔

Mas a história…

Os problemas…

A história é fraca.

Não apenas isso, é uma queda de qualidade vertiginosa perto do que foi o antecessor. Three Houses tinha uma história aprofundada guiada por personagens interessantes, ricos e com mais do que uma camada. Tudo isso parece que foi perdido em Fire Emblem Engage.

Existem reviravoltas na história. Sim, mas elas são fracas. Os personagens não são interessantes o suficiente para sustentar a jornada. O que é um problema para um jogo que se baseia em pouco mais de 20 batalhas táticas, coladas pela história.

Os aneis de Engage, trazem mais uma camada de profundidade no combate. Fora dele, representam a motivação da jornada de Alear. Jornada essa que se extende por aproximadamente 40 horas, talvez um pouco mais. Alear precisa evitar que Sombron ressurja, e corrompa os anéis e seus herois. Ao longo da jornada, vai encontrar aliados, inimigos, sofrer perdas e traições e encontrar novos companheiros em lugares improváveis.

Sem Spoilers!

Apesar do jogo ter dois anos de idade, eu não sou fã de fazer Spoiler em texto de resenha. Mesmo que eu esteja aqui ativamente falando que a história é a parte fraca do jogo, não vou propositalmente estragar a experiência de ninguém. Mas o que acontece com essa jornada dos emblemas, até mesmo o desfecho de Alear, é de fazer o jogador que estava esperando mais da história fazer a cara do Michael Scott.

Michael Scott fazendo cara de sofrimento

Outra questão, e aí vem do mal da expectativa, é que desde FE Awakening, do 3DS, Fire Emblem implementou mecânicas sociais que, em Three Houses, chegaram a um ponto que muitas pessoas (eu incluso) consideram ótimo. Em Fire Emblem Engage, existem os níveis de Supports, que representam as relações entre os personagens, cada nível tem uma historinha acompanhando, em geral, seguem a estrutura de:

C – Personagens interagem inicialmente;
B – Personagens tem algum tipo de conflito
A – Persongens resolvem o conflito e se tornam companheiros

O problema é que isso tudo é tão raso… Mesmo as atividades que os personagens realizam em Somniel (o castelo voador onde Alear dormia) não aprofundam muito os personagens, apenas trazem alguns mini jogos, ou cenas de interação. Tudo o que não é batalha, nesse jogo, é tão mais fraco que o que a Intelligent Systems já nos entregou que é complicado de engolir.

Alear acariciando a criatura que também se chama Somniel, em Somniel
Acabou uma batalha super emocionante? Minigames em Somniel antes de outra batalha emocionante!

A parte boa…

Fire Emblem Engage se sustenta em dois principais pilares, um dos quais eu passei os últimos parágrafos reclamando bastante. Já o outro…

Bom, a jogabilidade é o ponto alto do jogo. Nesse ponto, Tsutomu Tei e Kenta Nakanishi souberam trabalhar e muito bem. Os diretores do jogo não são novos na franquia Fire Emblem, mas foi o primeiro jogo que dirigiram. Conseguiram mostrar conhecimento da estrutura das batalhas, trazendo dinamismo, emoção e estratégia ao combate tático, estilo que poderia facilmente ficar moroso sem o devido cuidado.

As melhorias de qualidade de vida introduzidas em jogos anteriores da série, como modo Casual e replay de turnos, permanecem presentes, e eu me peguei utilizando mais de uma vez o replay de turnos para não perder uma unidade que eu havia colocado em uma situação perigosa, uma vez que a série Fire Emblem é famosa por seu modo de morte permanente de unidades.

Os emblemas aqui oferecem mais possibilidades ao jogador, que pode ter uma unidade de lança, por exemplo, se tornando uma unidade de machado com um bônus avassalador e um golpe poderosíssimo, além de uma habilidade especial que pode ser usada como se fosse um Ultimate, e, muitas vezes, vai decidir uma luta mais difícil, ou quebrar a barra de energia inteira do oponente.

Byleth, personagem de Fire Emblem Three Houses, como espírito do Emblema de Engage
Byleth usa a Sword of the Creator em seu Paralogue e em Three Houses, em Engage ele usa… SOQUEIRAS

Faca de dois gumes

O jogo abusa da mecânica de quebra, permitindo que os jogadores usem o triângulo de armas para evitar contra ataques e rodeando os oponentes, para que mais golpes em cadeia sejam realizados. É claro que os oponentes também podem utilizar essas mecânicas, e, se você não tomar cuidado, vai ver seus personagens rapidamente ficando sem pontos de vida, quando um oponente quebra a sua postura, e outros tantos aproveitam a brecha para atacar sem risco. É verdadeiramente assustador quando acontece.

Ativar o Engage na batalha também modifica a aparência do personagem, muitas vezes ganhando uma aura de espadas, levitando no campo e, em um caso muito específico (e incômodo, admito) ganhando turbinas a jato! Os oponentes também possuem emblemas Engage em determinadas lutas, o que aumenta a complexidade.

Existem ainda, para os saudosos, batalhas de Paralogue, que servem para aprofundar o seu laço com os heróis dos anéis. Essas batalhas são reencenações de batalhas clássicas dos jogos de onde os personagens vieram. Então, no meu caso, foi extremamente satisfatório reviver a Batalha da Tumba Sagrada de Fire Emblem Three Houses, para desbloquear o nível máximo com Byleth.

Conclusões

Eu comprei Fire Emblem Engage na semana de lançamento empolgado por Three Houses, e tive baques com a qualidade da história e dos personagens. Mas, o combate é extremamente satisfatório. O bastante para me empolgar e retornar ao jogo e finalizar ele.

Fico no aguardo dos próximos jogos da Intelligent Systems, e espero que tragam novamente artistas como Toshiyuki Kusakihara e Genki Yokota na direção dos projetos. Esse último foi produtor de jogos muito bons como Xenoblade Chronicles X desse ano. Então ao menos podemos esperar que ele saiba o que está fazendo.

Recomendo que quem gosta da série jogue o antecessor, Three Houses, mas, se quiser mais batalhas e não ligar tanto para a história, pode experimentar Engange que, pelo menos no quesito combate tático, o jogo ainda performa muito bem.

Arte dos herois dos emblemas em estilo de mural
30 anos de história, ainda tem lenha pra queimar nessa franquia!

Ficha Técnica:
Nome – Fire Emblem Engage
Lançamento – 20/01/2023
Desenvolvedora – Intelligent Systems
Diretor – Tsutomu Tei, Kenta Nakanishi
Jogado em – Nintendo Switch

Posts Relacionados:

The King Of Fighters XIII Global Match Chega ao Steam com Novidades Empolgantes!

RailGods of Hysterra: Construa seu Trem Vivo e Sobreviva ao Horror Lovecraftiano

Diversão Offline 2025: Ingressos Já Estão Disponíveis!

Não esquece de seguir o Universo 42 nas redes sociais:

Instagram YouTube Facebook

Nerd: Matheus Farina

Filho do verão, é apaixonado pelo inverno. Descobriu que é possível ganhar dinheiro na internet e tá tentando fazer funcionar desde então. Joga videogame como profissão e trabalha como Hobby. Tem um sério problema de arrumar suas prioridades.

Share This Post On