Falling – Ainda há Tempo (esse subtítulo é péssimo) é o filme de estreia da direção do Viggo Mortensen, aqui ele presta uma homenagem ao seu pai e o longa conta a história de Willis (Lance Henriksen) um senhor com uma certa idade e já apresentando sinais de demência. Ele vai passar uma semana na casa de seu filho John (Viggo) para que este cuide dele. John mora com seu marido, filha e logo nos primeiros minutos do filme vemos que essa relação não será nada fácil: Willis é beberrão, machista, LGBTfóbico, xenofóbico, racista e saudoso da época em que as pessoas “sabiam o seu devido lugar”.
O filme mostra essa dualidade de um senhor retrógrado em meio à uma família progressista e neste sentido, o filme acerta na temática, muito atual, mostrando o mundo polarizado, mas com questões muito mais importantes e com as pessoas menos favorecidas pela sociedade com maior poder de voz.
E a intenção de Viggo no longa é muito boa, mostrando que as pessoas mais conservadoras devem se atualizar para o mundo atual, que toda essa resistência ao novo é uma bobagem e que não importa que “na minha época era melhor”, afinal, ela já passou.
As atuações de Lance e Viggo são muito competentes, embora não sejam brilhantes e não dá para dizer que a convivência deles seja uma química de fato, mas de um conflito que vai desde o início até a última tomada do filme.
E é justamente aí que começam os problemas de Falling: existe uma reflexão sobre os temas propostos, mas com quase tudo apresentado de forma superficial e muita coisa vista em tela já foi bem abordada em filmes muito melhores, como Gran Torino, de Clint Eastwood ou A Última Ceia, com a Halle Berry.
Além da dupla de protagonistas, há outros personagens que compõe o núcleo familiar, mas não são bem explorados, sobretudo com a personagem Sarah (Laura Linney), irmã de John, sempre citada, mas que aparece quase como uma ponta lá na metade do filme em uma cena de almoço em família.
Fora essa cena, todos os coadjuvantes sempre estão trabalhando ou estudando. É um bom recurso para reduzir os gastos, mas que artisticamente ficou péssimo.
Por falar em finanças, Falling é um filme independente em sua essência, utilizando praticamente os mesmos cenários como a casa na maior parte da projeção, mas também o aeroporto no início e o hospital no terceiro ato – e que faz o proctologista é ninguém menos do que o cineasta David Cronenberg, que já trabalhou com Viggo em Senhores do Crime, Marcas da Violência e até hoje são amigos.
O próprio Viggo teve que fazer a função de ator também para reduzir os custos, que após o sucesso com a trilogia Senhor dos Anéis, vem se mostrado um grande ator dramático.
Outra coisa que prejudica a experiência com o filme é o personagem Willis, muito unidimensional, dificilmente alguém vai torcer por ele e mesmo com a fragilidade da doença, não vai gerar empatia com o público.
Falling é um filme que poderia ser bom, tem uma boa história e elenco, mas que dificilmente o espectador se lembrará quando terminar a projeção em uma obra infelizmente rasa, que tenta, mas não consegue. Só queremos ver um grande filme e isso independe de ideologia.
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